Na 3ª semana de protestos, egípcios reforçam ações anti-Mubarak
A oposição decidiu intensificar a partir desta terça-feira (8) as manifestações em protesto ao governo do presidente do Egito, Hosni Mubarak. Na manhã do 15º dia de protestos no país, milhares de pessoas ocuparam a Praça Tahrir – local de concentração das manifestações no Cairo. Centenas de manifestantes acamparam em tendas e alguns se abrigaram perto dos tanques do Exército, estacionados nos arredores da praça.
Publicado 08/02/2011 09:51
Dezenas de milhares de manifestantes adentraram na praça Tahrir, no Cairo, para realizar mais um dia de protestos pelo fim do regime, entrando no 15º dia de protestos, a despeito de uma lista de concessões anunciada nos últimos dias por Mubarak.
Ao mesmo tempo, dezenas de milhares de manifestantes foram às ruas de Alexandria, a segunda maior cidade do Egito. Há relatos na mídia de protestos diante do edifício do parlamento. Uma testemunha afirmou que mais de mil pessoas se reuniram diante do prédio logo cedo e o número de manifestantes foi aumentando ao longo do dia.
Uma grande faixa com a inscrição "O povo exige a saída do regime" está estendida sobre o conjunto de tendas e lonas na praça. Os protestos começaram no último dia 25. A ocupação da praça se tornou o símbolo da revolta anti-Mubarak.
As manifestações continuam apesar dos anúncios do regime, propondo reformulações no gabinete e reformas políticas, mas sem a renúncia do líder.
"As músicas patrióticas sobre o país costumavam soar exageradas, mas nós possuímos o país agora", afirmou Issam Shebana, um médico de 34 anos que voltou de Sharjah, nos Emirados Árabes, para trabalhar em uma clínica improvisada na praça. "Eu nunca pensei que dormiria no asfalto com a chuva no meu rosto e me sentiria feliz", comentou ele, definindo a manifestação contra o governo como "inspiradora" e "um renascimento".
"Nós somos Khaled Said"
A internet tem sido usada para mobilizar os protestos. Em seu site, o Movimento 6 de Abril, um dos envolvidos, convocou grandes manifestações para esta terça. "Ninguém pode nos impedir de continuar, pelo nosso país", afirmou o grupo.
De acordo com o correspondente da rede catariana de televisão al-Jazira na capital egípcia, a multidão concentrada na praça Tahrir aumentou consideravelmente na tarde desta terça, com muitos manifestantes participando dos protestos pela primeira vez.
Segundo alguns deles, o motivo para participarem das manifestações foi a libertação de Wael Ghonim, um diretor do Google, depois dele dizer que ficou duas semanas detido por autoridades de segurança do estado.
"Vim aqui pela primeira vez porque esse novo gabinete é uma fraude. Mubarak ainda está contando com pessoas irresponsáveis… ele não acredita que seu tempo já expirou. É um sujeito muito teimoso", disse Afaf Naged, uma ex-membros do corpo de diretores do Banco Nacional do Egito, pertencente ao Estado.
"Estou aqui também por causa de Wael Ghonim. Ele estava certo quando disse que o NDP (O partido de Mubarak) está acabado. O partido não existe mais, mas eles não quiseram admitir isso", disse ela.
Amr Fatouh, um médico cirurgião, afirmou que veio aos protestos também pela primeira vez.
"Eu espero que o povo continue a vir para cá e que venham mais pessoas. Em primeiro lugar, as pessoas não acreditam que o regime vá mudar, mas acreditam que está mudando", afirmou.
Ghonim era o responsável por uma página chamada "Nós somos Khaled Said" no site Facebook, é tido e havido pela mídia ocidental como o "responsável" pela insurreição no Egito.
Ao mesmo tempo, 20 advogados solicitaram ao Procurador Geral do Egito, Abdel Meguid Mahmoud, que entre com uma ação contra Mubarak e sua família por suposto assalto à saúde do tesouro nacional. Ibrahim Yosri, advogado e ex-vice ministro de Relações Exteriores foi o responsável pela redação da petição.
Mubarak não sai
Em uma declaração dada à televisão estatal do país, Omar Suleiman, o vice-presidente, disse que o plano que se discute hoje é o de uma "transição pacífica" de poder, obedecendo ao calendário estabelecido na agenda política.
O vice-presidente, recém empossado, anunciou que Mubarak pretende criar um comitê que tratará de fazer emendas legislativas e constitucionais, para habilitar legalmente a mudança de poder.
Suleiman também disse que um outro comitê será implementado para monitorar a implantação das reformas sugeridas. Os dois comitês devem iniciar os trabalhos imediatamente, afirmou.
Aumento funcionalismo
Na segunda-feira (7), Mubarak tentou ganhar tempo e apoio, comprometendo-se a aumentar em 15% o salário do funcionalismo público. O presidente se reuniu pela primeira vez com seu novo gabinete, enquanto o regime tenta manter a economia funcionando. Segundo a agência estatal MENA, o gabinete aprovou um plano para destinar US$ 940 milhões para melhorar as pensões do país.
Mubarak também se comprometeu a lançar uma investigação "independente" sobre a violência entre manifestantes pró e contra o regime na última quarta-feira (2), na Praça Tahrir, que deixou 11 mortos e quase mil feridos, segundo estimativas oficiais. O presidente "deu instruções para a criação de uma comissão transparente, independente e imparcial", que investigará as "violações que transformaram alguns manifestantes em vítimas inocentes", segundo a agência estatal.
O aumento de salários pode garantir o apoio a Mubarak entre o importante setor da administração pública e as forças de segurança do país. Mas não há sinal de que os manifestantes pretendem ceder espaço. Eles seguem impedindo o acesso ao Mugamma, o complexo de prédios que é o coração da administração do país, localizado na Praça Tahrir.
Os partidos de oposição, incluindo a Irmandade Muçulmana, repetem sua exigência de que Mubarak deixe o poder imediatamente ou delegue suas funções para Suleiman. O ditador já disse em entrevista que estava "cheio" de ficar no poder. Mas argumentou que precisa permanecer no comando até as eleições de setembro, para garantir a estabilidade do país.
Há pouco mais de 29 anos no poder, Mubarak é acusado de corrupção, desvio de recursos públicos e autoritarismo. Para os líderes oposicionistas, Mubarak deve deixar o poder, promover a transição, libertar presos políticos, suspender ações de censura e pressão sobre a liberdade de expressão e autorizar a instalação de uma Assembleia Constituinte.
Enquanto isso, os Estados Unidos pediram para o Egito respeitar os tratados existentes, em aparente referência ao acordo de paz com Israel. Washington "será um parceiro" de um governo egípcio que "cumpra os tratados e obrigações" em vigor, disse um porta-voz do presidente Barack Obama. O Egito tem tido um papel crucial no processo de paz do Oriente Médio, tornando-se o primeiro país árabe a reconhecer oficialmente Israel, em 1979. As informações são da Dow Jones.
Com informações da Agência Brasil e da Agência Estado