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Militares do Bahrein dispararam contra centenas de manifestantes 

As forças de segurança do Bahrein dispararam contra centenas de pessoas que se juntaram na praça Pérola, na capital do Bahrein, lançando granadas de mão e tiros a partir de um helicóptero nesta sexta-feira (18).

A concentração ocorreu depois do funeral das vítimas da manifestação de quinta-feira (17), onde os gritos a exigir a saída do rei e do seu círculo próximo foram abafados por tanques e forte ofensiva policial – quatro pessoas morreram e 231 ficaram feridas. Mas nesta sexta os protestos voltaram à praça. E desta vez foram soldados a controlar a situação – o que pode significar que o regime está a aumentar a repressão contra os que procuram uma revolta, indicou um responsável ocidental ao New York Times (NYT).

“Há muitos feridos, alguns em estado crítico”, afirmou à Reuters Jalal Firooz, do bloco Wefaq, principal partido xiita de oposição, que na véspera abandonou o Parlamento. Outro ex-deputado do partido, Sayed Hadi, falava em pelo menos 23 feridos. A Reuters apontava para mais de 60.

O NYT adianta que não era claro que tipo de munições foram usadas, se reais ou balas de borracha, e que o helicóptero que disparou contra a multidão apontou depois o alvo a um jornalista ocidental e um operador de câmara que tinham estado a filmar a violência.

“Morte a Khalifa”, ou seja, ao rei Hamad bin-Isa al-Khalifa, gritava-se. “Queremos a queda do regime”. Os manifestantes pretendem fazer da praça Pérola, de Manamá, a praça Tahrir, epicentro da revolta no Cairo que conseguiu levar à demissão do Presidente Hosni Mubarak na semana passada. Contam com uma forte resistência do Governo, que proibiu reuniões públicas e mandou os soldados cercar a Pérola com arame farpado e cobrir as paredes que tinham grafittis com slogans contestatários.

“Está na altura de dialogar”

“O regime quebrou alguma coisa dentro de mim… Todas as pessoas que estão aqui hoje têm alguma coisa quebrada dentro delas”, disse ao Guardian Ahmed Makki Abu Taki, cujo irmão de 27 anos, Mahmoud, foi morto na praça. “Costumávamos exigir a saída do primeiro-ministro [Khalifa bin Salman al-Khalifa, tio do rei], mas agora exigimos que a família dirigente saia”.

O Bahrein tem uma maioria xiita, mas desde há dois séculos que é governador por uma monarquia sunita. As linhas sectárias são muito fortes no país, com a maioria da população a dizer-se vítima de discriminação pelas autoridades. O NYT fala numa “luta política existencial”, onde a liderança quer manter o poder absoluto e a oposição exige uma nova Constituição.

Daí que o príncipe herdeiro tenha ido à televisão para assegurar que “esta terra é de todos os cidadãos do Bahrein”. Para tentar apaziguar os ânimos, Sheikh Salman bin Hamad al-Khalifa, conhecido como um reformista, lançou: “Está na altura de dialogar, não de lutar… O diálogo está sempre aberto e as reformas continuam”.

A calma, segundo o príncipe herdeiro, deve vir de “todos os lados. Das forças armadas, do pessoal da segurança e dos cidadãos”, continuou. “Peço-vos: deve haver calma. Agora é altura de ter calma”.

A situação no pequeno país do Golfo está a inquietar Washington, que já disse ser contra o uso de violência. O Bahrein acolhe a base da Quinta Frota da Marinha norte-americana.

Fonte: Público 20