Mauro Santayana em BH: Sou um marxista, um homem de esquerda

Na noite daquela segunda-feira, coberto por um Belo Horizonte, Mauro Santayana saiu do Hotel que estava hospedado, ao lado da sua inseparável esposa Vânia, para ali bem perto dar uma palestra no Sindicato dos Jornalistas da sua Minas Gerais. O tema, A responsabilidade ética do jornalismo.

Santayana 02 - Carlos Avelin

Estudioso, levava três folhas com a palestra debaixo do braço. Dali para frente, começou a encontrar velhos amigos de profissão e neles sua história no jornalismo, que começou no dia que fundou o Diário do Rio Doce, ainda na década de 1950.

Ao chegar ao auditório da Casa do Jornalista, local que freqüenta desde aqueles idos tempos, guardou no bolso a palestra dos papéis. “Pensava em fazer um discurso sociológico sobre ética, mas prefiro falar aqui da minha experiência. pois há 60 anos ocupo o mesmo ofício”

Dali pra frente, o que se ouviu foi os relatos de uma vida no jornalismo. Mauro contou sua história mineiramente como aqueles avôs do interior de Minas. Para os interessados na sua definição sobre a ética do jornalismo, Santayana tratou logo em saciá-los: “ética é simples, é ser solidário com o outro.”

Ao fazer um balanço da atual jornalismo, Santayana opinou que a cada dia os jornalistas perdem mais a capacidade de ter solidariedade com os mais pobres. E é do lado dos pobres que Santayana atua ao praticar o jornalismo. “Jamais escrevi uma matéria imparcial. No momento que se faz um lead já tomamos partido”, continuou, acrescentando que o papel do jornalista é fazer com que a sociedade se veja. “O jornalismo é essencialmente uma atividade política. Nós não refletimos a realidade, nos construímos a realidade”.

Jornalismo atual

Criticando uma tendência presente no jornalismo atual, Santayana disparou: “Eu leio essas colunas com notinhas dos jornais e sou capaz de adivinhar quem soprou para o jornalista aquilo que ele escreve.” Com a honra de ter sido escalado para coordenar a mesa, cutuquei Mauro nesse momento: “E quem paga!?”, interrompi-o, numa mistura de pergunta e afirmação. “E quem paga!”, concordou Santayana. Parece que aquela frase foi a chave para Santayana lembrar, claro, do banqueiro Daniel Dantas.

Para isso, contou uma história que ele mesmo viveu: “Um dia, um sujeito ofereceu-me 40 mil reais para fazer dois textos por semana para um portal. Recusei, pois vi algo estranho. No outro dia, conferi bem o nome do cartão que o fulano deixou comigo e vi que era coisa do Daniel Dantas”.

Falando ainda do banqueiro condenado Daniel Dantas, Santayana se disse abismado ao ver hoje um jornalista que admira, mas que se recusou a citar o nome, “escrever um livro para dizer que o Daniel Dantas é santo”.

“Homem de esquerda”

Santayana se declarou “um marxista, um homem de esquerda” e disse que a sociedade está cansada do neoliberalismo. Com olhos marejados de esperança, relatou as revoltas que inicialmente aconteceram no Norte da África e hoje tomam as ruas da Espanha. Rebeliões que clamam de forma uníssona por democracia e são organizados via Internet. “Esse movimento vai ganhar o mundo. Vai arrefecer na Espanha, na África, mas vai acontecer principalmente nos Estados Unidos”.

“Os Estados Unidos vão tremer. A crise econômica que os assola é pior do que a de 1929. Quem sabe o profeta Karl Marx não tinha razão. A grande revolução vem dos Estados Unidos”, proferiu o jornalista, com a experiência dos seus 79 anos.

Ainda analisando a revolução dos jovens no mundo, chamada de nova primavera, Santayana proferiu: “Isso que está acontecendo, esses jovens nas ruas, vai se alastrar pelo mundo. Vivemos a Grande Era da Comunicação, vivemos um tempo curioso e só tem uma solução, ir para rua.”

Com sua modéstia e mineiridade, jamais Santayana falaria a seguinte frase, mas bem que poderia terminar sua palestra dizendo que “Responsabilidade Ética do Jornalismo” é seguir os passos que trilhou na sua vida.

De Belo Horizonte,
Kerison Lopes