Sem categoria

ANP anuncia medidas para evitar falta de etanol na entressafra

Durante a audiência na Comissão de Minas e Energia nesta quarta-feira (25), o diretor da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Allan Kardec Duailibe, anunciou que a agência enviou carta ao Ministério do Planejamento pedindo rapidez no financiamento da estocagem de etanol nas usinas de cana – mecanismo chamado de ‘warrantagem’.A audiência foi sugerida após o aumento no preço do álcool durante a entressafra, que terminou em abril passado.

O objetivo é garantir o abastecimento durante a próxima entressafra. “O produtor quer vender seu combustível o mais rapidamente possível. Então, a gente trabalha para que ele mantenha o etanol em estoque, para vender só em janeiro, fevereiro ou março”, explicou.

Para o presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Única), Marcos Jank, o financiamento não é o suficiente. “O financiamento virá naturalmente se houver projetos rentáveis, o que não existe hoje”, disse. O cenário atual se modificaria, segundo ele, se houvesse outros mecanismos, como redução de tributos e até maior eficiência dos veículos flex.

Os especialistas que discutiram o assunto destacaram, que o País tem como desafio para a próxima década aumentar a produção de cana-de-açúcar e conseguir atender à demanda da frota cada vez maior de carros flex ou movidos a álcool.

Na opinião dos debatedores, o cenário atual do setor de álcool combustível é preocupante. “A entressafra pressionou os estoques que existiam e levou a um aumento de preços. O anidro (álcool que é misturado à gasolina) aumentou 121% em 2011 e o hidratado, 47%”, lembrou o presidente do Sindicato Nacional de Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicom), Alísio Vaz.

O presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Única), Marcos Jank, explicou que houve uma quebra de safra neste ano, em razão principalmente da seca, e não da migração da produção de cana para o setor de açúcar. “A migração que houve de metanol para açúcar foi de 5% da produção em três anos. A quebra que houve por conta da seca no ano passado foi 10% da produção apenas nessa safra”, disse Jank.

Novas usinas

Para contornar o problema, Alísio Vaz e Marcos Jank defenderam investimentos na produção de cana-de-açúcar e nas usinas de etanol do País. Segundo Jank, a produção de cana, que vinha crescendo a uma taxa de 10,4% ao ano desde 2002, desacelerou a partir de 2008, com a crise financeira mundial. Neste momento, a produção cresce a 3,3% ao ano.

“A desaceleração atingiu as indústrias. Em vez da construção de novas usinas, houve a compra de usinas em dificuldade. Empresas mudaram de mãos, mas não houve o plantio de novas safras. Temos que fazer a indústria voltar a crescer”, disse o presidente da Única.

Ainda segundo Marcos Jank, existe um déficit de 150 novas usinas de etanol até 2020, o que demandaria o investimento de R$80 bilhões. Ele afirmou que essas novas usinas não são criadas em razão do aumento do custo de produção da cana, que hoje é de R$ 54 a tonelada contra R$ 39 em 2005. Hoje o País conta com 427 usinas.

Desigualdades

Os participantes da audiência criticaram ainda a situação desigual do álcool em relação à gasolina. Conforme afirmaram, o álcool está sujeito a oscilações de preço, enquanto o preço da gasolina está protegido. “Quando o preço do álcool ultrapassa 70% do valor da gasolina, o consumidor rapidamente migra para a gasolina. Mas, aqui no Brasil, a gasolina não varia de preço desde 2005. Dá a impressão que o problema está no etanol”, disse Marcos Jank.

O presidente da Federação do Comércio Varejista de Combustíveis e Lubrificantes (Fecombustíveis), Paulo Miranda Soares, sugeriu que a margem de mistura de álcool anidro na gasolina seja de 10% a 25%, em vez de 20% a 25% (percentual válido até abril). A mudança de percentual, na opinião dele, permitirá uma mistura menor de álcool na gasolina e garantirá o abastecimento de postos na entressafra. Medida Provisória editada pelo governo em abril estabeleceu percentual de mistura de 18% a 25%. Essa MP aguarda votação na Câmara.

Com Agência Câmara