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Fórum dos ricos é impotente frente à crise da ordem imperialista

Começa hoje, na cidade de Davos (Suíça), a 41ª edição do Fórum Econômico Mundial. Liderado por representantes das multinacionais, o evento deve reunir cerca de 2,5 mil pessoas para debater os desdobramentos da crise mundial do capitalismo, deflagrada pela recessão iniciada no final de 2007 nos EUA, e outros temas da conjuntura.

Por Umberto Martins

Os seis co-presidentes do fórum, diretores executivos de algumas das principais empresas globais, admitiram nesta quarta-feira (26) que o mundo mudou, em decorrência do desenvolvimento desigual. Falaram genericamente na necessidade de “criar novos parâmetros”, mas não se deve esperar que apontem medidas concretas e exeqüíveis neste sentido. Afinal, em Davos reúne-se hoje a razão da crise e não sua solução ou negação.

Vedete

A China, que enviou uma numerosa delegação à Suíça, é a grande vedete. Afinal, a alusão à mudança em curso no planeta, feita pelos dirigentes do fórum, é uma referência ao deslocamento do poder econômico mundial do Ocidente para o Oriente e, principalmente, dos EUA para a China. O fenômeno está associado ao crescimento desigual dos PIBs. Vem rolando há décadas, mas foi evidenciado e alavancado pela crise mundial.

"O centro de gravidade do mundo girou rumo ao sul e ao leste, o crescimento da China não deve ser visto como uma ameaça, mas como uma oportunidade para o resto do mundo. A China cada vez importa mais e cada vez investe mais no resto do mundo e isso é muito positivo", afirmou Wei Jiafu, presidente da multinacional chinesa China Ocean Shipping Group Co.

Duas velocidades

No curso da crise mundial do capitalismo, que ainda não pode ser dada por encerrada, as economias nacionais se comportam de duas formas básicas. A China saiu rapidamente da crise e ainda em 2009 cresceu em torno de 9%, enquanto a União Europeia amargou uma queda e 4% e os EUA recuaram 2,4%. O crescimento da próspera nação asiática foi determinante na recuperação de outras economias consideradas emergentes, cabendo destacar Índia e Brasil. Já as velhas potências capitalistas não conseguiram contornar o pântano da estagnação e estão às voltas com altos índices de desemprego.

"O mundo está crescendo em dupla velocidade, os países em desenvolvimento mais rápido que os desenvolvidos", assinalou Chanda Kochhar, diretora-executiva do banco indiano Icici Bank. Além disto, é preciso acrescentar os problemas decorrentes das medidas adotadas nos países mais ricos, e em especial nos EUA, para resgatar o sistema financeiro e contornar a recessão.

Guerra cambial e crise da dívida

Entre esses desdobramentos, que constituem novos capítulos da novela da crise deflagrada pelos Estados Unidos, incluem-se a chamada guerra cambial e a crise da dívida na Europa. A guerra cambial reflete a derrama de dólares no mundo, fruto da política monetária americana, que provoca inflação e valorização excessiva das moedas nas economias ditas emergentes.

Já a crise da dívida traduz os desequilíbrios fiscais na zona do euro decorrentes das medidas adotadas pelo governo para salvar os bancos. Os pacotes de arrocho fiscal radicalizam a luta de classes no velho continente, aumentam o desemprego e com certeza obstruem o caminho da recuperação econômica.

Não há soluções positivas à vista para os dois problemas e não é de se esperar que eles sejam apontados pelos protagonistas de Davos, que ainda ontem eram fanáticos apologistas da desregulamentação dos mercados financeiros e de outras falácias neoliberais.

Nova ordem monetária

A mudança da realidade econômica e geopolítica, reconhecida por Davos, evidencia a obsolescência da diplomacia do dólar e a crise da hegemonia americana e das potências capitalistas tradicionais (Japão, Alemanha, França, entre outras), despertando a necessidade de uma transição para uma nova ordem mundial. Não se deve deixar de considerar que a crise é também uma crise do modo de produção capitalista. É ilusão esperar soluções definitivas e progressistas para os povos nos marcos do sistema e sob a égide do famigerado FMI.

Entre outras coisas, uma nova ordem mundial pressupõe a substituição do dólar como moeda internacional, o que significa o dobre de finados para a hegemonia dos EUA. Davos terá a ousadia de debater e propor algo neste sentido? É mais que duvidoso, mesmo porque seria preciso combinar antes com Washington.

O chamado Fórum Econômico Mundial reflete as preocupações e os interesses dos grandes monopólios capitalistas, em especial da oligarquia financeira internacional, que cavou, com atos e ideias, o fundo poço da crise mundial. Ele reúne as razões da crise. Não tem as soluções. Não é à toa que, em contraposição ao fórum dos ricos, foi criado o Fórum Social Mundial (FSM), que se reúne em Dakar, no Senegal, nos dias 5 a 11 de fevereiro.

O discurso de Obama

A decadência relativa dos Estados Unidos já não suscita polêmica como antigamente. Foi reconhecida tacitamente pelo próprio presidente Barack Obama no discurso sobre o estado da União, pronunciado na noite de terça-feira (25). Ele aludiu à chamada corrida especial com a União Soviética e lembrou o Sptunik, primeiro satélite artificial lançado em 1957 pelos soviéticos, iniciativa à qual os americanos responderam ampliando os investimentos tecnológicos no setor, criando a Nasa e logrando chegar à lua em 1969, antes da ex-URSS.

Obama acha que é possível repetir o feito, mas a verdade é que os tempos já são outros. O declínio do império tem raízes profundas, associadas ao que Lênin (citando o inglês John Hobson) chamou de parasitismo e ancoradas, hoje, num brutal endividamento. É fato que está jogo, conforme afirmou o mandatário estadunidense, “a posição dos Estados Unidos” como “farol do mundo”. Também neste caso a "solução" não virá do interior do império decadente, onde reside a fonte dos problemas, nem por iniciativa das classes dominantes. A mudança real brotará nas ruas. Virá das lutas populares lideradas pela classe trabalhadora contra o sistema capitalista e a ordem imperialista ancorada no padrão dólar. Ou simplesmente não virá e, neste caso, estaremos condenados à barbárie.