José Cícero: A despeito de Bin Laden e outras reflexões proibidas

“Eu dei a ordem!”. “Bin Laden está morto”. “A justiça foi feita”. “O mundo agora ficou melhor”… Que frases mais graníticas, cinematográficas. Por demais hollywoodianas, não viessem de um chefe de estado.

Um presidente tido como diferente e, pasmem, ganhador do Nobel da Paz. Isso mesmo: um pseudo pacifista de araque posto que, na prática, tem escolhido o tempo todo a opção da guerra por meio da política beligerante do governo que dirige. Agorinha mesmo acaba de matar netos e filho de Kadafi na invasão imoral que faz à Líbia.

Um Nobel da Paz fazendo uso da morte como solução de conflito. E o assassinato como saída para se acabar com o mal. Um democrata que não respeita o princípio da autonomia dos povos e, tampouco a soberania das nações livres e independentes do planeta. Então, como podemos perceber, esta é a diplomacia deste mundinho do faz-de-conta. Depois, como não desconfiarmos deles? Mas na imprensa marrom do big brother mundial o homem é mais que um pacifista. Ele é quase um santo. São Cifrão quem sabe…

Que Bin Laden foi um louco, um terrorista cruel e perigoso todo mundo sabe. E o terrorismo um ato criminoso dos mais horripilantes. Mas o que todos talvez não o saibam, porque “eles” não dizem, é que Bin Laden se fez um grande terrorista sob a substancial ajuda e treinamento do exército norte-americano a partir dos 80 quando o utilizaram para combater os russos. Em resumo: um ex-aliado dos EUA. Talvez não o saibam que o seu assassinato foi efetuado agora para servir como objeto puramente eleitoral no sentido de salvar a reeleição de Obama, diante do seu baixíssimo rendimento governamental. O que é evidenciado pela queda da sua popularidade, provocada pela pífia gestão econômica e social com uma dívida de quase 14 trilhões de dólares (uma das mais altas do planeta), desemprego de 10% – o maior da média histórica -, além da perda de espaços geopolíticos por outras regiões do globo.

O que muitos talvez não saibam é que a família ‘Bin Laden’ manteve durante anos laços de amizades e transações comerciais na área de petróleo com o ex-presidente Bush. Portanto, tudo não passa agora de um grande espetáculo recheado de sensacionalismo midiático. É no mínimo curioso que nos últimos dias que antecederam o ataque terrorista ao saudita Bin Laden, Barack Obama tenha inopinadamente resolvido apresentar o documento da sua verdadeira naturalidade, feito às pazes com a oposição da imprensa conservadora… Enfim, um teatro cercado por uma clássica e enfadonha ópera bufa.

E o que dizer do cenário para o anúncio oficial do assassinato? Um corredor com um longo tapete vermelho. Obama entrando ao fundo com passos marciais como que minimamente treinados. Indo em direção aos microfones posicionados estrategicamente em frente os fotógrafos e às câmara de TV. Depois da notícia o mais interessante: a saída. Obama fica de costas para o público – os telespectadores. Como quem diz: Eu venci. Eu sou o seu herói. E as plaquetas do povo em delírio do outro lado diziam exatamente isso: Obama 1 x 0 Osama. Mas que bacana!

Uma saída no melhor estilo dos filmes de faroeste. Um clássico bang-bang americano passado agora na maionese do marketing capitalista para a ávida degustação da idiotice planetária. Um “shownalismo” em cadeia mundial… Como se já não bastasse o casamento real!

O moçinho deixando a cena do duelo após abater o inimigo com um único tiro (de festim) diante do saloon repleto de curiosos. Algo só digno de John Weiner, Giuliano Gemma, Django. Mas com um diferencial: até no filme o mocinho nunca atira no seu inimigo desarmado. Até exame de DNA foi providenciado. “Bin Laden está morto, o mundo agora será melhor”. Quem de fato acreditará nesta falácia?

Mas, e o terrorismo? Inclusive o de estado que os EUA promovem e realizam historicamente. A exemplo do apoio dado a Israel para que este continue tomando o território e massacrando o povo palestino. E a invasão e bombardeio que ora realiza na Líbia matando inclusive inocentes da população civil. A entrada para a operação sorrateira no Paquistão, a devastação do Iraque – Será que tudo isso também não constitui atos terroristas?

Depois do enforcamento de Saddam para salvar o governo Bush, a coisa agora parece que virou moda. Um dia foi até Salvador Allende, Che Guevara… Resta saber quem será a próxima vítima. Contudo, do jeito que vai, caso o governo do Barack continue em declínio não será impossível que “eles” se voltem, quem sabe para Fidel, Hugo Chávez e por aí vai… Brincadeiras à parte, a coisa é mais séria do que pensamos… Visto que o governo norte-americano é por característica beligerantes adorar sangue. A história é uma prova viva desta assertiva.

E mais: depois dessa, é provável que se achem ainda mais donos do mundo. Portanto, todo cuidado é pouco. Pois a máquina de guerra dos EUA não é flor que se cheire, posto que não para nunca.

José Cícero é professor, poeta e escritor

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