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Delegação do PCdoB debate atualização do socialismo cubano

Uma delegação do PCdoB, liderada por seu presidente nacional do Partido, Renato Rabelo cumpre, desde quarta-feira (9), intensa agenda em Havana, a convite do Partido Comunista de Cuba. A delegação – que desembarcou na capital cubana na terça-feira (8) –, é composta ainda pelo secretário de Relações Internacionais do PCdoB, Ricardo Alemão Abreu, pela senadora Vanessa Grazziotin – presidente do Grupo Parlamentar Brasil-Cuba – e por Ronaldo Carmona, da Comissão Internacional do PCdoB.

A delegação se reuniu nesta quarta com o ministro da Cultura de Cuba, Abel Prieto — destacado e arguto intelectual cubano — que tem sido observador privilegiado do curso da Revolução Cubana no período contemporâneo. Prieto milita há mais de duas décadas no setor de cultura. Antes de assumir o Ministério da Cultura, foi também presidente da União Nacional dos Escritores e Artistas Cubanos (Uneac).

O ministro fez uma longa e detalhada exposição sobre os Lineamentos — documento aprovado pelo 6º Congresso do PCC, em abril deste ano, que define mudanças substanciais no modelo econômico cubano. Ele também falou sobre o Documento Base para a 1ª Conferencia Nacional dos Comunistas Cubanos, que será realizada em janeiro de 2012. A conferência tratará de questões do Partido, visando ajustes que permitam à organização dos revolucionários cubanos aprimorar métodos para efetivar as atualizações definidas no congresso.

Para Prieto, diferente dos difíceis anos 90, quando Cuba sentiu diretamente o golpe do desaparecimento do antigo campo socialista — com o qual tinha intensa cooperação econômica —, o momento atual caracteriza-se como estratégico para o futuro, pois os debates e as medidas que estão sendo definidas neste momento serão decisivas para o aprofundamento do curso socialista próprio do povo cubano.

Citando Fidel e Raúl, Prieto lembrou que “o pior erro foi achar que saberíamos de antemão como seria o socialismo”, para em seguida ressaltar um clássico discurso do líder da Revolução Cubana, Fidel Castro, em 2005, na Universidade de Havana, para quem, a maior ameaça a continuidade do socialismo em Cuba estaria na possibilidade de erros cometidos pelos próprios revolucionários.

Em nome do PCdoB, Renato Rabelo, observou que Marx não definiu como seria o socialismo e nem poderia, pois a construção da nova sociedade se depara com distintas realidades e formações econômico-sociais em seu curso. Para o presidente do PCdoB, as experiências de construção do socialismo no século 20 buscaram interpretar Marx, a luz de distintas realidades e processos revolucionários. Renato manifestou ainda que o sentido da visita dos comunistas brasileiros neste momento a Cuba, era o de estudar e melhor compreender o rico debate desenvolvido pelo Partido Comunista de Cuba de atualização e desenvolvimento de seu caminho próprio na construção de sua experiência socialista.

O encontro também foi rico em exemplos e fatos. No âmbito do Ministério da Cultura, o Prieto tem sido chamado a por em prática os Lineamentos. Em especial, em sua área específica, está o desafio de reduzir a burocracia, a ineficiência e os desperdícios, potenciando suas atividades — com a finalidade de criar canais para a expressão da riquíssima cultura cubana. Dentre outros exemplos práticos, foi destacada ainda a criação de cooperativas de artistas no âmbito da cultura, que dinamizarão esse importante setor da sociedade cubana.

Prieto também reafirmou um princípio que marcará a atualização do modelo econômico socialista em Cuba — e que marca uma diferença essencial com o capitalismo —: a definição de que nenhum cubano será abandonado à própria sorte, marca das experiências neoliberais. O que se busca, ressaltou o ministro, é a valorização do trabalho produtivo como elemento central de organização social, visando potenciar os êxitos econômicos e sociais nesta etapa histórica do socialismo cubano.

Reunião no Comitê Central

A delegação dos comunistas brasileiros iniciou sua jornada com uma visita ao Comitê Central do Partido Comunista Cubano, localizado na histórica Praça da Revolução, onde foi recebida por Jorge Arias, vice-chefe do Departamento Internacional do PCC.

Na reunião, Arias realizou um pormenorizado recorrido pelo curso histórico da Revolução cubana, em especial nas últimas quatro décadas, contextualizando os debates e as medidas adotadas pelo 6º Congresso e que serão definidas pela 1ª Conferencia Nacional do PCC. O dirigente cubano fez estas observações à luz do “sentido do momento histórico”, como preconiza o comandante Fidel Castro.

A reunião foi a primeira de uma série de três encontros específicos com a área internacional do PC cubano — que buscará intercambiar visões sobre problemas políticos e teóricos e atualizar um programa de trabalho entre os PCC e o PCdoB.

Tendências da crise capitalista

A delegação visitou ainda nesta terça o Centro de Estudos da Economia Mundial (Ciem), instituição cubana que vem se destacando, desde os anos 90, por suas análises sobre a globalização e o neoliberalismo e, mais recentemente, pelas análises quanto à crise internacional deflagrada em 2007.

O encontro com os pesquisadores do Ciem possibilitou aproximações a respeito da natureza e das tendências da atual crise internacional. Em uma densa exposição, Ramon Pichs, subdiretor do Ciem, desenvolveu impressões sobre a natureza estrutural da crise, inerente ao capitalismo e não apenas uma “crise cíclica a mais” e relacionou-a com outras dimensões não-econômicas da crise. Pichs, entretanto, observou como importante lição às forças revolucionárias, que não é a crise em si que derruba o capitalismo, mas a ação consciente e organizada das forças políticas e sociais.

Renato Rabelo reforçou que o PCdoB faz um esforço para compreender o que é singular na crise atual, visando extrair lições mais ajustadas para o desenvolvimento da luta pelo socialismo e elogiou os trabalhos do Ciem, segundo ele, “uma referência nos debates sobre a crise do capitalismo”.

A agenda da delegação do PCdoB prossegue nos próximos dias com múltiplas atividades.

De Havana,
Ronaldo Carmona