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Egípcios rejeitam proposta militar; confrontos entram no 5º dia

A promessa, por parte da Junta Militar, de uma transição mais rápida para um regime civil chegou, mas não foi suficiente para convencer milhares de egípcios a abandonarem os protestos, que já fizeram 38 mortos. A Praça Tharir continua ocupada e manifestantes entraram em choque com policiais e soldados pelo quinto dia consecutivo no centro do Cairo, nesta quarta.

Manifestantes da Praça Tahrir participam de enterro de egípcio morto durante confrontos
com as forças de segurança no Cairo/ Foto: Reuters

Não foi apenas no Cairo que os manifestantes resistiram. Esta manhã, um homem morreu durante os confrontos com a polícia na cidade de Alexandria. Na cidade de Suez, os participantes marcharam para a praça al-Arab'in.

O marechal Hussein Tantawi, líder do Conselho Superior das Forças Armadas que governa o país (SCSAF) desde a queda de Hosni Mubarak, foi à televisão na terça à noite para confirmar a realização de eleições parlamentares, na próxima semana, e de presidenciais até julho. Antes, a junta militar havia marcado as eleições presidenciais para o fim de 2012 ou o início de 2013.

Tantawi também aceitou a demissão do primeiro-ministro civil, Essam Sharaf, e do seu Executivo, apresentada na véspera. E, na tentativa de pôr fim às manifestações, a junta militar afirmou que formará um "governo nacional de salvação" em substituição ao gabinete que renunciou.

As promessas não foram consideradas suficientes pelos milhares de manifestantes reunidos na Praça Tahrir e em outras cidades do país, que pedem a saída imediata de Tantawi, que passaria o poder para um conselho civil que governaria o Egito até as eleições.

Muitos dos que contestam o marechal ouviram com desagrado a sua proposta de referendo sobre se o regime militar deve ou não terminar mais cedo – algo que alguns encaram como uma tentativa de chegar aos que temem mais tumultos e de os afastar dos jovens ativistas.

“Sai! Sai!”, gritavam os integrantes do protesto na rua. “As pessoas querem derrubar o marechal”, cita a Reuters. "Tantaoui é a cópia de Mubarak, é Mubarak em uniforme militar", disse Ahmed Mamdouh, de 35 anos, citado pela agência AFP.

A televisão passou imagens de ambulâncias a chegar durante a noite à Praça Tahrir, que já tinha sido o centro do movimento contra Mubarak. A polícia voltou durante a noite a usar gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes, que lançaram pedras. Houve quem denunciasse também o uso de balas de borracha. Os principais confrontos acontecem em frente ao prédio do Ministério do Interior, próximo à praça.

Segundo uma análise da BBC, o anúncio feito ontem por Tantawi torna a situação dos ativistas “mais complexa”. A Irmandade Muçulmana – provavelmente o maior grupo político do Egito e certamente o mais bem organizado e influente – não está participando destes últimos protestos, destaca a agência britânica. “Quer que as eleições avancem, e muita gente na praça não quer eleições. Dizem que, primeiro, querem ver cair o governo militar”.

Ou seja, ao contrário das manifestações de fevereiro passado, quando a queda do ditador era o objetivo de todos, os que agora saem à rua não estariam totalmente unidos nas suas posições.

O escrutínio prometido por Tantawi vai começar na próxima segunda-feira, mas será preciso esperar até janeiro para ser concluído.

O calendário inicial previa que o novo Parlamento elegesse uma assembleia constituinte encarregada de, em seis meses, apresentar a nova Constituição. Depois seria realizado um referendo para aprovar o documento e só depois aconteceriam as eleições presidenciais. Isso implicaria que o país teria os militares no poder durante mais um ano, ou talvez mesmo até ao início de 2013.

Nesta quarta-feira, a alta comissária da Organização das Nações Unidas (ONU) para os direitos humanos, Navi Pillay, condenou o "uso de força excessiva" pelas forças de segurança do Egito e pediu uma investigação sobre as mortes de manifestantes.

"Faço um apelo para que as autoridades egípcias ponham fim ao claro uso de força excessiva contra os manifestantes na Praça Tahrir e em outros locais do país, o que inclui o aparente uso impróprio de bomba de gás, balas de borracha e munição real", afirmou, em comunicado.
"É necessária uma investigação rápida, imparcial e independente, além de punições para os responsáveis pelos abusos", acrescentou.

As promessas da junta foram anunciadas após uma reunião de cinco horas entre os militares, candidatos e líderes de partidos. Na segunda-feira, o gabinete liderado pelo premiê Essam Sharaf entregou seu pedido de renúncia após três dias de turbulentas manifestações.

Durante a reunião, foi decidido que as eleições parlamentares ainda começarão na semana que vem, conforme programado. Selim al-Awwa, que participou das conversas com os militares, afirmou à agência de notícias estatal Mena que o novo governo formado "implantaria os objetivos da revolução".

Com agências