RS: Ampliar a luta social pela democratização da mídia

Comunicadores, dirigentes, militantes e amigos do PCdoB se reuniram no sábado (23) no Encontro Estadual de Comunicação. Participaram os secretários nacionais do PCdoB José Reinaldo de Carvalho, de Comunicação, e Altamiro Borges, de Questões da Mídia, a secretária de Comunicação do governo do RS, Vera Spolidoro, o presidente da Fundação Cultural Piratini, Pedro Osório, oo presidente do Sindicato dos Jornalistas do RS, José Nunes, além do secretário estadual de Comunicação do RS, Clomar Porto.

Encontro de Comunicação RS - Barbara Paiva

A primeira parte do Encontro de Comunicação, que aconteceu no auditório da Fecosul, reforçou a importância de uma mobilização em torno da luta pela democratização das comunicações, principalmente, do marco regulatório. Conforme mostraram os painelistas, o marco se refere à regulação do mercado de mídia e à garantia de direitos humanos fundamentais. A regulação é necessária para impedir a propriedade cruzada e a concentração do controle nas mãos de umas poucas famílias e oligarquias políticas; garantir competição, pluralidade e diversidade.

Leia também

Apesar da grande mídia excluir de seus noticiários, a regulamentação da comunicação no Brasil está prevista desde a Constituição de 1988. Além disso, vários países ao redor do mundo têm dispositivos de regulação da mídia. Nessa questão, o Brasil ainda encontra-se muito atrasado. Como mostraram os painelistas, a desinformação em torno dessa atua na seguinte frente: confundir controle social com restrição da liberdade de imprensa e de expressão, ainda que sejam coisas totalmente distintas.

Se o estado não avançar na democratização da comunicação será mais difícil avançar nas lutas sociais, alertou Altamiro Borges, que também coordena o Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé. Altamiro destacou que a mídia vem desenvolvendo um trabalho sistemático de desestabilização do governo Dilma. “O namorico da Dilma com a grande mídia acabou”, disse ele. “A ANJ (Associação Nacional dos Jornais) afirmar que hoje cabe a mídia ser a oposição é sintomático”, afirmou José Nunes.

Regionalizar e descentralizar

A titular da Secom fez uma exposição das linhas de comunicação adotadas no governo Tarso, enfatizando que as orientações fundamentais são as de regionalizar e descentralizar. “Para a Secom, isso significa estabelecer um outro tipo de relação com os veículos de comunicação, onde o governo aparece como indutor de desenvolvimento na cadeia produtiva da comunicação”. Vera explicou que está em construção uma outra relação com os veículos, especialmente com os locais, regionais, segmentados, comunitários e digitais. Vera falou ainda sobre a importância do Conselho Estadual de Comunicação e informou que sua implantação já vem sendo discutida dentro de câmara temática do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.

A secretária mostrou ainda que a relação com as redes sociais ocupa lugar de destaque nos planos do atual governo. “Para o governador, o uso das redes sociais deve estar a serviço da democratização da gestão do Estado e do diálogo permanente da sociedade com o governo”, explicou Vera. Uma dessas ferramentas de diálogo com a população é o gabinete digital – o Governador 2.0.

TV Pública

O presidente da Fundação Piratini, Pedro Osório, fez uma exposição sobre a situação da TVE e da FM Cultura, que passaram por um processo de desmonte nos últimos governos. Atualmente enfrenta sérios problemas estruturais, crônica falta de pessoal e sucateamento da rede de retransmissoras. “A Fundação foi tratada nos últimos oito anos com alto grau de descaso. Nesse período os investimentos no parque técnico das emissoras TVE e Rádio FM Cultura praticamente inexistiram”. Entre 2007-2010, recursos na ordem de R$ 2.096.884,50 deixaram de ser executados em investimentos. “Só não acabaram com a Tv e a rádio porque não deu tempo”, disse.

Segundo Osório, a mídia privada desqualifica permanentemente a radiodifusão pública. Ele apontou alguns dos principais desafios da radiodifusão pública, como a de geração de conhecimento, estabelecendo nexos que não são aparentes entre fatos jornalísticos e culturais; capacitar a sociedade para incidir de modo expressivo sobre temas fundamentais para a rearticulação do Estado moderno; e viabilizar a apropriação pública de novos conceitos, contribuindo para a inserção ativa e autônoma dos indivíduos na sociedade contemporânea.

Lei de Imprensa

Para o presidente do Sindicato dos Jornalistas do RS, José Nunes, o fim da obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jonalista faz parte da estratégia da grande mídia para manter sua hegemonia e impedir a democratização. Outro golpe desferido nessa luta foi o fim da Lei de Imprensa, único dispositivo legal que impunha regras às atividades do setor e que também foi derrubado pelo STF, deixando um vácuo jurídico na área. “Os donos da mídia é que decidem quem será jornalista e só contratam os amigos do rei”, lamentou o sindicalista.

Encontro Internacional de Blogueiros

Altamiro informou que em outubro, em Foz do Iguaçu, será realizado o 1° Encontro Internacional de Blogueiros. Estão previstas a participação de nomes como o de Ignacio Ramonet, editor do Le Monde Diplomatique entre entre 1990 e 2008. O encontro vai discutir a liberdade na rede, redes sociais, inovações tecnológicas, o papel da blogosfera na atualidade, regulação da internet, democratização da mídia e universalização do serviço de banda larga.

Luta social

Já José Reinaldo alertou que a democratização dos meios de comunicação no país depende de uma ampla luta social, sem ela é difícil garantir avanços. O secretário nacional de Comunicação do PCdoB também chamou a atenção para a necessidade do fortalecimento da mídia alternativa, que necessita ter mais força para enfrentar o monopólio midiático.

Clomar Porto também reforçou que a luta essencial deste momento, o pós Confecom, deve ter foco no novo marco regulatório. Destacou que o momento é de transformações na área da comunicação, porém, para elas ocorrerem, é preciso muita mobilização da sociedade. "De um lado há novos ares, mais democráticos, principalmente no nosso continente, com muitos avanços importantes nessa área. De outro, a mudança tecnológica, uma nova plataforma de convergência das mídias. Isso coloca como necessidade, no caso do Brasil, um novo sistema de comunicação, mais democrático." Segundo ele o atual sistema, altamente concentrado e em rede, não corresponde às necessidades da sociedade e é incompatível com uma nova cultura da comunicação que está nascendo.

De Porto Alegre
Barbara Paiva