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Com acusação por um fio, Strauss-Kahn já é inocentado na França

A acusação contra ele não foi retirada. Mas, na França, Dominique Strauss-Kahn ou DSK, como ele é conhecido, já foi inocentado. Nas televisões, nas rádios e nas ruas, só se falava nisso: humilhados publicamente pelos americanos — que se apressaram em condenar um dos políticos mais populares do país como um "pervertido" —, os franceses tiveram o primeiro gosto de revanche contra um país, os Estados Unidos, que eles admiram tanto quanto detestam.

A questão é: Strauss-Kahn tem alguma chance de voltar à cena política? Na sede do Partido Socialista, políticos nos bastidores dizem que sim — se ele quiser ou puder, mas provavelmente não mais como candidato à Presidência da França. E por dois motivos: não há tempo, e as cartas do jogo foram redistribuídas, com os votos de DSK sendo divididos entre dois pesos pesados do partido, Martine Aubry e François Hollande.

Aubry acaba de se lançar oficialmente candidata e, para isso, afastou-se provisoriamente do comando do partido. Já Hollande, o ex-marido de Ségolène Royal, derrotada em 2007, está crescendo nas sondagens. Outro elemento: pesquisas mostraram que a maioria dos franceses acredita num complô contra DSK.

Apesar disso, a popularidade dele caiu. No partido, entretanto, há um grande alívio com as boas notícias de Nova York. Candidato ou não à Presidência, o escândalo significa uma mancha para um partido que tenta, sem sucesso, se reerguer de consecutivas derrotas nas eleições contra a direita francesa.

Não faltavam vozes, na quinta-feira (30), para propor uma mudança no calendário político do PS, de forma a permitir uma eventual volta triunfal de DSK como candidato à Presidência. Michèle Sabban, uma das mais fiéis escudeiras do ex-diretor-gerente do FMI, já reivindicou que "se suspenda o processo das primárias" do partido.

Pelo calendário atual, a disputa interna no PS rumo à eleição presidencial de 2012 começa no dia 13 de julho, prazo final para os socialistas apresentarem as candidaturas. O candidato do PS será escolhido nas primárias de outubro. Hollande disse que não tinha "reserva alguma" em relação a uma eventual mudança nas datas. Na prática, muitos sabem que o tempo joga contra DSK.

Mesmo que Strauss-Kahn se livre de uma condenação penal, vai provavelmente enfrentar uma batalha civil — ou seja, seu calvário judiciário pode se prolongar até o final do ano. Impossível adiar o calendário por tanto tempo. O porta-voz do PS, Benoît Hamon, foi direto ao ponto: “Isso (mudança de calendário) não está na ordem do dia”.

Outro político influente no PS, Arnaud Montebourg, também disse não ver "razão alguma para mudar" o calendário das primárias. O deputado Daniel Goldberg, próximo de Martine Aubry, concorda: “Sou contra dizer: suspendemos as primárias. Eu não imagino ele (DSK) assumindo outro compromisso que não seja apoiar Martine Aubry”.

Reflexão

Já Ségolène Royal, depois de se declarar "muito feliz" com a libertação de DSK, julgou "muito precipitado" imaginar um eventual retorno de Strauss-Kahn à cena política. “Ele tem tempo de refletir e nos dizer o que deseja. Deixemos o tempo retomar seu ritmo, porque tudo o que ele passou agora é absolutamente assustador. Penso que humanamente, pessoalmente, isso (a volta à politica) não deve ser a prioridade dele”, disse.

Outro que julgou "muito cedo" para um retorno político de DSK foi o ex-primeiro-ministro socialista, Lionel Jospin. “Na hipótese de que Dominique se veja livre de todas as acusações, o que eu desejo ardentemente, caberá a ele determinar o que fazer depois de tal choque pessoal. E depois caberão aos socialistas decidirem”, disse Jospin.

Aubry, que tinha um pacto político com DSK — de apoiar um ao outro — se recusou a especular sobre as consequências da reviravolta no caso. Pela manhã, antes da libertação de Strauss-Kahn, ela comemorou a reportagem do New York Times que revelou dúvidas crescentes à credibilidade da camareira que se diz vítima de estupro. “É a amiga de Dominique Strauss-Kahn que fala. Gostaria de dizer que as notícias que recebemos da imprensa americana nos dão uma enorme alegria.”

Da Redação, com informações do O Globo