Aécio fala, no Senado, para o ninho tucano

O pronunciamento do último dia 6 do senador tucano Aécio Neves não correspondeu às esperanças oposicionistas que despertou. Mensagem velha e surrada e tom morno, para dizer muito. Morno e convencional.

Aécio na tribuna - Geraldo Magela

O discurso do senador mineiro serviu, inicialmente, a seu projeto particular de se capacitar como o líder da oposição neoliberal e conservadora ao governo de Dilma Rousseff, numa quadra difícil para eles, em que os três partidos da oposição enfrentam grandes dificuldades. O PSDB saiu rachado da derrota para Dilma Rousseff no ano passado e as feridas ainda estão abertas, enquanto o DEM e o PPS, outros pilares da oposição conservadora e neoliberal, estão em visível declínio.

De certa forma, o discurso de Aécio Neves, que repete velhos chavões do neoliberalismo tucano, veio atrasado – ele teria cabido melhor na campanha eleitoral de 2010, pois apresenta, com mais precisão do que os discursos de José Serra, um ideário que o candidato do PSDB matreiramente contornou na disputa eleitoral.

Não foi um discurso para o país, mas para o público interno do PSDB e sua área de influência na sociedade. Ele contém elogios ao ex-presidente tucano mas esconde farpas também, como aquela em que atribui (contra o dogma tucano) a paternidade do Plano Real, o evangelho emplumado, ao presidente Itamar Franco e não ao cardeal Fernando Henrique Cardoso que, em 1994, era o ministro da Fazenda antes de ser o candidato das forças conservadoras que surfou no prestígio alcançado com a nova moeda.

Aécio não trouxe nenhuma novidade e focou os mesmos fantasmas que a eleição de 2002 e a posse de Lula em 2003 deixaram para trás. A tecla foi uma alegada “desorganização da vida econômica do país”, como se fosse possível dizer isto num momento em que o Brasil reencontra sua vocação para o crescimento, que havia sido sufocada nas duas décadas anteriores, especialmente no período de FHC, com sua política econômica antinacional que estagnou e empobreceu o país.

Foi além. Elogiou a Lei chamada de Responsabilidade Fiscal que privilegia o pagamento de juros para o grande capital e constitui um obstáculo para investimentos públicos. Defendeu aquilo que chamou de “mudanças estruturais do governo Fernando Henrique”, com as privatizações rejeitadas pelo país. O consolo reiterado dos tucanos é a implantação da telefonia celular, um serviço de má qualidade prestado pelas empresas privadas do setor e que poderia ter sido feito sob os auspícios da empresa estatal de telefonia, a Telebrás que os tucanos desmontaram e venderam a preço de banana. Defendeu também o modelo tucano de agências reguladoras, cuja direção eles deram justamente para representantes das empresas que deviam ser fiscalizadas. Aécio se insurge contra as medidas adotadas pelos governos Lula e Dilma para tornar aquelas agências realmente independentes e chama isso de subordinação delas a “pressões políticas”.

Fiel às ideias que o Brasil já ultrapassou, acusou um “inchaço do Estado” e voltou a falar em “farra da gastança”. São os mesmos argumentos sinistros de Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso para desmantelar os órgãos de governo e de soberania nacional. Coerentemente com estas ideias que os brasileiros condenaram nas urnas em 2002, 2006 e 2010, acusou o governo de investir contra empresas privadas, um sofisma para defender os interesses do grande capital privado em uma empresa como a Vale. Embora o governo mantenha influência sobre 41% do capital votante, Aécio não acha legítimo que o governo use esse poder para pressionar a empresa a investir no Brasil e alavancar o desenvolvimento nacional – outro argumento tipicamente neoliberal.

Mas Aécio acerta num ponto em seu diagnóstico. Ele caracterizou o período Dilma como “o início do nono ano de um mesmo governo. Quase uma década”, sem haver “ruptura entre o velho e o novo”.

Nisso, ele está correto. Lula e Dilma são personalidades diferentes com estilos diferentes de agir e conduzir o governo. Mas realmente este é o terceiro governo consecutivo das mesmas forças que elegeram Lula em 2002 e que, com Dilma, querem avançar naquele projeto e acelerar as mudanças para reconstruir os estragos deixados por FHC e a equipe de tucanos que Aécio agora quer comandar.

Ele pode ter certeza de que este esforço, iniciado pela equipe que governou com Lula e agora governa com Dilma, vai continuar. E que o Brasil que voltará a ser julgado nas urnas em 2014 será muito diferente do infeliz e ultrajado Brasil legado pelo longo mandarinato de FHC, que foi a julgamento em 2002 e perdeu. Ao final do primeiro mandato de Dilma, será um Brasil mais democrático e justo, mais soberano, com um povo mais feliz e menos pobre.

O resto, para os tucanos, é o que o povo chama de direito de espernear. E, no caso de Aécio, de firmar-se como o novo cardeal emplumado.

*Editorial do Vermelho nacional 8 de abril de 2011