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MIS exibe filme sobre Comuna de Paris

Por iniciativa da Comissão Nacional dos eventos sobre os "140 anos da Comuna de Paris", o Museu da Imagem e do Som (MIS)/Campinas – sob a curadoria de Orestes Toledo – exibirá, nesta semana, o notável filme de Peter Watkins, La Commune (Paris, 1871) em duas sessões, na sexta-feira (29), às 19h, e no sábado (30), às 16h.

Ao final das duas sessões haverá um debate. O evento acontece no Palácio dos Azulejos, situado à Rua Regente Feijó, 859, Centro.

Peter Watkins, de origem britânica, foi diretor de vários documentários produzidos por TVs europeias e de alguns filmes comerciais (entre eles, Punishment Park, 1970). O conjunto da obra desse “diretor maldito” (alguns de seus filmes foram censurados pelas TVs e boicotados por poderosas distribuidoras de cinema) se distingue por uma contundente crítica à violência da guerra e ao papel dos meios de comunicação, em particular da TV, no capitalismo contemporâneo.

A este respeito, suas palavras são definitivas: "A TV está nas mãos de uma elite de poderosos, de magnatas, de executivos, de diretores de programas e de produtores que dispõem de um poder colossal e que impõem, por toda parte, a sua ideologia globalizante e comercial, cruel e cínica, recusando obviamente dividir este poder”.

Em La Commune, Watkins, de forma criativa e inteligente, coloca em cena duas (imaginárias) emissoras de TV – a TV Versalhes (oficial) e a TV Comunal (democrática e popular) – fazendo a cobertura e a interpretação dos fatos ocorridos na Comuna de Paris.

Homens e mulheres da classe trabalhadora, pequena e grande burguesia, dirigentes comunardos, soldados da guarda nacional, militares leais ao governo, religiosos, jornalistas eporta-vozes da burguesia manifestam abertamente suas conflitivas opiniões e expectativas políticas e sociais.

Difícil será encontrar na filmografia mundial um documento mais instigante e elucidativo sobre a luta ideológica na sociedade de classes.

Embora irrestritamente simpático à experiência da COMUNA, o filme é uma criteriosa e rigorosa reconstrução histórica desse evento.

La Commune revela o júbilo e as generosas expectativas vividas pelas classes populares e trabalhadoras com a conquista do poder político em Paris; contudo, de forma alguma apologético ou simplificador, o filme mostra as dificuldades, os conflitos e os dilemas que enfrentam homens e mulheres – ainda inexperientes politicamente e acossados duramente pela reação conservadora e repressão militar – quando buscaram construir um governo radicalmente democrático e socialmente emancipador.

Ao propor estas questões, o filme inova ao levar seus atores– cerca de 70% deles não tinham nenhuma experiência cinematográfica anterior – a refletir sobre o papel que representaram no filme bem como discutir, coletivamente, os problemas sociais e políticos enfrentados por todos eles ao final do século XX.

Por meio de um intenso, dilacerante e inteligente debate comprovam-se que os ideais e as bandeiras da Comuna de Paris continuam vivos e ainda tremulam na ordem capitalista contemporânea.