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Messias de Sousa: Brasília vence crise e comemora 51 anos

No ano passado, no aniversário de 50 anos de Brasília, a cidade vivia uma das maiores crises políticas, o que prejudicou as comemorações. Este ano, na semana em que completa 51 anos – na quinta-feira, dia 21 de abril –, o administrador de Brasília, o comunista Messias de Souza, fala sobre os 100 dias da administração, como vem superando os problemas encontrados e os planos para os próximos anos.

Messias de Sousa: Brasília vence crise e comemora 51 anos

Em 1º de janeiro deste ano, quando assumiu a função de administrador de Brasília, que corresponde à de prefeito municipal, Messias encontrou uma Brasília que era um verdadeiro matagal. E, para piorar a situação, a máquina administrativa estava igualmente sucateada.

Era a herança deixada pelo governo de José Roberto Arruda (ex-DEM), que foi interrompido por denúncias de corrupção, que afastou também o vice-governador, Paulo Octávio (DEM). No período de seis meses, a cidade teve quatro governadores. O presidente da Câmara Distrital, Wilson Lima (PR), também suspeito de corrupção, assumiu o GDF, sucedido por Rogério Rosso (PMDB), eleito indiretamente para concluir o mandato.

“Mudavam os governadores, mudavam os funcionários e essa alta rotatividade levava que projetos estratégicos e até a manutenção da cidade ficassem comprometidos”, avalia o novo administrador.

“Há meses não havia poda, corte da grama, limpeza das galerias pluviais, etc. Nesse período tivemos que tomar muitas providências de natureza administrativa para colocar a cidade nos trilhos”, explica Messias, destacando que, junto com o abandono da cidade, estava também a máquina administrativa.

“A administração regional de Brasília se encontra em nível de sucateamento institucional grande. Ao longo do tempo, desde o último governo de (Joaquim) Roriz e Arruda, houve um esvaziamento de competências da administração para centralização”. A concentração de poder (de compra, de contratação, etc.) nas mãos do governador implicou no esvaziamento ao máximo das áreas técnicas que atendem diretamente os interesses da população.

Ele diz que esse problema requer mais tempo para ser solucionado. “Essa restruturação é um processo mais longo, porque implica em reengenharia da distribuição de cargos em todo o governo do Distrito Federal.”

Uso e preservação dos monumentos

Na semana em que comemora seu aniversário, a cidade inicia um debate sobre o Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília. “Temos que preservar esse conjunto urbanístico, compatibilizando-o com as necessidades da população”, diz Messias, lembrando que “a melhor forma de preservar é dar bom uso ao equipamento urbanístico”.

Ele diz que existem exemplos de que todos os monumentos que não são usados se depredam e os que são utilizados são mais conservados. “O plano pensa Brasília como um todo para definir regras para preservação e introduzo esse elemento na discussão”, afirma. A ideia dele é alocar determinadas atividades nesses espaços para aproximar as pessoas desses equipamentos.

E cita como exemplo a retomada do projeto na orla do Lago Paranoá, que foi iniciado no governo de Cristóvam Buarque. Messias diz que o projeto foi interrompido pela pressão da especulação imobiliária que se apropriou indevidamente das margens do Lago Paranoá, “que é patrimônio da cidade”, enfatiza.

Ele defende a democratização do acesso ao lago, que hoje tem uma ocupação privada de clubes e mansões. “Sem radicalidades”, adianta, descartando a ideia de destruir toda a cidade construída às margens. O projeto é para que a administração pública ocupe os espaços públicos, dando boa destinação a eles.

Messias descreve o projeto que tem para a área que vai da Concha Acústica ao Museu de Arte, no setor de clubes e hotéis no Lago Sul. Além da revitalização dos equipamentos culturais, serão construídos calçadões, que permitirão atividades gastronômicas e acesso aos esportes náuticos. Esse exemplo deve ser levado para vários equipamentos.

Preparativos da Copa

Ao falar sobre os projetos para a cidade, Messias lembra que Brasília está na disputa para sediar a abertura dos jogos da Copa do Mundo em 2014. Ele diz que esses eventos – a Copa do Mundo e a Copa das Confederações – ajudam, porque definem metas temporárias para as obras.

Uma delas é a implantação do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), considerado um projeto de transporte público interessante e de muita utilidade. As obras foram iniciadas, mas, em função dos desmandos políticos do governo anterior, foram paralisadas por decisão judicial.

Messias anunciou que o GDF trabalha para desobstrução desse impedimento de natureza legal, para retomar o projeto, “que é absolutamente necessário para a cidade”. Ele trabalha com a possibilidade do VLT estar pronto para a Copa do Mundo, apesar de estar com atraso de um ano.

O VLT será integrado ao metrô e ao sistema de ônibus e representa uma das soluções para o problema de transporte em Brasília. Para Messias, o problema do transporte existe em todas as grandes cidades, nas em Brasília é exacerbado, porque a cidade é compartimentada.

“Tem a Brasília tombada – a de 400 mil moradores – e há uma Brasília que cresceu, dos trabalhadores – de 1,5 milhão de pessoas –, que estão aqui durante o dia e voltam à noite para suas cidades”, explica o administrador. A cidade vive sob dois grandes espasmos – a ida e vinda.

Pessoas X carros

Aliada a essa particularidade, as empresas de transporte coletivo tinham privilégios políticos acoplados às elites que dominavam Brasília e imprimiram um modelo predatório – para extrair muito lucro –, que submete as pessoas a um transporte de péssima qualidade, com horários descontínuos, que gerou outro fenômeno.

O crescimento da economia brasileira nos últimos anos permitiu que as pessoas tivessem carro. Brasília passou a ter uma frota além do razoável. Messias conta que imagens áreas da cidade mostram que ela se transformou em um grande estacionamento.

Para reverter essa situação, ele diz que é preciso ter uma visão e tratamento mais regional do problema. A solução é que o processo de integração de transporte público possa ser apresentado como opção decente e barata para que as pessoas optem pelo transporte público. “Vivemos uma ambiguidade, o transporte público é péssimo e o uso do carro individual é péssimo”, analisa.

Para ele, Brasília ainda tem o privilégio de ter grandes espaços onde podem ser implantadas ciclovias e calçadas para garantir mobilidade às pessoas. Ele diz que a administração regional vem provocando o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e o seu setor de urbanismo a repensar essas soluções.

E faz questão de destacar que, mais que harmônicas ao projeto original da cidade, esses melhoramentos darão plena aplicabilidade à concepção do projeto original, que criava espaços que privilegiavam as pessoas, e não os automóveis.

Festa para todos

A administração de Brasília montou uma grande festa para comemorar o aniversário da cidade nesta quinta-feira. “A festa de aniversário de 50 anos teve frustração com a crise de Caixa de Pandora, portanto esse ano vai haver uma grande festa na Esplanada dos Ministérios, com 24 horas de atividades. Queremos que todos comemorem e tenham orgulho de Brasília, que é o centro dessa grande região metropolitana”, diz Messias.

Além das apresentações musicais, as atividades esportivas serão destaque. A Esplanada dos Ministérios terá 10 palcos. Cada um deles pretende atender a públicos e a interesses diferentes.

Mais de 100 atrações locais estarão ao lado de estrelas nacionais. Há expectativa de grande público nos shows, que, entre outros nomes famosos, apresentam a dupla César Menotti e Fabiano, Martinho da Vila, Plebe Rude, Móveis Coloniais de Acaju e Raimundos.

Para impulsionar a candidatura de Brasília como sede da abertura da Copa de 2014, o GDF também criou uma atração especial, que inclui a participação do governador Agnelo Queiroz em um jogo com um time formado por autoridades do governo e outro de artistas. Este terá o comando do cantor Gabriel O Pensador. As competições serão realizadas entre as 9h e às 18h do dia 21, na Arena, que tem capacidade para 25 mil pessoas.

O hotsite da festa será uma atração à parte. Criado pelo Núcleo de Novas Mídias e Redes Sociais, da Secretaria de Comunicação, a ferramenta pretende integrar a população do DF. Quem quiser participar pode postar depoimentos sobre a cidade até o dia 30. Os visitantes também encontrarão na página um link que conta a história da construção de Brasília por meio de documentos do Arquivo Público e de imagens.

De Brasília
Márcia Xavier