Núcleo quer extirpar da Zona do Euro os países da periferia
Terapia de gangrena em um paciente que sofre de câncer com metástase. Mais ou menos assim pode-se aproximar com termos médicos os perigosos jogos com os cenários de saída da Grécia da Zona do Euro publicados sábado passado pela revista alemã Der Spiegel.
Publicado 20/11/2011 15:36
Por uma vez mais os cenários de catastrofismo para a Grécia não dizem respeito à vontade política e à possibilidade do governo de Atenas de cumprir os acordados com seus parceiros. Não é nada mais e nada menos do que a impotência estratégica que acometeu o governo de Berlim em virtude dos terríveis abalos que sacodem a Itália, assim como os primeiros sinais de que a França, antes inclusive da Espanha, é bem provável que se torne o próximo elo fraco da Zona do Euro.
Convocada a Itália por "Frau" Angela Merkel, a fim de solucionar, sozinha, o problema do proibitivo custo de endividamento, enquanto a França apenas agora conseguiu recompor-se do "equivocado" e-mail da agência internacional de rating Standard & Poor"s que cancelava o rating AAA do país de Sarkozy.
Enquanto o governo de Berlim debruçava-se – por bem ou por mal – sobre o manipulado cenário das consequências de uma eventual saída da Grécia da Zona do Euro, Mohammed El Erian, CEO da Pimco, maior grupo de investimentos do mundo, em entrevista à imprensa, advertiu que "eventual saída de Grécia da Zona do Euro disseminará o pânico na Espanha, Irlanda e Portugal, com os mercados apostando em fim análogo para estes países".
Salvação em cima da hora, redução (corte) suave, redução (corte) mais forte, saída da Zona do Euro: esta receita do governo de Berlim para o gerenciamento da crise fiscal de um grande grupo de países integrantes da Zona do Euro é o que cobram os mercados e as agências internacionais de rating.
Profecia auto-realiazável
Tudo isso é não são simplesmente, incongruências, mas defrontam-se em choque com a retórica para fortalecimento de uma Zona do Euro determinada para ser duramente mutilada, formando um "Núcleo Central" da UE, uma proposta que hoje é – pelas circunstâncias – totalmente diferente da proposta do conselheiro democrata-cristão Kol Lamers em 1994 e do discurso do então ministro de Relações Exteriores da Alemanha, Joschka Fischer, em 2000.
Além disso, o cenário alemão para fortalecida – por intermédio da mutilação dos países fracos – Zona do Euro não atingirá somente o Sul, mas terá consequências funestas para a Europa Central e Oriental, considerando que, na realidade, fechará a porta de entrada à moeda comum a países os quais a Alemanha, após 1990, procurou, por intermédio da complementação européia, integrá-los em sua própria zona de influência.
Há algo mais de que paradoxal no momento de mudanças dos governos da Grécia e da Itália: a Alemanha "vazar" à imprensa, primeiro, sua declaração para que a Itália não espere salvação e, segundo, os cenários para o gerenciamento de eventual saída da Grécia da moeda comum.
O cenário tem a dinâmica de profecia auto-realizável, porque afeta a psicologia dos mercados, assim como as avaliações das agências internacionais de rating. O cenário, facilmente, torna-se veículo fora de controle, a exemplo dos trens de recrutamento de 1914: quando já haviam partido rumo ao front, o kaiser pensou detê-los, mas recebeu a resposta do Estado-Maior de que era tecnicamente impossível, porque aconteceria o caos.
Por Petros Panayotídis, no Monitor Mercantil