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Núcleo quer extirpar da Zona do Euro os países da periferia

Terapia de gangrena em um paciente que sofre de câncer com metástase. Mais ou menos assim pode-se aproximar com termos médicos os perigosos jogos com os cenários de saída da Grécia da Zona do Euro publicados sábado passado pela revista alemã Der Spiegel.

Por uma vez mais os cenários de catastrofismo para a Grécia não dizem respeito à vontade política e à possibilidade do governo de Atenas de cumprir os acordados com seus parceiros. Não é nada mais e nada menos do que a impotência estratégica que acometeu o governo de Berlim em virtude dos terríveis abalos que sacodem a Itália, assim como os primeiros sinais de que a França, antes inclusive da Espanha, é bem provável que se torne o próximo elo fraco da Zona do Euro.

Convocada a Itália por "Frau" Angela Merkel, a fim de solucionar, sozinha, o problema do proibitivo custo de endividamento, enquanto a França apenas agora conseguiu recompor-se do "equivocado" e-mail da agência internacional de rating Standard & Poor"s que cancelava o rating AAA do país de Sarkozy.

Enquanto o governo de Berlim debruçava-se – por bem ou por mal – sobre o manipulado cenário das consequências de uma eventual saída da Grécia da Zona do Euro, Mohammed El Erian, CEO da Pimco, maior grupo de investimentos do mundo, em entrevista à imprensa, advertiu que "eventual saída de Grécia da Zona do Euro disseminará o pânico na Espanha, Irlanda e Portugal, com os mercados apostando em fim análogo para estes países".

Salvação em cima da hora, redução (corte) suave, redução (corte) mais forte, saída da Zona do Euro: esta receita do governo de Berlim para o gerenciamento da crise fiscal de um grande grupo de países integrantes da Zona do Euro é o que cobram os mercados e as agências internacionais de rating.

Profecia auto-realiazável

Tudo isso é não são simplesmente, incongruências, mas defrontam-se em choque com a retórica para fortalecimento de uma Zona do Euro determinada para ser duramente mutilada, formando um "Núcleo Central" da UE, uma proposta que hoje é – pelas circunstâncias – totalmente diferente da proposta do conselheiro democrata-cristão Kol Lamers em 1994 e do discurso do então ministro de Relações Exteriores da Alemanha, Joschka Fischer, em 2000.

Além disso, o cenário alemão para fortalecida – por intermédio da mutilação dos países fracos – Zona do Euro não atingirá somente o Sul, mas terá consequências funestas para a Europa Central e Oriental, considerando que, na realidade, fechará a porta de entrada à moeda comum a países os quais a Alemanha, após 1990, procurou, por intermédio da complementação européia, integrá-los em sua própria zona de influência.

Há algo mais de que paradoxal no momento de mudanças dos governos da Grécia e da Itália: a Alemanha "vazar" à imprensa, primeiro, sua declaração para que a Itália não espere salvação e, segundo, os cenários para o gerenciamento de eventual saída da Grécia da moeda comum.

O cenário tem a dinâmica de profecia auto-realizável, porque afeta a psicologia dos mercados, assim como as avaliações das agências internacionais de rating. O cenário, facilmente, torna-se veículo fora de controle, a exemplo dos trens de recrutamento de 1914: quando já haviam partido rumo ao front, o kaiser pensou detê-los, mas recebeu a resposta do Estado-Maior de que era tecnicamente impossível, porque aconteceria o caos.

Por Petros Panayotídis, no Monitor Mercantil