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Luciano Martins Costa: Incitação ao preconceito no SPTV

Uma das reportagens do noticioso SPTV, da TV Globo, transmitido por volta do meio-dia da terça-feira (18), tratava de um treinamento de policiais militares paulistas para enfrentar situações críticas. Na cena mostrada, policiais interagiam com atores fazendo o papel de criminoso e vítima, e um deles submetia o outro com um revólver.

Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa

A cena se desenrola rapidamente: o suposto sequestrador libera a vítima, que se aproxima dos policiais enquanto o “marginal” é dominado.

Na passagem diante da câmera, o detalhe que chama atenção: o ator que faz o papel de vítima tem a pele mais clara e veste uma camiseta do São Paulo Futebol Clube; o outro, no papel do bandido, é mais moreno e usa uma camiseta do Sport Club Corinthians Paulista.

A cena se passa rapidamente, mas é suficientemente clara para ver o escudo do clube nas costas do personagem.

Algumas questões podem se colocadas aqui. Uma delas: quem produz tais cenas para treinamento dos policiais sabe que está reforçando um preconceito que irá definir a ação dos agentes de segurança na vida real?

Outra questão: o jornalista encarregado de cobrir o evento deveria ter notado o detalhe e, tendo percebido, fazer a observação ao oficial encarregado do treinamento?

A terceira: tendo visto a cena, o editor que preparou o material para ser levado ao ar deveria ter acrescentado um comentário ou cortado a cena?

Último ponto: nada disso tem importância e o observador está procurando pelo em ovo?

Ora, até os últimos paralelepípedos da cidade sabem que a ação da polícia é contaminada por preconceitos contra os mais pobres, contra negros, mulatos, jovens malvestidos e outros cidadãos socialmente vulneráveis.

Entre esses preconceitos persiste a discriminação entre torcedores de clubes de futebol, sob a suposição de que há clubes “de elite” e clubes “populares”.

Mesmo que a história do futebol no Brasil mostre que a diversidade entre os torcedores desqualifica esse tipo de classificação, até o linguajar dos narradores e comentaristas esportivos eventualmente reforça esses preconceitos.

Agora, colocar um torcedor do Corinthians no papel de bandido para ensinar policiais militares como agir na repressão ao crime é mais do que preconceito: é um acinte contra milhões de cidadãos e um estímulo à violência policial discriminatória.