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Com ElBaradei no jogo, EUA estão à vontade para rifar Mubarak?

Os Estados Unidos criticam  "ditadores" apenas quando estes não lhe são úteis. Mas quando prestam serviços ao imperialismo, recebem sólido apoio da Casa Branca. O ditador egípcio Hosni Mubarak contava com o apoio americano até agora. Mas com a entrada de Mohamed ElBaradei no jogo, o governo Obama já se sente seguro para rifar Mubarak e colocar o ex-chefe da AIEA em seu lugar? Esta é a pergunta que os analistas mais fazem neste momento.

O opositor Mohamed ElBaradei (foto), encarregado de negociar com o regime do presidente Hosni Mubarak, juntou-se na noite deste domingo (30) à multidão que se concentra na Praça Tahrir, para pedir a renúncia do presidente Hosni Mubarak.  O local é o centro de protestos na cidade. ElBaradei desobedeceu o toque de recolher que começou às 16h (12h, em Brasília).

Ele prometeu aos manifestantes que "a mudança chegará". "Vocês reconquistaram seus direitos e o que começamos não pode ter volta", discursou aos milhares de manifestantes presentes. "Temos uma demanda principal – o fim do regime e o começo de um novo estágio, um novo Egito".

ElBaradei saiu de um carro perto da praça, cujo acesso era controlado por soldados em tanques de guerra. Ele caminhou rodeado por manifestantes que gritavam "O povo quer a queda do presidente" e "Vamos sacrificar nossa alma e nosso sangue pelo país".

As forças de oposição do Egito, lideradas pela Irmandade Muçulmana, encarregaram o dissidente Mohamed ElBaradei de negociar com o regime do presidente Mubarak, alvo dos protestos que já duram seis dias e paralisaram o país. A decisão foi divulgada neste domingo (30) por Saad al-Katatni, um dos líderes do movimento islamita.

A Coalizão Nacional por Mudança, que reúne vários movimentos de oposição egípcios – incluindo a Irmandade Muçulmana, que foi proscrita pelo governo – escolheram o Prêmio Nobel da Paz para representá-los "nas negociações com as autoridades", disse al-Katatni a agência de notícias Reuters.

Nova postura em relação aos EUA?

Conforme este portal afirmou em editorial, Baradei, que recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2005, foi Diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e tem um extenso currículo de serviços prestados ao imperialismo e sua ascensão ao governo egípcio seria uma garantia de que mudam os nomes mas permanecem as alianças e a fidelidade aos EUA e a Israel.

Mas logo após a confirmação de seu nome como interlocutor privilegiado da oposição, ElBaradei deu declarações que indicam um aparente rompimento com a política de Washington. Ele afirmou que o presidente Hosni Mubarak deve deixar o cargo neste domingo para abrir caminho para um governo de unidade nacional em uma eleição "livre" e "justa" e que a política dos Estado Unidos no Egito está perdendo a credibilidade.

A secretária do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, disse, por sua vez, neste domingo, que os EUA querem uma transição ordenada do poder no Egito. "Nós queremos ver uma transição ordenada para que ninguém preencha um vazio, que não haja um vazio, que haja um plano bem pensado, que trará um governo democrático e participativo", disse Hillary ao programa "Fox News Sunday ".

De acordo com Hillary, "o país não quer que uma tomada de poder no Egito abale a democracia e conduza o povo à opressão". As palavras da senhora Clinton soam como a de alguém que desconhece que o Egito vive sob as ordens de um governo tatalitário que teve apoio incondicional da Casa Branca nos últimos 30 anos.

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, conversou nesta sexta-feira com o presidente egípcio, Hosni Mubarak. O teor mais importante da conversa não foi revelado. A imprensa só teve acesso à declaração diplomática de sempre: a de que Obama teria pedido que se respeite os direitos da população e evite o uso de violência contra manifestantes pacíficos.

Hosni Mubarak (à esquerada) e o viice-presidente Omar Suleiman (centro) em reunião no Cairo

Governo cativa militares

Por sua vez, Mubarak visitou um quartel-general e reuniu os comandantes de alta patente neste domingo (30). A reunião foi divulgada pela televisão estatal. A emissora mostrou Mubarak em reunião com o recém-nomeado vice-presidente Omar Suleiman, o ministro da Defesa, Mohamed Hussein Tantawi, o chefe de gabinete Sami al-Anan e outros.

A agência oficial de notícias divulgou que Mubarak conferiu também o trabalho das Forças Armadas no comando das operações de segurança.

A ofensiva política do governo consiste em cativar os militares. Por isso, o ex-ministro da Aviação Civil, Ahmad Shafic, foi confirmado pelo governo como primeiro-ministro. Shafic, que é um ex-comandante da Força Aérea, será o responsável por formar o novo gabinete de ministros, que foi dissolvido neste sábado.

Além disso, o presidente egípcio, que não escolheu um vice-presidente desde sua posse em 1981, nomeou o seu chefe de inteligência e confidente Omar Suleiman, para o cargo. Muitos viram a nomeação como o fim das pretensões do filho do presidente, Gamal, de assumir a presidência.

Hosni Mubarak recusa-se a deixar o cargo, apesar da pressão da população. Como reforço à posição do presidente, o Parlamento egípcio anunciou neste sábado que não tem planos para antecipar as eleições.

Mubarak mandou também soldados e tanques para a capital Cairo e para outras cidades. O envio de tropas do exército para ajudar a polícia mostrou que Mubarak ainda tem o apoio dos militares, a força mais poderosa do país. Porém, qualquer mudança de opinião dos generais poderá selar o seu destino.

Agora, com a entrada de ElBaradei no cenário, uma "mudança de opinião" da Casa Branca também pode acelerar a queda de Mubarak.

Com agências