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José Monserrat Filho: O céu é o limite

O Brasil será o primeiro país do Hemisfério Sul a associar-se à ESO e seu 15º país membro, ao lado de Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Holanda, Itália, Portugal, Reino Unido, República Tcheca, Suécia e Suíça. Terá os mesmos direitos e regalias de todos eles, passando a ser co-proprietário dos bens e instalações da ESO, podendo usá-los em pé de igualdade com os demais países membros

Por José Monserrat Filho*

Este é um dia histórico para os cientistas brasileiros e, em especial, para os nossos astrônomos. O Brasil está assinando o acordo de adesão à Organização Europeia para a Pesquisa Astronômica no Hemisfério Sul (ESO), que construirá, no norte do Chile, o maior sistema de observação astronômica de todos os tempos, o Telescópio Extremamente Grande, conhecido globalmente pela sigla E-ELT (European Extremely Large Telescope). O acordo entrará em vigor depois de ratificado pelo Congresso Nacional, ao qual o Governo brasileiro deve enviá-lo após o recesso parlamentar.

Negociado ao longo de vários meses, com muitas idas e vindas, o acerto afinal alcançado é particularmente conveniente para o nosso lado. A ESO compreendeu que o Brasil, mesmo com os progressos registrados nos últimos anos, tem uma situação econômica distinta dos países europeus e faz jus a condições financeiras especiais de ingresso na organização.

Daí que os custos de nossa filiação foram fixados em 250 milhões de euros, a serem pagos em 11 anos. E ficamos isentos da cota de contribuição adicional relativa às obras de construção do superobservatório. Ao mesmo tempo, as empresas brasileiras capazes de realizar tais obras serão altamente beneficiadas, tanto por serem muito competitivas, como por estarem a um passo do Chile, quando não por já trabalharem naquele país, com reconhecida posição de destaque.

De qualquer modo, é um enorme investimento, inédito na vida científica e tecnológica brasileira. Seus benefícios a curto, médio e longo prazos devem ser melhor conhecidos pela opinião pública e com certeza ajudarão os brasileiros a saber bem mais sobre nossas reais potencialidades, nossos talentos e nossa decisão de conquistar novo patamar de desenvolvimento e justiça social no concerto das nações.

O Congresso Nacional, ao apreciar o acordo de hoje, será uma instância pública privilegiada para promover esta consciência que se projeta em um futuro que precisamos antecipar, para o bem e o interesse vital das gerações de hoje e amanhã.

O Brasil será o primeiro país do Hemisfério Sul a associar-se à ESO e seu 15º país membro, ao lado de Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Holanda, Itália, Portugal, Reino Unido, República Tcheca, Suécia e Suíça. E terá os mesmos direitos e regalias de todos eles. Seremos co-proprietários de todos os bens e instalações da ESO, que utilizaremos em pé de igualdade com os demais países membros.

Isso certamente dará um impulso sem precedentes ao avanço da astronomia no país e também da nossa indústria de alta tecnologia. Teremos oportunidades científicas, tecnológicas e de inovação como nunca antes. Estaremos convivendo diuturnamente com a vanguarda do mundo num setor que só faz crescer. Tudo vai depender muito mais de nossa própria determinação, competência, criatividade e força de iniciativa.

Estamos condenados a pensar grande. Este é um dos maiores desafios do século XXI. Pensar grande para assegurar a prosperidade de todos os povos e países, e viabilizar o planeta, a humanidade e a vida que nele floresceram como incrível exceção na infinitude do Universo – pelo menos até agora.

O acordo de entrada na ESO poderá ser passaporte para um céu sem limites e a uma Terra cultivada com inteligência, conhecimento e grandeza humana.

* José Monserrat Filho é chefe da Assessoria de Assuntos Internacionais do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT).

Fonte: Jornal da Ciência