Câmara de Curitiba afasta presidente suspeito 

 A Câmara Municipal de Curitiba aprovou por unanimidade nesta segunda-feira (21) o afastamento de seu presidente, João Claudio Derosso (PSDB), por 90 dias. O pedido foi feito pelo próprio vereador, pressionado por uma denúncia de improbidade administrativa apresentada na semana passada pelo Ministério Público Estadual.

*Rafael Moro Martins – Uol Notícias

 O MP pede à Justiça a devolução de R$ 5,9 milhões aos cofres públicos, o bloqueio dos bens e o afastamento do tucano do comando da Câmara. Derosso é investigado por suspeitas de fraudes em licitações que prestam serviços de publicidade à Câmara.
Uma delas, a Oficina da Notícia, pertence à mulher dele, a jornalista Claudia Queiroz Guedes. Os promotores também suspeitam que a revista “Câmara em Ação” –que custou R$ 18,3 milhões– seja superfaturada, e que tenha tiragem inferior à contratada.
O UOL Notícias apurou que o vereador também pediu licença do PSDB, embora ele não mencione isso na carta que apresentou à Câmara Municipal para justificar seu afastamento. Após o início da publicação das denúncias de irregularidades pelo jornal “Gazeta do Povo”, há alguns meses, Derosso ouviu um dos principais líderes tucanos do Paraná –o presidente da Assembleia Legislativa, Valdir Rossoni– pedir publicamente para que ele se afastasse para não prejudicar o partido.
Na carta apresentada aos vereadores nesta segunda-feira, Derosso se mostra contrariado com a decisão que tomou. “Solicito o afastamento da presidência da mesa (…) embora não seja meu desejo no presente momento (…) para preservar a instituição Câmara Municipal”, escreveu. No comunicado, o tucano ainda se diz “de consciência tranquila” e ataca a “Gazeta do Povo”, publicada pelo principal grupo de comunicação do Paraná, a quem atribui uma “campanha difamatória” contra si.
Perfil
Presidente da Câmara desde 1998, Derosso foi aliado importante dos últimos três prefeitos de Curitiba –Cassio Taniguchi (DEM, atualmente secretário estadual do Planejamento), Beto Richa (PSDB, atual governador) e Luciano Ducci (PSB, eleito como vice de Richa e provável candidato à reeleição). Sob Derosso, a bancada de apoio ao governo sempre teve maioria folgada no plenário. Até a eclosão do escândalo dos contratos de publicidade, ele era cotado para candidato a vice-prefeito em 2012, ao lado de Ducci.
“Sempre defendi a apuração de todas as acusações, sem pré-julgamentos. Acho que essa decisão [do vereador] vai contribuir para o completo esclarecimento dos fatos”, disse Richa, também presidente estadual do PSDB. Procurada pela reportagem, a assessoria de comunicação da Prefeitura de Curitiba informou que nem Ducci nem seus secretários comentariam o afastamento de Derosso.
“Isso é o que pedíamos desde o início [do escândalo]”, afirmou o líder da oposição na Câmara, Algaci Tulio (PMDB). “Se ele [Derosso] tivesse nos ouvido, teria evitado um desgaste para ele e a instituição.” Após a publicação das denúncias, a Câmara instalou CPI para apurar o caso, presidida por um tucano (Emerson Prado) e com maioria de aliados da prefeitura.
“Ao ver que elementos da CPI procuravam protelar o andamento dos trabalhos, o Ministério Público viu que precisava cobrar desta casa uma posição, e denunciou Derosso”, argumentou Tulio. “Não quero dizer que o presidente tenha interferido [nos trabalhos da CPI], mas foi muito difícil fazer as coisas andarem.” Procurado pela reportagem, o líder da prefeitura na casa, João do Suco (PSDB), não retornou as ligações.
Entenda o caso
À época em que sua empresa venceu a primeira licitação de publicidade da Câmara, em 2006, Claudia Queiroz Guedes era funcionária da casa, segundo o MP. Por isso, sequer poderia ter participado da concorrência, que segundo a denúncia dos promotores “teve critérios estritamente subjetivos para avaliação e julgamento das propostas técnicas”.
À época, ela e Derosso alegam que não mantinham qualquer relacionamento. No entanto, os dois já estavam juntos em 2009, quando os contratos foram renovados graças a aditivos. Por isso, o MP pede o afastamento de Derosso e a devolução dos R$ 5,9 milhões pagos à empresa de Guedes entre 2006 e 2010.
Por conta das denúncias, Derosso foi denunciado ao Conselho de Ética da Câmara em 21 de julho por irregularidades na contratação da Oficina da Notícia. Após o recesso parlamentar, em agosto, os vereadores aprovaram a criação de CPI para apurar o caso.