Dólar tem maior queda diária em 16 meses, mas sobe 5% na semana
Tudo que sobe tem que cair. E no caso do dólar, se o preço não cai, o Banco Central (BC) ajuda. A disposição da autoridade monetária em dar liquidez ao mercado para que ele se ajuste está entre as razões para o ajuste de baixa visto hoje no preço da moeda americana.
Publicado 23/09/2011 18:07
De fato, o dólar não caía tanto em um único dia desde 10 de maio do ano passado. No fim da jornada, o dólar comercial apontava queda de 3,48%, a R$ 1,829 na venda. Na mínima, o preço da moeda foi a R$ 1,828. O giro estimado para o interbancário ficou em US$ 1,9 bilhão.
Na semana, no entanto, o dólar ainda acumulou alta de 5,54%, maior ganho semanal desde a primeira semana de maio do ano passado. No mês, o resultado ainda é uma impressionante alta de 14,81%. E da mínima observada em 26 de julho, a R$ 1,537, o preço da moeda americana já subiu 19%.
Na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), o dólar pronto caiu 2,38%, para R$ 1,849. O volume negociado no dia somou US$ 32,25 milhões, contra US$ 69 milhões no pregão anterior.
Também na BM&F, o dólar para outubro tinha baixa de 3,82%, a R$ 1,8365, antes do ajuste final, depois de subir a R$ 1,961 (+1,07%) e cair a R$ 1,827 (-4,32%).
Além dessa disposição do BC em ajudar o mercado a se zerar, o comportamento do real, hoje, ficou bem alinhado ao registrado por outras moedas emergentes como o peso mexicano, o rand sul-africano e o zloty polonês, que também mostram firme valorização ante o dólar.
Não se pode descartar o viés técnico da baixa. Até ontem, o dólar subia 9,35% na semana e 18,96% no mês. Segundo um especialista, tal movimento de baixa também mostra que grande parte das posições vendidas (aposta pró-real) foi coberta. Ou seja, quem estava perdendo com a alta já se acomodou.
Para o estrategista-chefe da CM Capital Markets, Luciano Rostagno, a atuação do BC no mercado futuro mostra que a autoridade monetária começou a se preocupar com a alta do dólar e seus efeitos na inflação, apesar do discurso de que o impacto do câmbio nos preços é menor atualmente do que já foi.
“O governo queria sim um câmbio mais depreciado, mas a taxa chegou a um patamar que começou a preocupar”, disse.
Olhando além do intradia, Rostagno aponta que o câmbio no Brasil parece funcionar dentro de uma “banda implícita de oscilação”. A taxa não “deve” ir acima de R$ 1,90/R$ 2,0, mas também não pode ficar abaixo de R$ 1,70, já que desde que o dólar perdeu R$ 1,75 o governo começou a acentuar as medidas cambiais.
O intrigante, e ao mesmo tempo preocupante nisso tudo, é que não parece existir meta única no governo, que tenta coordenar o câmbio, o crescimento (só se fala em PIB acima de 4%) e a inflação. A questão, na visão de Rostagno, é que não dá para segurar as três pontos de uma só vez.
Fonte: Valor