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ONU quer cessar-fogo unilateral do governo líbio

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, lançou nesta segunda-feira (18) um pedido inusitado às autoridades da Líbia, para que realizem um cessar-fogo imediato por causa da crise humanitária gerada pela guerra civil, iniciada em março passado por militares amotinados e ex-integrantes do governo de Muamar Kadafi.

Em visita a Budapeste, Ban considerou essencial que as autoridades líbias "cessem os ataques a civis", devido a magnitude da crise humanitária e a continuação dos combates, mas não fez o pedido em nenhum momento às forças rebeldes que lutam contra o governo líbio ou à Otan, que ataca o país incessantemente.

Ban disse que a intenção "justifica" as medidas imediatas e decisivas tomadas pela comunidade internacional, incluindo a zona de exclusão aérea e medidas militares.

Governo líbio ajuda imigrantes

A Organização Internacional para Migrações (OIM), informou que está "preocupada" com a situação de 6 mil migrantes na cidade de Misrata, na Líbia.

Segundo a OIM, os migrantes não têm como deixar a cidade portuária, sob fogo cruzado entre tropas do governo e forças rebeldes.

Os migrantes estão vivendo ao relento, há várias semanas, com quantidade limitada de alimentos, sem água potável e com medo. Muitos deles estão desidratados e debilitados.

Um navio da OIM está transportando 400 toneladas de alimentos e remédios. Grande parte dessa ajuda foi doada por organizações nacionais e internacionais líbias, além de empresas do país norte-africano. Os donativos devem atender pelo menos 2 mil famílias que ficaram desabrigadas pela violência na área.

E a Otan, secretário-geral?

“Temos três objetivos: a partir de agora um cessar-fogo imediato e real, em segundo, estender a nossa ajuda humanitária àqueles que precisam de nós e, em terceiro, devemos continuar o diálogo político e a procura de uma solução politica”, declarou Ban Ki-moon aos jornalistas durante uma visita oficial de três dias à Hungria.

“Tendo em conta a amplitude da crise [humanitária], se os confrontos continuarem, é absolutamente necessário que as autoridades líbias cessem os combates e parem de matar pessoas”, insistiu, omitindo-se de fazer o mesmo pedido às forças rebeldes e à Otan. Em tese, o pacto militar do Atlântico norte estaria sob o comando do Conselho de Segurança da ONU.

Um peso, duas medidas

Os insistentes pedidos de Ban Ki-moon por verificação dos direitos humanos em cada situação de conflito são dissimulados quando os atingidos não são aliados do Ocidente. Isso pode ser constatado no relatório que elaborou sobre o caso do Saara Ocidental.

Em novembro de 2010, forças marroquinas arrasaram o acampamento de civis saarauís de Gdeim Izik. O relatório que Ban e seus assessores divulgaram na última semana fez pouco caso da recomendação feita pela própria organização para incluir o caso ao mandato da Missão das Nações Unidas no território ocupado pelo Marrocos.

O documento foi revelado com vários dias de atraso, o que fez com que seu debate no Conselho de Segurança fosse atrasado por mais de uma semana.

As propostas dos especialistas pediam que a Missão da ONU para o Referendo no Saara Ocidental (Minurso) assumisse a supervisão dos direitos humanos, principalmente depois do que aconteceu no campo de Gdeim Izik, em novembro passado.

Naquela ocasião, forças de segurança marroquinas assaltaram e desmantelaram o acampamento de civis, com saldo de uma dezena de mortes e a prisão de 150 moradores, que protestavam contra as condições de vida no território controlado pelo Marrocos.

A ideia de agregar um mecanismo de supervisão dos direitos humanos à Minurso foi lançada pelo próprio escritório do Alto Comissário da ONU nessa matéria (Acnudh).

Segundo informaram fontes da ONU, a omissão dessa sugestão obedece a fortes pressões do Marrocos e da França, esta última membro permanente do Conselho de Segurança e uma das mais envolvidas na imposição da agressão contra a Líbia e contra a Costa do Marfim nas Nações Unidas.

O texto definitivo de Ban restringe o assunto à vigilância que deve ser feita pela Acnudh em relação "às supostas violações dos direitos universais do povo do Saara Ocidental".

Da redação, com agências