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Processo de tombamento do Cinema Belas Artes é aberto

Em reunião ordinária na manhã desta terça (18), o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp) decidiu abrir processo de tombamento do cinema Belas Artes, na Rua da Consolação, região central de São Paulo. Com a decisão, o prédio que abriga o cinema está "congelado" – não poderá sofrer reformas sem autorização enquanto o tombamento é analisado, o que deve durar até 90 dias.

Isso deve frustrar, pelo menos temporariamente, os planos do dono do edifício, Flávio Maluf, que rescindiu o contrato de aluguel com o cinema e pretende entregar o espaço para uma loja. Até o momento, no entanto, o fechamento do Belas Artes continua marcado para o dia 27.

A abertura do processo significa que o Conpresp admitiu a possibilidade de o edifício ter valor histórico e cultural e, por isso, precisa de tempo para analisá-lo. Não significa a salvação imediata do Belas Artes; o proprietário pode fechar o cinema e mantê-lo assim enquanto o tombamento é discutido. Mas até a decisão definitiva sair, nenhuma modificação pode ser feita no imóvel – ou seja, uma loja não poderia demolir as salas nem alterar a configuração interna do endereço.

"O dono pode decidir simplesmente fechar o imóvel e não querer nada funcionando naquele espaço. É um direito dele. A direção do Belas Artes, no entanto, irá propor uma renovação de contrato de locação o quanto antes", disse, por e-mail, Léo Mendes, responsável pela programação da sala, após conversar com André Sturm, dono do cinema.

Segundo a assessoria do Conpresp, nos próximos três meses serão realizados estudos técnicos para decisão quanto ao tombamento definitivo. O anúncio de que Maluf pediria o imóvel de volta para alugá-lo a uma loja mobilizou frequentadores do cinema, que organizaram passeatas de protesto. A Associação Paulista de Cineastas (Apaci) e a entidade civil Viva Cultura pediram o tombamento do prédio. O ex-governador José Serra também se manifestou a favor de que o lugar fosse tombado.

Os conselheiros do Conpresp, no entanto, estão longe de ter uma ideia do que fazer com o Belas Artes – muitos deles chegaram a ficar irritados com o lobby de políticos na última semana para proteger o cinema. "Tem muito padrinho, muito cacique, todo mundo falando sobre isso", diz o vereador Adilson Amadeu (PTB), representante da Câmara Municipal no Conpresp.

"Se o governo quer tanto salvar o Belas Artes, por que não colocam lá no prédio do Detran? Precisamos analisar esse tombamento muito bem, afinal, o proprietário vai ficar marcado com isso para o resto da vida. Vamos fazer um estudo detalhado dessa situação, não decidimos nada ainda", disse.

Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, a loja teria oferecido o triplo do valor que André Sturm, dono do cinema, paga a Maluf. O proprietário recebe, atualmente, R$ 60 mil mensais pelo aluguel do prédio. Na reunião de ontem, os advogados de Flávio Maluf afirmaram que apenas buscam a atualização do valor do aluguel do imóvel e que o proprietário será penalizado com o tombamento.

André Sturm, sócio-proprietário do Belas Artes, diz que o dinheiro nunca foi o tema central da discussão. "Já tínhamos acertado a continuidade do contrato, concordamos em pagar mais de aluguel, mas o proprietário disse: "Cinema é decadente, quero colocar uma loja no meu imóvel", e não houve mais diálogo." Maluf não se pronunciou.

Esperança

A abertura do processo de tombamento deu esperança a André Sturm. "Estou muito feliz com a decisão do Conpresp. A mobilização espontânea da sociedade foi incrível e inédita. Não lembro de mobilização por tema relacionado à cultura, antes, na cidade, com tal dimensão", disse, em comunicado.

Até o dia 27, uma retrospectiva de clássicos e filmes cultuados preenche a programação. Hoje, às 18h30, é exibido Noites de Cabíria, de Federico Fellini. Às 21h, passa o espanhol Lúcia e o Sexo, do diretor Julio Medem. Os ingressos para cada sessão custam R$ 10.

Com agências