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Rodrigo Vianna analisa racha tucano: "caipiras" x "cosmopolitas"

O racha tucano não vem de hoje. Documentos do Wikileaks, de 2006, indicam que o PSDB está em adiantado estado de desagregação há pelo menos 5 anos. O que se confirmaria em 2008, quando Alckmin (o “caipira”, o homem da Opus Dei – no entendimento dos “punhos de renda” que cercam Serra e FHC) foi rifado pelo serrismo. Os tucanos ligados a Serra apoiaram Kassab para a reeleição à Prefeitura de São Paulo – contra Alckmin, o candidato do partido.

Por Rodrigo Vianna, em seu blog o Escrivinhador

Durante a disputa pela candidatura tucana em 2006, a revista Época (=Globo=Serra) trouxe ampla reportagem mostrando as ligações de Alckmin com a Opus Dei. Descia a detalhes, contava sobre reuniões de Alckmin com gente da Opus Dei dentro do Palácio dos Bandeirantes. Na época, especulou-se que a Época teria agido sob orientação dos serristas.

Agora, comprova-se (por telegramas do Wikileaks a que o Escrevinhador e outros blogueiros e jornalistas tiveram acesso) que Andrea Matarazzo (típico serrista “punhos de renda”) falava sobre Alckmin e a Opus Dei até para os diplomatas dos EUA! É um partido muito unido! Em 2006, Serra ainda não havia descoberto as maravilhas da direita católica, como faria em 2010. Confiram mais detalhes, no texto abaixo de Juliana Sada (com informações da seção brasileira do Wikileaks).

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Ao longo de 2006, as representações diplomáticas dos EUA no Brasil acompanharam de perto a movimentação eleitoral, especialmente a campanha tucana. Foram feitas diversas consultas aos membros do PSDB e de partidos aliados, como mostram novos documentos do Wikileaks.

Diversos telegramas relatam a disputa interna no PSDB entre as candidaturas de Geraldo Alckmin e José Serra. Curiosamente, a maioria das avaliações apontava que Serra sairia como candidato à presidência por conta de sua maior inserção nacional, assim como maior experiência.

A escolha de Alckmin como candidato foi recebida com surpresa. Como mostra um telegrama enviado em março de 2006 pelo Cônsul McMullen, “parece que todos sabiam que Alckmin era um hábil político e administrador, mas poucos imaginavam que ele teria a tenacidade de se sobrepor frente a um oponente mais conhecido e a percebida oposição da liderança partidária, especialmente do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso”.

Com amigos como estes…

Após a escolha de Alckmin, foram muitas as críticas relatadas aos membros do consulado sobre a escolha tucana – vindas tanto de aliados quanto de membros do partido.

Uma fonte comentou com funcionários do consulado que “o problema do Alckmin é que, como médico de uma pequena cidade, ele não sabe como pensar grande. Além disto, como um anestesista, ele sabe como preparar um paciente para a cirurgia, porém ele está acostumado a sentar e deixar outra pessoa fazer todo o trabalho pesado enquanto ele se contenta em monitorar os sinais vitais”.

Já o então governador Cláudio Lembo (PFL) relatou a possibilidade de aliança com os tucanos mas problematizou que o PSDB estava dividido internamente: “há um conflito cultural entre FHC – que se considera uma pessoa cosmopolita e figura internacional – e Alckmin, que é visto por Cardoso como um caipira, por ser de Pindamonhangaba, cidade do interior paulista”.

Em junho de 2006, o tucano Andrea Matarazzo declarou que Alckmin possuía chances de ganhar de Lula mas ponderou que “o partido errou gravemente ao escolher Alckmin como candidato”. Para Matarazzo, que se declarou serrista, o candidato tucano e o grupo ao seu redor “simplesmente não têm noção de como executar uma campanha nacional”.

A visão seria compartilhada por muita gente dentro do partido, que não estariam dispostas a colaborar com a campanha. Ao explicar a direção direitista da gestão de Alckmin no estado, Matarazzo afirmou “é claro que ele é da Opus Dei, mas não é um líder do grupo”.