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Crise dissemina-se enquanto líderes europeus continuam inertes

Os desempenhos dos bônus estatais italianos foram novamente lançados em direção ao proibitivo 7%, enquanto os países com avaliação AAA verificam apavorados que seus próprios spreads evoluem ascendentemente. A crise não só continua, mas recrudesce, e os mercados investem contra a inércia política dos empoados líderes e demais autoridades da União Eueopéia (UE).

Por Maria Segre, para o Monitor Mercantil

A mudança de governo na Itália e, muito menos, a também (limitada) intervenção do Banco Central Europeu (BCE) no mercado de bônus não conseguiram delimitar a crise de dívida da Zona do Euro.

Apesar da nomeação do "Super Mario Boss", como já denominam o novo primeiro-ministro da Itália, Mario Monti, os desempenhos dos bônus italianos conformaram-se no início deste semana em nível superior, em 6,94%, sublinhando que não é só a Itália que enfrenta hoje gigantescos desafios, mas a Zona do Euro inteira.

Mais um sinal extremamente preocupante soma-se a toda esta situação: o leilão público de papéis com taxa de juro e prazo de 12 e 18 meses da Espanha alcançaram desempenhos no nível mais alto dos últimos 14 anos, isto é, desde 1997, em 5,922% e 5,159% respectivamente, de 3,608% e 3,0801% que haviam sido conformados no leilão anterior. Esta evolução também leva os desempenhos nos bônus italianos com prazo de dez anos aos mais altos níveis desde agosto deste ano.

Mas a preocupação não pára por aí. Também os desempenhos dos títulos estatais austríacos com prazo de dez anos encontram-se no nível mais alto da época após a implantação do euro, enquanto os yields holandeses aumentam aos mais alto níveis desde 2009.

Mercados querem mais

A propósito, Nick Stamenkovic, analista estratégico da RIA Capital Markets, faz questão de apontar que "o fato de que a Holanda e a Áustria já começaram a entrar no cenário da crise, ambos países que no passado eram considerados soldadinhos dos bunds alemães, isto é uma evolução particularmente preocupante. Os investidores não preocupam-se mais agora com a Itália e a Espanha, mas com a Europa em seus total, e isto é além de tudo inédito".

Crítica, também, é considerado o novo leilão de bônus da Espanha, cujo objetivo é conseguir arrecadar entre 3 e 4 bilhões de euros. Naturalmente, os olhares dos mercados estão dirigidos para lá, considerando que, como destaca Patrick Garvey, analista estratégico do ING, "já está claro que os mercados neste momento têm o sinal risk-off piscando".

Garvey acrescenta: "Aquilo que mostra o quadro dos mercados é que a possibilidade de existir uma conclusão positiva no que diz respeito o enfrentamento da crise é extremamente baixa. É de vital importância serem aceleradas as políticas, tanto na Grécia, quanto na Itália".

Mas os mercados querem ver, rapidamente, os detalhes em torno de como será aumentada a força do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (EFSF), agora que a Itália encontra-se no epicentro da crise, e o país deverá até abril do ano que vem refinanciar dívida totalizando 200 bilhões de euros.

Os traders afirmam que o contágio tem sido disseminado perigosamente e muito rapidamente e, a não ser que o BCE realize um forte come back, algo que não se vê em nenhum lugar no horizonte, não existe possibilidade de frear todo este pânico.

Jim Reid, analista do mercado de crédito do Deutsche Bank, considera que "a esperança no fim da semana passada era que a mudança de governo na Itália resultaria em um BCE mais agressivo. E no início desta semana, o BCE interveio no mercado e comprou bônus italianos, um lance que, contudo, não revelou-se suficiente, considerando que os desempenhos dos títulos com prazo de dez anos aumentaram, novamente, bem perto do crítico 7%, após o recuo da semana anterior.

Conforme, então, configura-se a situação – segundo o Deutsche Bank – fica extremamente difícil os mercados ficarem satisfeitos, se, finalmente, não existir total back stop (impressão de dinheiro) pelo BCE.