Lula diz que apoiará Dilma nos momentos de acertos e erros
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quinta-feira (30) que sua sucessora, Dilma Rousseff, tem o direito de acertar e errar na Presidência, e que estará ao seu lado para apoiá-la. Lula concedeu sua última entrevista como presidente à TV Cidade de Fortaleza, emissora da Record no Ceará.
Publicado 31/12/2010 14:13
"A única coisa que eu quero fazer é não dar palpite na governança da Dilma. Ela toma posse, ela é a presidente da República, ela tem o direito de fazer o que ela bem entender, ela tem o direito de acertar 100%; se errar, também, ela tem direito. E eu estarei do lado dela apoiando para que ela esteja sempre fazendo as coisas certas", afirmou.
O presidente afirmou ter expectativa de que Dilma faça um governo "excepcional". "Ela está qualificada, ela conhece o Brasil, ela conhece os programas porque ela ajudou a elaborar todos os programas que nós fizemos juntos. Portanto, ela está pegando um carro que não está, como eu peguei, estacionado ou andando de marcha a ré. Ela está com o carro andando a 120 por hora, ela pode apertar um pouquinho, chegar a 130, 140, ela pode chegar a 90 quando precisar", afirmou.
Sobre o fim dos seus oito anos no poder, Lula disse que a sensação é de dever cumprido. "O sentimento é de missão cumprida. Eu acredito que, quando a gente olha o que prometeu em 2002 e prometeu em 2006, me considero um presidente da República que concluí e cumpri com aquilo que eu assumi de compromisso com o povo brasileiro, sabendo que nós fizemos muito, mas sabendo também que ainda falta muita coisa a ser feita no Brasil. Com a consciência tranquila de que você não consegue resolver o desmando de 500 anos em oito anos", afirmou.
Questionado sobre o que não conseguiu realizar como presidente, Lula disse que gostaria de ter inaugurado a rodovia Transnordestina. "O projeto original era para ser inaugurado no meu governo. Agora, é muito difícil, porque você sofre. Você sofre com o Ibama, você sofre com o Ministério Público, você sofre com as disputas processuais, você sofre com uma série de coisas, que uma obra que você poderia inaugurar em um mês, às vezes você leva um ano para inaugurar", disse.
Depois da Presidência: família, futebol e chuleta
O presidente comparou o processo de deixar o governo à "água assentando em um pote". "Quando morava em Garanhuns, a gente ia ao açude pegar água, pegava água barrenta, separava as fezes da vaca, do cavalo, das cabritas. A gente pegava água com caramujo, com tudo, e colocava num pote para assentar. Aquela sujeira toda assentava e ia tirando com uma canequinha para beber. Então, quando assentar, eu vou sair do governo, daqui a uns seis meses mais ou menos eu vou ter noção", disse.
Lula afirmou também acreditar que terá mais liberdade quando deixar o cargo. "Eu, por exemplo, vou poder chegar em um bar, encontrar um amigo, (…) comer uma chuleta, tomar uma cervejinha, sem a preocupação de que tem alguém com uma máquina fotográfica. Aí, até eu vou querer ser fotografado", disse.
"Faz tempo que eu não tenho uma vida normal. Desde os 30 anos de idade que eu faço política, e você sempre preocupado, reunião no sábado e domingo, dia e noite. Eu nunca tive final de semana com a família, então agora eu vou ter um pouquinho de final de semana com a família, e vou viver um pouco a minha vida, e vou continuar trabalhando", afirmou.
O presidente ainda manifestou desejo de ir aos jogos de seu time, o Corinthians. "Eu quero ir ao estádio, eu quero ir na arquibancada. A minha maior sensação não é ficar numa cadeirinha cativa, não. É no meio do povão, ver o povão batucar, suar, gritar, xingar, e eu também xingar", afirmou.
Fonte: Terra