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Comissão da Verdade: Dilma entre o general e a ministra

Com seu costumeiro tom irônico, o jornalista Paulo Henrique Amorim pergunta em seu blog, o Conversa Afiada: “Quem fala pela presidenta: general ou Maria do Rosário?”.

- Dida Sampaio/AE

A pergunta se refere às declarações díspares que esses atores deram durante a posse de seus cargos. O general José Elito Siqueira é o novo chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) da Presidência da República. A capa da Folha desta terça-feira (4) traz uma opinião manifesta pelo general horas após a declaração da nova secretária de Direitos Humanos, Maria do Rosário, reafirmar a importância de se constituir a Comissão da Verdade.
O general afirmou em discurso que “Os desaparecidos são um ‘fato histórico’, do qual não temos que nos envergonhar ou nos vangloriar”.

A declaração foi dada durante a cerimônia de posse. O general, que comandou em 2006 a Força de Paz no Haiti, chamou de "situações isoladas do passado" os alvos da comissão, mostrando-se contrário à sua instalação.

Veemente

Já a nova ministra, Maria do Rosário, assumiu a Secretaria de Direitos Humanos com um discurso forte, pedindo ao Congresso que aprove a formação da Comissão da Verdade e defendendo que "O Estado brasileiro tem que resgatar sua dignidade em relação aos mortos e desaparecidos na ditadura. (…) Não se trata de revanchismo". A nova ministra prometeu ainda implementar o Plano Nacional de Direitos Humanos, que foi fruto de polêmica, inclusive durante a campanha presidencial, e fez questão de citar ainda a recente definição da Corte Interamericana de Direitos Humanos, que entendeu que o Estado brasileiro tem uma dívida histórica no que diz respeito aos desaparecidos na Guerrilha do Araguaia.

Apesar da polêmica, os militares consideraram o discurso de Maria do Rosário “conciliador”. Oficiais se disseram “animados” com o “aceno” que a nova ministra fez ao setor, lembrando dois pontos importantes do seu discurso: primeiro, ela ter ressaltado que não estão personalizando ou procurando culpados específicos. Segundo, o fato de ela responsabilizar o Estado, pois isso já está em processamento em diversas comissões instaladas. Destacaram ainda que consideram importante ela reconhecer que as Forças Armadas estão em busca da democracia, ao lado da sociedade civil, e que não se trata de revanchismo.

Diante da plateia em que estava o ministro Nelson Jobim (Defesa), ela afirmou que as Forças Armadas são "parte da consolidação da democracia". "Certamente entre as Forças Armadas existe também o desejo de que tenhamos juntos esse processo constituído."

Jobim afirmou que não se opõe à criação da Comissão da Verdade, justificando que participou da elaboração desse texto.

As declarações de Jobim

O questionamento de Paulo Henrique Amorim vem do fato de ter sido Jobim o principal elemento da resistência à revisão da Lei da Anistia. Amorim chama o ministro de “Johnbim” e o acusa de ser “protegido” do embaixador norte-americano, por conta de revelações recentes do portal WikiLeaks acerca de declarações desastrosas que o ministro teria dado, durante a gestão Lula, em reunião com diplomatas dos Estados Unidos.

O jornalista vai além: “dizem que a presidenta Dilma reuniu todos os ministros da área econômica, mais o presidente do Banco Central, e disse que não quer divergência pública sobre a política econômica. Seria interessante saber quem fala pela presidenta: se Rosário ou se o general que trabalhou com Fernando Henrique e por ele foi promovido”.

Em seguida, Amorim retoma a questão: “A presidenta disse duas vezes na posse que se orgulha de ter enfrentado o regime militar na luta clandestina. Quem hoje fala por ela ?”

Da redação, Luana Bonone, com Conversa Afiada, Folha de S. Paulo e Estadão