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Marco Maia: Câmara só deve votar salário-mínimo em abril

Em sua primeira visita ao Rio Grande do Sul, depois de eleito presidente da Câmara Federal, Marco Maia (PT-RS), visitou políticos gaúchos que ajudaram na sua campanha pelo terceiro maior cargo da República. Primeiro, esteve na prefeitura de Canoas, sua terra natal, conversando com o prefeito Jairo Jorge. Depois seguiu para Porto Alegre, onde foi recebido em audiência pelo governador Tarso Genro e pelo presidente da Assembleia, deputado Adão Villaverde (PT).

Em Canoas, concedeu uma breve entrevista ao portal Sul21. Falou sobre sua eleição a presidente da Câmara Federal e confirmou que o governo Dilma Rousseff influenciou na sua vitória. Mas, segundo ele, o fundamental para que conquistasse o cargo foi o contato pessoal que manteve com os 512 deputados federais. Maia foi eleito, em 2010, pela terceira vez consecutiva para a Câmara.

O ponto chave de sua vitória, disse o deputado, foi a divisão das diretorias da Câmara Federal para todos os partidos. À frente da presidência, ele reafirmou seu compromisso com as grandes reformas e com a municipalização. Maia disse que irá batalhar para que os projetos do prefeito canoense e do governador Tarso se concretizem.

Maia acredita que a Câmara só votará o reajuste do salário-mínimo em abril. Até agora, governo e sindicalistas não chegaram a um acordo. O governo defende um mínimo de R$ 545 e os líderes sindicais pedem R$ 580. leia abaixo a íntegra da entrevista:

Sul21 — Mesmo concorrendo contra um número inesperado de adversários o senhor conseguiu se eleger. O senhor atribui a sua vitória o Palácio do Planalto?
Marco Maia — Esse argumento faz parte da disputa política, mas, na verdade, o que me levou à presidência foi a forte construção política que fizemos na Câmara junto aos deputados. Conversamos muito e defendemos o critério da proporcionalidade, para garantir a representação de todos os partidos nos espaços de direção da Câmara Federal, de acordo com o seu resultado eleitoral. Esse foi o grande elemento que unificou e articulou os partidos em meu apoio. A participação do governo federal foi secundária, embora tenha tido importância. E a minha vitória, também, teve importância para dar certa estabilidade ao Congresso Nacional. Mas este não foi o ponto principal. O fundamental foi a articulação política que realizamos.

Qual a sua avaliação sobre o deputado Sandro Mabel ter conseguido mais de 100 votos, quando o partido dele, o PR, apoiava o senhor?
Ele se organizou e fez uma campanha forte. Nós temos na Câmara uma parcela de deputados que se posiciona de forma muito ideológica e se contrapõe ao projeto do Partido dos Trabalhadores. E o que o Mabel fez foi tentar conquistar estes votos. Foi com esta parcela que ele conseguiu fazer estes 100 votos na eleição. Mas eu encarei isso com naturalidade. Quando eu concorri às eleições para vice-presidência, eu era o único candidato e fiz 410 votos. Então teve 90 deputados que optaram por votar em branco e não em mim. Então esta é a parte da Câmara que não vota no Partido dos Trabalhadores.

O presidente do PT, José Eduardo Dutra, admitiu na última quarta-feira (3) que pode haver alguma “insatisfação localizada” dentro do partido ao comentar o número de votos que o senhor recebeu.
Não. O partido está unificado. Nós estamos articulados. O PT é um partido que faz as suas discussões internas, mas quando se delibera por alguma decisão, todos vão juntos. O PT está bem e vai construir as ações de forma conjunta na Câmara e o partido será importante para as articulações com a base aliada do governo.

A sua trajetória iniciou no movimento sindical de Canoas, bem como a do senador Paulo Paim (PT-RS) e a do canoense Nelsinho Metalúrgico, que estreia na Assembleia Legislativa gaúcha este ano. Ser metalúrgico dá voto?
A experiência sindical foi e é muito importante para o PT. Não é por acaso que o Lula virou presidente da República sendo um torneiro mecânico, assim como eu sou. A militância e o convívio diário com o mundo do trabalho e dos trabalhadores contribui para a nossa capacidade de articulação política e experiência de negociação política. O movimento sindical contribuiu para isso.

Tem uma motivação simbólica a sua decisão de agradecer primeiro ao prefeito de Canoas, Jairo Jorge, o apoio dos políticos gaúchos à sua eleição à presidência da Câmara?
Optei pela primeira agenda em Canoas por ser simbólica. É a cidade onde moro e é administrada pelo meu partido, o PT. Também aproveitei a oportunidade para reafirmar meu compromisso de contribuir com o desenvolvimento da cidade de Canoas. Nasci em Canoas e passei quase toda minha vida aqui e meu compromisso com os canoenses é de proporcionar melhores condições de vida para eles. Hoje tenho a felicidade de poder compartilhar a administração do município lá de Brasília. Nada mais justo que eu volte para a cidade e venha me colocar à disposição para ajudar com os projetos e programas do município.

De que forma o senhor irá cumprir com o que se comprometeu na eleição a deputado federal?
Vamos dar continuidade ao que já vínhamos fazendo: contribuindo com os projetos da cidade. Obviamente que, como presidente da Câmara Federal, a responsabilidade aumenta. A minha preocupação passa a ser também com o país e com os grandes temas que chegam à Câmara Federal. Todas as demandas se relacionam com os demais estados e municípios. E eu tenho um compromisso muito grande com o municipalismo. Vou procurar tratar dos temas que dizem respeito às questões municipais: o fundo de participação dos municípios e a reforma tributária, que dialoga com as cidades. A ideia é ter uma reforma tributária que permita mais programas e mais projetos.

Entre outras questões que o senhor já declarou que serão prioritárias, como a definição sobre o Código Florestal e a manutenção das medidas provisórias. O senhor defendeu que se faz necessária a reforma política no Brasil. Como o senhor pretende fazer isso acontecer, já que esta e outras grandes reformas não aconteceram nos oito anos de governo federal do seu partido?
Estamos fazendo um grande esforço para fazer estas grandes reformas. Eu tenho percebido que há uma vontade política dos partidos e do governo federal de avançar no debate sobre estas reformas. É um processo de construção e discussão amplo. Nós vamos criar as comissões necessárias e vamos insistir em pautar o tema, como forma de forçar que haja a construção destes consensos. Esta é nossa tarefa. Mas, não posso dizer que ela será realizada porque vai depender do que for discutido entre os governos e os partidos na Câmara.

Como seria a sua proposta de uma reforma política?
Uma grande reforma talvez não seja possível executar de forma efetiva. Mas, pretendemos aprovar alguns pontos, sobre os quais conseguirmos consenso dos deputados e do governo. Temos condições de aprovar uma minirreforma, em que estariam contemplados os principais problemas de hoje, como o financiamento de campanhas, o sistema de lista, a fidelidade partidária e a proporcionalidade. A presidenta já falou na sua mensagem ao legislativo que está disposta a fazer esta reforma acontecer.

O governo enfrenta pressão das centrais sindicais para subir o mínimo para R$ 580, mas defende a proposta de R$ 545. Qual a sua opinião sobre o valor ideal a ser pago pelo executivo? E, quanto tempo levará para aprovação do valor que será acordado?
No parlamento é cedo para discutir este tema do salário-mínimo nacional. Temos ainda mais de 10 medidas provisórias na frente desta. Vamos trabalhar no tempo certo com este tema. Nós temos o fluxo de votar de duas a três medidas provisórias por semana. Então, devemos votar este tema em abril. Mas, nós vamos trabalhar no sentido de propor acordos e dialogar muito com as bancadas para chegar à votação com uma proposta que atenda o anseio de reajuste da sociedade, mas que atenda as necessidades do estado em não extrapolar suas contas. Não podemos criar um desequilíbrio na situação econômica do país. Somos favoráveis ao aumento do salário-mínimo o máximo possível, foi isso que garantiu, por exemplo, que o Brasil enfrentasse a crise econômica de 1998 de forma diferente. Eu inclusive brinco que, quando eu era sindicalista, eu passei parte da minha vida lutando para que o salário-mínimo chegasse a U$ 100. Hoje ele já passou de U$ 300. Agora, por outro lado, nós precisamos manter a estabilidade econômica e fiscal. O Brasil precisa continuar neste processo de ter um crescimento sustentável, porque isso é garantia de aumento na distribuição de renda no país.

Fonte: Portal Sul21