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Zillah Branco: As revelações do 11 de Setembro nos EUA

Quando eu era criança, ainda na década de 40, aprendi com meus pais a ler as notícias nos jornais – Estadão e Folha da Manhã – com um “coador” para eliminar as intenções políticas conservadoras e compreender nas “entre linhas” a realidade. Foi uma boa escola que hoje me permite acompanhar na TV o que vai pelo Brasil e pelo mundo com maior objetividade, graças, também, ao conhecimento direto que adquiri na vida como militante comunista.

Por Zillah Branco*

Acompanhei a avalanche de comentários, entrevistas e filmes que a Globo News fez a propósito do 10º aniversário do ataque feito às Torres Gêmeas em Nova Iorque. A primeira lembrança que me ocorreu foi pensar como o Iraque, o Afeganistão, assim como a Bósnia, o Vietnam, a Coreia do Norte, agora a Líbia, e outros mais, como Hiroshima e Nagazaqui, gravaram os atos terroristas que os Estados Unidos e seus aliados praticaram nos seus países quando os invadiram deixando centenas de milhares de mortos e uma destruição que retardou o desenvolvimento daqueles povos e minou a natureza com produtos químicos letais por décadas.

Com isto, não minimizo o sofrimento do povo norte-americano quando foi atacado perdendo três mil cidadãos inocentes, em condições de terror inaceitáveis, em um mundo que sabe o que é a Paz e os Direitos Humanos. Em alguns livros escritos por americanos, como por exemplo Sonhando com a Guerra, de Gore Vidal em 2002, já havia lido que a história estava mal contada pelo FBI e pelo Governo Bush, pois, antes do ataque, a CIA (agência de inteligência dos EUA) já revelara indícios de um plano terrorista.

Agora, em algumas entrevistas apresentadas pela TV Globo, alguns interlocutores levantam esta hipótese e mais: que o ataque da al-Qaeda foi uma “resposta” ao terrorismo desencadeado pelos Estados Unidos quando inventaram pretextos falsos para provocar novas guerras de conquista.

Então, o que agora se promove com o luto por três mil cidadãos inocentes e um impacto na história da humanidade (que passou a temer o terrorismo atribuído aos árabes e muçulmanos), nada mais é do que um falso registro histórico que transforma os verdadeiros terroristas, imperialistas, em vítimas.

Vítimas são os civis nos Estados Unidos ou em outros países; terroristas são os que desenham estratégias de guerra e inventam falsos motivos, como a construção de armas químicas ou atômicas pelos países que têm riquezas minerais cobiçadas por aqueles que lutam pelo poder mundial.

A frieza e o cinismo imperial ficam visíveis em um vídeo, apresentado pela Globo News, onde Bush aparece no momento em que deve tomar uma atitude em relação ao ataque do 11 de Setembro (atribuído ao seu antigo amigo Bin Laden, filho do rei da Arábia Saudita, apoiado pelos EUA para expulsar os soviéticos do Afeganistão), e com aparente segurança e tranquilidade diz: ”Quero lá saber das leis internacionais, vamos fazer o que precisamos”. Em outra oportunidade é o seu vice, Dick Cheney, que comenta : “Obama quis condenar os agentes da CIA que torturaram, isto é um absurdo” pois sem tortura não se obtém informação.

E alguns agentes entrevistados pelo jornalista Geneton Moraes Neto confirmam a “necessidade de torturar para obter confissões úteis” como uma prática da formação na CIA. Explicam, como se fosse uma receita, a técnica para desmontar a percepção do torturado que acaba sem saber quem é e o que fez e confessa o que os agentes querem ouvir.

Ouvindo isto, constatando o cinismo cruel que é adotado nos EUA como uma norma legal, qualquer ser humano fica convicto de que o imperialismo é forjado por animais tenebrosos, que vivem com a consciência em outro mundo tenebroso, que precisamos combater de todas as maneiras.

Cérebros deformados pela cultura imperialista estão em pessoas aparentemente normais, como um agente da CIA, Robert Baer, que justifica as guerras que destroem o Afeganistão e o Iraque, e ameaçam todo o mundo árabe, dizendo: “No Oriente Médio estão 60% das reservas mundiais de petróleo necessários à economia ocidental”. Ele tentou matar Sadam Husseim antes do início da invasão e arrepende-se por não ter conseguido para evitar a Guerra do Golfo. Até parece ter algo de pacifista, apesar do cálculo financeiro frio e alheio a qualquer sentimento humano.

Junte-se a formação mental doentia imposta aos jovens norte-americano que se divertem com filmes de violência e jogos de guerra com a falta de segurança nos aeroportos, onde os terroristas sem treino suficiente (segundo os instrutores de voo entrevistados) conseguiram pilotar os grandes Boeing que derrubaram as Torres Gêmeas e o Pentágono, apesar de avisos ao FBI (Departamento Federal de Investigações) de que havia perigo de terrorismo em Setembro, e ficamos com a quase certeza de que tudo aconteceu de acordo com os interesses dos administradores da estratégia imperialista (que continua atuante e mandante no planeta).

* é cientista social e militante comunista pela transformação social no Brasil, Chile, Portugal e Cabo Verde