Uma cidade chamada Baixada Fluminense

Não muito tempo atrás, participei de uma palestra sobre os investimentos e a perspectiva de crescimento econômico do nosso Estado do Rio de Janeiro. O cenário apresentado foi otimista e os números impressionavam, principalmente se levarmos em consideração que há tempos passamos por um período de estagnação da economia estadual e de falta de investimentos do Governo Federal no Rio de Janeiro.
 
Por Fernando Cid*

Os economistas falaram de tudo, do potencial do turismo, do entretenimento e da cultura, de portos e pólos que estão se formando, de novas rodovias, de Copa do Mundo e até de Olimpíadas. Porém o que me chamou a atenção foi o desprezo com a Baixada Fluminense, tratada como “periferia da região metropolitana” e desconsiderada como uma região autônoma, com potencial e características próprias. A impressão que tive foi a de que a Baixada Fluminense só atrapalha, pois os únicos índices mostrados sobre a região foram os da pobreza.

Dias depois deste seminário, tive o privilégio de ouvir a palestra de um Secretário de Estado, que fez uma projeção ainda mais otimista sobre a economia do Rio de Janeiro e, para minha triste surpresa, mais uma vez, nenhum dado ou projeto de desenvolvimento econômico para a nossa querida e sofrida Baixada Fluminense, a não ser o fato de que ela será cortada pelo Arco Metropolitano.

Essas palestras e seminários, somado ao que assistimos nas TVs e lemos nos jornais, nos dão a dimensão e a certeza da discriminação e do desconhecimento sobre a Baixada Fluminense. Pouco importa o nosso patrimônio ambiental, que permite entre outras coisas, fornecer a água que abastece boa parte da capital; pouco importa a pujança do comércio e a força da nossa indústria; pouco importa as cerca de 5 milhões de pessoas que moram nos 13 municípios desta cidade que eu ousaria chamar de Baixada Fluminense. A verdade é que pagamos o preço da nossa falta de organização e de ousadia política, que gera um comportamento submisso, conformado, tolerante com as injustiças e com o tratamento desigual que é dado ao povo da Baixada Fluminense.

Tratar a Baixada como se fosse uma única cidade, acredito que facilitaria o debate de temas e de problemas que são comuns, como o do transporte público e mobilidade, saúde, segurança pública, desenvolvimento econômico, entre outros.

Temos que ter a certeza de que as “bênçãos” não cairão do céu, por mais fé que nosso povo e os políticos possam ter. É preciso travar a luta política, e para isto é preciso organização e responsabilidade política para definirmos um projeto regional. Se medirmos a representação política da Baixada – Deputados Federais, Estaduais e Vereadores, que têm base eleitoral na região, além dos Prefeitos, veremos que é algo expressivo, mas que não se reverte proporcionalmente numa força política, capaz de atrair investimentos públicos e privados para a região e de influenciar nas decisões políticas estratégicas.

A eleição de 2012, que já bate em nossas portas, poderá ser uma nova oportunidade de iniciar um processo de valorização da Baixada e de construção do debate dos grandes temas que, de uma forma ou de outra, mexem na vida de quem vive nesta imensa cidade chamada “Baixada Fluminense”.

*Vereador e presidente municipal do PCdoB de Nova Iguaçu