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Marcos Moraes: Câncer, educação e solidariedade 

 Comer um cheeseburger com batatas fritas e refrigerante como substitutos de um almoço saudável; tragar um cigarro; abusar do álcool; sair da cadeira do escritório para a poltrona de casa. Hábitos que, além de serem responsáveis por uma parcela dos casos de ansiedade, depressão e obesidade, também têm relação direta com o câncer, a segunda maior causa de mortes no mundo.

Por Marcos Moraes*, em Folha de S.Paulo


O relatório "Food, Nutrition, Physical Activity and the Prevention of Cancer", do Fundo Mundial de Pesquisas sobre Câncer, indicou que o número anual de casos de câncer no mundo, 10 milhões, pode chegar a 16 milhões na próxima década, com um avanço de 7 milhões para 10 milhões de mortes por ano.

A principal causa apontada pela pesquisa é a obesidade, mas o tabagismo ainda está relacionado a várias formas da doença, especialmente a que ataca os pulmões e a boca -ainda mais potencializada por uso de álcool e sedentarismo.

Não são fatores determinantes, mas não fumar, ter alimentação saudável e praticar exercícios físicos regularmente podem reduzir em até 70% o risco de desenvolver câncer, diz o relatório.

Mudar hábitos não é fácil. Estilo de vida saudável deve começar na infância, em casa, e seguir na escola, onde o indivíduo pode assimilar o quanto a opção pelo exercício físico e pela alimentação balanceada são importantes.

O caminho da prevenção e da detecção precoce do câncer é a principal forma de combater a disseminação da doença. Segundo a Organização Mundial da Saúde, medidas de prevenção e de detecção precoce não só reduziriam os números de incidência de câncer mas também poderiam evitar 40% das mortes pela doença.

O avanço das pesquisas, o aumento do diagnóstico precoce e o êxito em campanhas de prevenção, com especial destaque ao caso pioneiro no Brasil de luta contra a indústria tabagista, são alguns dos resultados de ações da Fundação do Câncer ao longo de 20 anos.

As conquistas são apenas possíveis por causa da solidariedade de empresas e pessoas que entendem que a luta é de toda a sociedade.

No ano passado, estimulado pelo então vice-presidente José Alencar, lancei a ideia de uma lei que beneficiasse as instituições filantrópicas de combate ao câncer.

Há três meses, os presidentes do Instituto do Câncer de São Paulo, da Associação Brasileira das Instituições Filantrópicas de Combate ao Câncer e eu entregamos à presidente Dilma Rousseff proposta com benefícios fiscais a doadores que contribuíssem com instituições de auxílio a pacientes com câncer.

A proposta foi acolhida e está em analise. O entendimento da importância do combate ao câncer pelo governo nos abrirá mais uma frente nessa luta. O incentivo à doação será fundamental para a compreensão da relevância dessa causa. Mas os pacientes não podem esperar.

O trabalho das instituições continua e depende do ato de amor de cada um. Saúde e solidariedade não são apenas escolhas, mas condições para vida feliz e com qualidade.

*Marcos Moraes, 75, oncologista, é presidente do conselho de curadores da Fundação do Câncer e da Academia Nacional de Medicina.