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ONU aponta estagnação dos ricos e sério risco de recessão global

As Organizações das Nações Unidas (ONU) consideram que, apesar da aparente recuperação da economia mundial, as perspectivas se mantêm incertas e existem sérios riscos que poderiam levar o mundo a uma nova e mais profunda recessão, conforme um instigante relatório divulgado nesta terça (18).

"A imagem que aponta o relatório para este ano é bastante otimista e bastante promissora, mas a verdade é que a recuperação não é autossuficiente e há muitos riscos que ameaçam a economia mundial", assinalou em entrevista coletiva Heiner Flassbeck, diretor da divisão de globalização das estratégias de desenvolvimento da Conferência da ONU para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad).

Potências capitalistas estagnadas

“As grandes economias dos Estados Unidos, Europa e Japão estão estagnadas e as economias em desenvolvimento por si só não podem liderar a recuperação. Não vejo quais seriam as forças que nos tirariam da recessão se caíssemos de novo", acrescentou Flassbeck.

"As perspectivas são ainda incertas e subsistem sérios riscos. O espírito de cooperação entre as principais economias se debilita, reduzindo consideravelmente a eficácia da resposta à crise", assinala o relatório, intitulado "Situação e perspectivas da Economia Mundial 2011".

Ajuste fiscal

"A recuperação pode padecer revezes suplementares se os riscos negativos concretizam-se, de qualquer maneira uma nova recessão ameaçaria Europa, Estados Unidos e Japão", alerta o texto. Para Flassbeck, os principais riscos são a estagnação do consumo privado nos Estados Unidos, Europa e Japão, as estritas medidas fiscais adotadas por muitos países, os níveis de desemprego muito altos e sem sinais de recuperação, e a instabilidade das taxas de câmbio.

"A falta de coordenação das políticas monetárias em particular contribuiu às incertezas dos mercados financeiros", indica o relatório, que sugere medidas para melhorar a situação. O problema piorou com a decisão do banco central dos EUA de emitir mais 600 bilhões de dólares para resgatar títulos públicos da Casa Branca, fato que aumentou a oferta de dólar no mundo e acabou estimulando o que o ministro Guido Mantega apelidou de guerra cambial.

Coordenação internacional

"Para reforçar a recuperação são necessárias medidas de relançamento fiscal, medidas melhor coordenadas das políticas monetárias e reorientadas em direção à criação de empregos e em direção à facilitação de uma economia mundial sustentável e equilibrada. Isto não poderá ser alcançado sem uma melhor coordenação da política internacional". Resta saber se uma coordenação do gênero será possível nos marcos da atual ordem econômica, marcada pelo declínio dos EUA e crescentes contradições entre as nações.

O relatório prevê crescimento da economia mundial de 3,1% no ano de 2011 e de 3,5% em 2012, o que é considerado “insuficiente para recuperar os níveis de emprego antes da crise". Para os Estados Unidos "que sai da recessão mais longa e mais profunda desde a Segunda Guerra Mundial e com ritmo de recuperação mais frágil, nunca antes visto", espera-se um crescimento de 2,2% para 2011 e de 2,8% para 2012.

Perspectivas negativas

As perspectivas são ainda mais negativas para a Europa e Japão. O texto prevê que o Produto Interno Bruto da zona do euro ficará virtualmente estagnado com crescimento de 1,3% em 2011 e de 1% em 2012. "Certos países europeus terão um crescimento ainda mais frágil, sobretudo nos lugares onde a austeridade orçamentária e as taxas de desemprego continuam sendo elevadas reprimindo a demanda interna. Isto sucederá na Espanha, Grécia, Irlanda e Portugal, países submergidos na dívida pública. Suas economias continuarão na recessão e na estagnação no futuro próximo".

Por sua vez, o Japão, "pressionado por uma deflação persistente e uma forte dívida pública, terá um frágil crescimento de 1,1% em 2011 e de 4% em 2012". Os países da Comunidade dos Estados Independentes mais Geórgia terão crescimento próximo a 4% em 2011 e 2012.

Novos motores

"Os países em vias de desenvolvimento continuarão sendo os motores da recuperação mundial, apesar de o crescimento ser limitado a 6% em 2011 e 2012", por causa da estagnação dos países ricos e do fim e reversão das medidas de relançamento, de acordo com o relatório.

China e a Índia seguirão sendo as locomotivas da recuperação, embora seu crescimento não deva ser superior a 7%. América Latina crescerá em média 4%, liderada pelo Brasil "graças a sua forte demanda interna". Para o Oriente Médio e Ásia Ocidental está previsto crescimento de 4,7% em 2011 e de 4% em 2012; e África crescerá a um ritmo de 5% nos próximos dois anos.

Com agências