Brasil não pode se deixar levar pela especulação, diz Steinbruch
Revelando a preocupação do setor industrial brasileiro com a variação do dólar, o vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e presidente da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Benjamin Steinbruch, criticou nesta segunda-feira, 26, a falta de ação do governo para evitar picos de oscilação cambial como os verificados nos últimos dias.
Publicado 26/09/2011 15:56
“O Brasil tem que exercer uma posição de liderança. Não pode se deixar envolver em posições especulativas”, comentou, referindo-se ao salto na cotação do dólar, que chegou a ultrapassar R$ 1,90 na semana passada. No começo de setembro, o dólar girava ao redor de R$ 1,60.
Risco de desindustrialização
Steinbruch foi contundente ao afirmar que o setor manufatureiro brasileiro não tem condições de exportar devido ao alto custo de produção no país. “Estamos num grande risco de desindustrialização, não por falta de competitividade, mas pelas distorções que existem dentro do país. Não existe a menor possibilidade de o Brasil competir com a Ásia”, afirmou ao participar do 8º Fórum de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV).
O vice-presidente da Fiesp ainda destacou que o Brasil está “sob ameaça severa de redução de atividade econômica e início de redução de emprego”, o que quebraria a corrente renda-emprego-consumo que, segundo ele, diferencia o país no cenário internacional. “O Brasil nunca esteve tão bem, enquanto os outros países nunca estiveram tão mal. Precisamos tirar proveito disso”, ressaltou. “O desconhecimento da crise ainda é muito grande. Essa crise parece ser muito mais séria do que estamos vendo”, complementou.
Câmbio flutuante
A exposição do Brasil ao excesso de volatilidade da moeda neste momento de crise – que leva incerteza aos agentes econômicos e favorece a especulação – é o desdobramento lógico da política de câmbio flutuante. É bem diferente do que ocorre em muitos países asiáticos e em particular na China, que pratica uma política de câmbio administrado, no qual as cotações variam dentro de certos limites (ditados pelo Estado). Os movimentos anárquicos do mercado são levados em conta, mas já não exercem o mesmo papel determinante.
Quando se fala na competitividade da Ásia não se deve ignorar que a política cambial é um fator que faz diferença, provavelmente o mais fundamental. Os industriais japoneses, que também sofrem com a valorização do iene, foram um pouco além na compreensão do tema (em relação ao vice-presidente da Fiesp) ao pedir que o governo nipônico siga o exemplo da Suíça, que acabou com a política de câmbio flutuante e seguiu o exemplo chinês. Os empresários brasilerios ainda morrem de amores pelo Estado mínimo neoliberal.
Por aqui, a equipe econômica, liderada por Guido Mantega, cultiva um estranho apego ao câmbio flutuante, uma herança neoliberal incorporada à Carta aos Brasileiros, assinada por Lula em junho de 2002, e tratada desde então como um dogma. Será que o ministro se considera mais sábio que seus pares na China e na Suíça?
Da Redação, com informações do Valor