Derrotado e dividido, PSDB tenta “refundação” por nova imagem
O PSDB realiza nesta quarta-feira, em Maceió (AL), reunião dos oito governadores eleitos pela legenda em 2010 para mais um debate, entre muitos que a direção do partido, derrotado pela terceira vez consecutiva faz, para se reconfigurar e adotar nova imagem. A essência neoliberal, porém, não muda.
Por José Reinaldo Carvalho*
Publicado 15/12/2010 09:17
No centro da discussão, um tema que se tornou palavra de ordem para o senador eleito por Minas Gerais, Aécio Neves, e um anátema para o candidato presidencial derrotado, José Serra: a refundação do partido. Os dois se bicam e depenam pelo controle da legenda neoliberal.
Mais do que à beira de um ataque de nervos, os tucanos se encontram diante de profundo abismo. Debatem sua identidade, plataforma, métodos, filiações e meios de atuação numa situação desfavorável. Enfraquecidos pela derrota nas urnas, com seus aliados (DEM e PPS) em frangalhos, se lançarão à difícil missão de organizar a oposição conservadora e neoliberal à presidente Dilma, que assume no dia primeiro de janeiro de 2011 com forte respaldo popular e uma base política que, embora diversa em sua composição, é suficientemente ampla e numerosa para lhe assegurar um bom começo.
Os tucanos vão tentar superar o handicap na esfera nacional mobilizando as máquinas políticas e administrativas que controlam em oito estados, entre estes os mais fortes economicamente, como São Paulo e Minas Gerais.
Na reunião de hoje os tucanos tentarão definir a linha de oposição ao governo de Dilma Rousseff. Seus organizadores prometem sair do convescote com “discurso unificado”, uma “pauta de mobilização social” e uma estratégia de conduta vis à vis o movimento social. No horizonte dos seus idealizadores, à frente dos quais emerge a liderança de Aécio Neves, está a reformulação programática e a pavimentação de um caminho para as campanhas de 2012 (prefeitos e vereadores) e de 2014 (congresso, governadores e Presidência da República).
A reunião de Maceió corre o risco de ser mais uma montanha parindo rato, pois à falta de ideias consistentes, lançam-se os tucanos à tarefa de requentar um projeto do senador cearense derrotado, Tasso Jereissati, que cria uma proposta “complementar” ao Bolsa Família, incluindo platitudes como ampliação do valor do benefício para crianças com bom desempenho escolar e o pagamento do 13º, ideia que Serra lançou demagogicamente durante a campanha e caiu no vazio. A fragilidade da proposição tucana fica à mostra quando se constata que nem terá condições de se transformar em iniciativa, porquanto no momento certo o governo fará aperfeiçoamentos no Bolsa Família, no marco da realização da meta central do governo Dilma – a erradicação da miséria.
A saga dos tucanos rumo ao nada ou ao abismo prosseguirá, segundo se anuncia, com a aprovação de propostas de “fortalecimento de relações com o movimento sindical”. Com DNA e perfil conservadores e neoliberais, não tem o PSDB a menor hipótese de êxito na empreitada. O movimento sindical capaz de mobilização social ampla está sob a influência de forças de esquerda, nomeadamente o PT, o PCdoB, o PSB e o PDT. As bases sindicais tucanas são rarefeitas e conotadas como pelegas.
Realizado numa capital do Nordeste, região em que Lula desfruta dos maiores índices de popularidade e que deu vitória maiúscula a Dilma no pleito presidencial, o encontro dos governadores do PSDB proporá a criação de uma agência regional de desenvolvimento econômico e social. É mais um factóide que cairá no vazio e terreno de difícil concorrência com a agenda do governo, principalmente se se considera que à frente dos principais estados da região – Bahia, Pernambuco e Ceará – encontram-se forças políticas alinhadas com a presidente Dilma e que põem em prática forte agenda desenvolvimentista.
De resto, a reunião de Maceió será mais um round da dilacerante luta interna do PSDB. Tudo indica que o candidato derrotado, José Serra, será relegado ao ostracismo. Jogará um papel cada vez mais secundário na luta política. Por isso, luta desesperadamente para exercer o controle do partido.
Aécio Neves, a liderança tucana emergente do momento, tenta com a proposta de “refundação” preparar o PSDB para os novos desafios. Acentuará as tintas “social-democratas”, mas serão só as tintas. Por dentro, uma velha edificação de direita, da qual o ex-governador de Minas será o dono de turno. De mordomo, alguém como Sérgio Guerra poderá ser funcional. Para decorar, FHC ficará bem, emoldurado e pendurado na parede da sala de visitas.
*Editor do Vermelho