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Comunicação e luta de ideias em defesa da identidade comunista

Vivemos um momento de ampla, profunda, extensa e duradoura cise do capitalismo, intensificação da agressividade do imperialismo, aumento das contradições e tensões sociais e políticas e de eclosão de conflitos internacionais. Não são conflagrações militares frontais entre as grandes potências, mas sucessivas intervenções imperialistas contra países e povos soberanos, sob diferentes pretextos.

José Reinaldo Carvalho*

É uma situação que exige dos comunistas e demais forças da esquerda consequente reflexão, ação e organização. Um momento propício à luta de ideias e à acumulação revolucionária de forças, de intenso labor ideológico.

É notável que, malgrado a derrota histórica do socialismo em finais do século passado, os comunistas demonstrem a sua permanência como força organizada e atuante na sociedade. Em toda a parte multiplicam-se as iniciativas para relançar e organizar a corrente comunista. No âmbito internacional, consolidou-se o Encontro de Partidos Comunistas e Operários. No Brasil os comunistas celebrarão em março do próximo ano o 90º aniversário da fundação do PCdoB e 50 de sua reorganização revolucionária desde que rompeu com o revisionismo e o oportunismo de direita.

A Comunicação das forças revolucionárias com seus militantes e a sociedade, a Agitação e Propaganda, são tarefas da maior relevância nos dias atuais. Não se trata de publicidade ou visão de marketing político-eleitoral, mas de uma atividade voltada para vincar uma clara identidade política e ideológica, identidade comunista, ligada ao caráter de classe de uma organização de trabalhadores que luta pelo socialismo. Uma comunicação, agitação e propaganda revolucionária, de massas, patriótica, internacionalista, anti-imperialista e anticapitalista.

Comunicação e agitação e propaganda que se reflitam também na difusão de uma estratégia e tática combativa e flexível, capazes de mobilizar o povo e as forças vivas do movimento democrático e patriótico, através de caminhos concretos e viáveis, em cujo percurso as correntes de pensamento e organizações do socialismo e da revolução sejam capazes de acumular vitórias parciais e força, numa permanente luta pela hegemonia.

Comunicação, agitação e propaganda funcionais à difusão de um programa político concreto, que aponte para as massas que a conquista do socialismo não é um objetivo intangível nem abstrato, mas uma possibilidade histórica concreta. Comunicação, agitação e propaganda, a serviço da tática e da estratrégia da revolução democrática, popular, anti-imperialista no rumo do socialismo.

Na luta de ideias é indispensável abordar com prioridade o tema da construção do Partido. Ainda hoje, são recorrentes os questionamentos dos revisionistas e oportunistas de direita sobre o esgotamento da “forma-partido” e o “fim da ideologia”, a negação da militância revolucionária e da formação de quadros comunistas, do papel de vanguarda do partido, reduzido a mero sujeito de embates eleitorais, esvaziado de seu caráter de instrumento de luta por tansformações sociais profundas e de organizador coletivo das massas populares. Tanto a noção de Partido Comunista quanto a de ideologia, de um modo genérico, sofrem contestações de toda a ordem.

Tornou-se lugar comum a disseminação da equivocada premissa de que inexistem esquerda e direita. É nessa onda de tergiversações campeia o liquidacionismo ou se cultivam os elementos de degenerescência política, ideológica e orgânica.

Em contraposição a essa corrente, uma bem estruturada Agitação e Propaganda pode desempenhar um papel ativo na demonstração de que é atual o esforço para construir um partido comunista, com nítida identidade de classe e ideológica, um partido de militantes conscientes e, por óbvio, um partido de massas, ligado aos trabalhadores e ao povo, capaz de dar diretivas políticas capazes de sensibilizar as maiorias. Um partido capaz de enfrentar o desafio eleitoral e das lutas políticas e sociais dos trabalhadores e do povo.

Nunca é demais insistir na tese leninista e gramsciana de que a missão do partido comunista é liderar a classe trabalhadora na luta histórica por uma nova sociedade, o socialismo, propiciar a essa classe o instrumento político e organizativo para empreender essa grande travessia.

A Identidade comunista não é um enunciado, um rótulo ou uma efígie, mas se expressa no dia-a-dia, no que fazer cotidiano, nos grandes e pequenos embates políticos, econômicos, sociais e culturais do povo. É como um DNA a determinar o caminho da vida, uma espécie de bússola a orientar os militantes, uma sinalização para a via e o rumo revolucionários, para uma permanente acumulação de forças com agudo sentido estratégico. Mais e não menos ideologia, é o de que o Partido Comunista e toda a esquerda consequente e revolucionária necessitam para cimentar seu crescimento e estruturação orgânica.

A defesa da identidade comunista do Partido não é atemporal, tem sua particular importância em cada época histórica, ligada às tarefas políticas concretas. Mas é indondicional e indeclinável. E é algo que avulta toda vez que crescem as pressões ideológicas e políticas, como agora, pelo rebaixamento da missão histórica e dos objetivos estratégicos do partido.

Nisso devemos enfatizar aspectos ideológicos e políticos. O Partido Comunista do Brasil tem uma identidade: trata-se da organização política dos comunistas, um partido que luta pelo socialismo no Brasil e no mundo, um partido de classe, das amplas massas trabalhadoras e demais camadas populares que formam o povo brasileiro, que potencialmente reúne a atenção e as esperanças de todo o contingente dos que formam a maioria da sociedade e se encontram em contradição antagônica com o sistema capitalista, um partido patriótico e internacionalista, portador e veiculador de uma ideologia e de uma teoria de interpretação e transformação do mundo — o socialismo científico, o marxismo-leninismo, doutrina sempre jovem, com seu método dialético de apreensão e transformação da realidade, em constante renovação, que não se esgota nas formulações dos seus fundadores e se atualiza continuamete.

Nesse sentido, os comunistas têm, além da ideologia e da teoria, um instrumento político de inestimável valor – o Programa do Partido – o qual é a síntese mais concentrada dos objetivos de nossa luta a curto, médio e longo prazos. O Programa estabelece o rumo socialista, o caminho nacional e as bandeiras políticas atuais.

A Comunicação, a Agitação e Propaganda dos comunistas contribuem para elevar o nível de consciência política do povo, ajudá-lo a despertar para a luta política e social, rebelar-se contra as injustiças e iniqüidades das classes dominantes e do imperialismo.

Na sua tessitura fundamental, a Comunicação tem a enorme responsabilidade de ser porta-voz do Partido, de difundir em larga escala, para as amplas massas do nosso povo a sua mensagem de esperança e luta nas transformações necessárias ao advento de uma nova sociedade, em sintonia com a realidade concreta, sem artificialismos nem tergiversações.

É preciso saber combinar, no labor da Comunicação, tal como na luta política cotidiana, a tática e a estratégia, a intervenção no quadro político conjuntural das forças reunidas nos movimentos patrióticos e populares e o rumo revolucionário.

Luta contra o monopólio privado dos meios de comunicação

A realização dessas tarefas no momento atual defronta-se com uma realidade marcada pelo obscurantismo do pensamento único difundido pelos meios de comunicação monopolizados opor um pequeno número de grupos privados.

Os grandes meios de comunicação privados se transformaram em arautos do conservadorismo, do neoliberalismo, do militarismo e do belicismo das forças que se encontram no centro hegemônico do poder no mundo contemporâneo. Nesse sentido são cúmplices dos crimes que tais forças cometem, a exemplo dos genocídios na ex-Iugoslávia, no Iraque, no Líbano, na Palestina, no Afeganistão, na Líbia e em todas as partes do mundo. O incremento dessa política belicista e de agressão aos povos, monitorada pelos “falcões” do imperialismo, mobiliza imensos recursos financeiros e técnicos e corrompe grande número de porta-vozes por toda parte.

No paroxismo dessa missão, esses meios de comunicação mentem, caluniam, difamam, deformam, tergiversam, desinformam e, consoante o caso e de acordo com suas possibilidades, investem contra os governos progressistas e os movimentos sociais.

No Brasil, e acredito que também em muitos outros países, é urgente abrir o debate e tomar medidas políticas que assegurem um marco jurídico democrático regulador da comunicação social – um ordenamento jurídico que amplie as possibilidades de livre expressão de pensamento e assegure o amplo acesso da população a todos os meios – sobretudo os mais modernos como a internet. Esta ideia causa alvoroço e pânico entre os conservadores e os barões da mídia, despertando a costumeira gritaria contra a “censura”, o “totalitarismo” e alegações semelhantes.

Mas é necessário reafirmar que o direito à comunicação é indispensável à cidadania e à democracia. Faz parte da luta democrática hoje combater a monopolização do setor de comunicação, revisar os critérios de concessão de canais e redes de comunicação ao setor privado, ampliar a rede pública e criar mecanismos de controle social.

A regulação dos meios de comunicação não é censura mas instrumento fundamental para o exercício democrático do direito constitucional que assegura a liberdade de pensamento e de expressão. A monopolização dos meios de comunicação pelos grupos privados ligados ao capital monopolista-financeiro e aos círculos imperialistas constitui a maior e mais concreta ameaça contra o pleno exercício daquelas liberdades e que permite o exercício de uma verdadeira censura privada contra notícias e opiniões que não agradem aos donos da mídia.

No Brasil de hoje, liberdade de imprensa é, na verdade, liberdade de empresa, que assegura à mídia hegemônica a difusão de um pensamento único que não admite contraditório.

Democratizar os meios de comunicação significa a criação de critérios de responsabilidade cívica, legal e social que cabe a todos os que atuam neste setor. Significa também fortalecer a mídia alternativa, contra-hegemônica, popular – seja qual for o nome que se dê a ela – assegurando a plena multiplicidade de pontos de vista que expressem a riqueza de opiniões existente na sociedade e que, nas condições atuais, encontra enormes dificuldades para se manifestar.

Contrariamente às pretensões dos monopolistas da mídia, a instauração de um marco regulatório da mídia é um passo necessário e fundamental para a democracia.

A esquerda deve apropriar-se dos avanços tecnológicos

Os meios de comunicação dos comunistas e demais forças de esquerda no Brasil e no mundo conta com poucos recursos financeiros, técnicos e profissionais. No entanto, muito pode ser feito na luta crescente pela democratização das informações, nos esforços para falar às amplas massas, com clareza e veracidade, na difusão de informações, análises e opiniões.

Os comunistas e demais forças de esquerda precisam criar uma mídia alternativa e apropriar-se da revolução tecnológica – que hoje incorpora crescentes setores da sociedade, dos estudantes ao povo trabalhador, passando pela intelectualidade e seus formadores de opinião. Um dos mais importantes frutos dessa revolução tecnológica na área da comunicação é a internet.

Sem abraçar teses idealistas como a de que isto por si só representa a democratização das comunicações, a internet é um instrumento eficaz e poderoso para a difusão de informações, ideias e conhecimento.

Para alcançarmos êxito, devemos esforçar-nos para dominar plenamente e usar ilimitadamente as possibilidades da internet.

Os comunistas devem apropriar-se cada vez mais das ferramentas que tal revolução enseja, instruir-se e qualificar-se ao máximo no seu uso, sem perder a perspectiva do jornalismo militante e vivo, disponibilizando tais ferramentas a serviço do jornalismo democrático, popular, patriótico, enfim da difusão de uma mensagem transformadora.

É indispensável o aperfeiçoamento técnico e tentamos apropriar-nos sem timidez nem preconceito de todas as conquistas da revolução tecnológica na área da informação e comunicação.

A Comunicação deve empenhar seus esforços para difundir entre milhões de pessoas a mensagem da esquerda, dos comunistas e setores progressistas, por isso a linguagem dos comunistas deve ser a mais clara e direta possível: falar aos corações e mentes do povo, estimular suas mobilizações e organizações associativas.

Sem perder a plasticidade nem a amplitude, é necessário transmitir essa mensagem com clareza e frontalidade. Trata-se de transmitir de maneira viva e clara as grandes ideias-força que conformam o arcabouço político, ideológico e revolucionário do movimento comunista e da esquerda.

Não devemos aceitar que os veículos de comunicação das forças de esquerda sejam de baixa qualidade técnica, o que exige o concurso de profissionais competentes. Somos alternativos na ideologia, na política, na linha editorial, na interpretação e opinião que temos sobre os fatos, mas nos empenhamos para ter meios de comunicação com bom nível técnico e profissional.

Hoje há múltiplas possibilidades: portais e páginas de internet, blogs, micro-blogs e redes sociais. Tudo isso pode e deve ser utilizado à exaustão. Há uma imensa rede de portais, páginas e blogues internacionais que se inserem nesse amplíssimo relacionamento, desde os que são confeccionados pelos partidos comunistas e outras forças antiimperialistas, neles incluídos os movimentos e organizações sociais.

É preciso levar em conta que os meios técnicos atuais permitem a ubiquidade, a instantaneidade, a interatividade, a conectividade social. Hiper-textos e hiper-links e os recursos multimídia devem ser ferramentas úteis à difusão de mensagens de luta e transformação política e social.

Em conclusão, podemos dizer que a luta de ideias é permanente e multidimensional, tarefa da organização e de todos os quadros e militantes. Não para fazer a proclamação vazia de intenções e princípios, mas para disputar a hegemonia e despertar a consciência dos trabalhadores e do povo.

*José Reinaldo Carvalho é jornalista, secretário nacional de Comunicação do Partido Comunista do Brasil e editor do Portal Vermelho.