Tunísia emite ordem de prisão contra Bem Ali; protestos continuam
A justiça da Tunísia emitiu, nesta quarta (26), uma ordem internacional de prisão contra o ex-presidente Zine El Abidine Ben Ali, sua esposa, Leila Trabelsi, e outros membros da família que fugiram do país. O ministro da Justiça, Lazhar Karoui Chebbi, quer processar Ben Ali e seu clã por "posse ilegal de bens e transferência de divisas para o exterior".
Publicado 27/01/2011 10:57
A imprensa francesa afirma que Trabelsi, odiada na Tunísia, levou milhões de dólares em ouro. No entanto, o novo presidente do Banco Central do país, Mustafá Kamel Nabli, nega a informação.
Segundo Chebbi, seis membros da guarda presidencial do ex-ditador, que ficou 23 anos no poder, estão sob custódia e deverão ser julgados por "conspirar contra a segurança do Estado e incitar pessoas umas contra as outras com armas".
O ministro ainda informou que 71 pessoas morreram nos protestos contra Ben Ali. "Entre eles 48 foram mortos em um incêndio na prisão em Monastir", ressaltou. Também teriam fugido da cadeia durante os confrontos 11.029 presos comuns, que estavam encarcerados por delitos. Desse total, 1.532 teriam sido recapturados.
Protestos
As manifestações continuaram ontem na Tunísia. As pessoas pedem a saída dos membros do governo que faziam parte do regime anterior. Os confrontos ocorreram em frente ao escritório do primeiro-ministro Mohamed Ganoucchi, que fazia parte do governo de Ben Ali.
Para acalmar a população, o premiê anunciou que vai substituir cinco ministros que pediram demissão. Também haverá outras mudanças, mas não está claro se elas atendem às demandas da população, que protesta diariamente em Túnis. A composição do novo ministério deve ser anunciada hoje.
A população pede a saída do próprio primeiro-ministro, que está na função desde 1999, e dos ministros à frente das pastas de Interior, Defesa, Relações Exteriores e Justiça, todos partidários do antigo regime ditatorial. Fontes próximas ao Executivo descartam, contudo, o afastamento do premiê, mas acreditam que é provável a substituição da maioria dos demais titulates criticados pelo povo, para tentar desarmar os protestos e promover alguma estabilidade.
Além disso, Al-Ghannouchi preencheria cinco cadeiras vagas desde as primeiras renúncias de seu gabinete – três ministros filiados aos sindicatos, um adversário e um da "velha guarda" de Ben Ali" – e substituiria vários governadores provinciais.
A fórmula que parece ganhar força é a de um "comitê de sábios", também chamado de "comitê para a proteção da revolução", que supervisionaria o Executivo e propiciaria o ambiente para organizar as eleições para uma Assembléia Constituinte.
Fontes do âmbito intelectual explicaram à Prensa Latina que este comitê se encarregaria de elaborar um novo código eleitoral, velaria pela transparência das eleições parlamentares e presidenciais, previstas para dentro de seis meses, e também pelo que fosse remetido à Assembleia Constituinte.
Enquanto o governo tenta obter legitimidade, os protestos e a luta entre as forças de segurança e a população permanece na capital e em regiões do interior. Sindicalistas de Sidi Bouzid, a cidade na Tunísia onde começaram os protestos que geraram a revolução no país no mês passado, convocaram uma greve geral contra o governo prevista para hoje.
As autoridades, contudo, decidiram reduzir em três horas o toque de recolher, que é agora das 22h às 4h, na sequência de uma melhoria progressiva da situação de segurança, segundo foi anunciado.
Com agências