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Previdência movimenta economia de 70% dos municípios

Embora amaldiçoada pelo neoliberalismo tucano, que quer vê-la privatizada, a Previdência Social tem uma importância extraordinária para o crescimento da economia nacional, conforme indica pesquisa coordenada pelo presidente da Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita (Anfip), Álvaro Solón de França, organizada em livro cuja sexta edição foi lançada nesta terça-feira (29) em Brasília.

Os benefícios pagos pela Previdência Social são o principal motor da economia em sete de cada dez municípios do país. Das 5.566 cidades brasileiras, 3.875 (70%) têm os benefícios previdenciários como maior fonte pública de renda, superando inclusive o chamado Fundo de Participação dos Municípios (FPM), espécie de mesada repassada pelo governo federal.

Distribuição de renda

“Não fossem os benefícios previdenciários, a maioria dos municípios estaria na barbárie. Eles funcionam como uma âncora social”, argumenta Álvaro Solón de França. Sem a Previdência, segundo ele, mais de mil municípios brasileiros teriam como única receita os repasses do FPM.

“A Previdência Social pública brasileira é o maior sistema de redistribuição de renda do mundo. Não existe um sistema público de previdência fundado no sistema de repartição em lugar nenhum do mundo que tenha esse efeito redistributivo”, observa o auditor, responsável pelo livro A Previdência Social e a Economia dos Municípios, cuja sexta edição, atualizada, foi lançada nesta terça-feira (29) na Câmara dos Deputados.

Álvaro avalia que a Previdência Social, apesar de todas as críticas que recebe, cumpre seu papel constitucional 
ao redistribuir renda e reduzir as desigualdades sociais e regionais.

R$ 10,5 bilhões mensais

De acordo com dados reunidos na publicação, quase 70% do dinheiro originário dos benefícios pagos pela Previdência, como aposentadoria e auxílio-desemprego, são aplicados diretamente na economia local. Uma injeção mensal de R$ 10,5 bilhões. “A maioria dos beneficiários não faz poupança com esse dinheiro, que vai direto para o consumo”, explica Álvaro. “Isso dinamiza a economia local, além de fixar as pessoas nas cidades de origem e conter o processo de favelização em muitos casos”, acrescenta.

O livro mostra que o impacto dos benefícios previdenciários sobre a economia, sobretudo nos menores municípios, supera de longe o proporcionado pelo FPM. Composto por 22,5% do que o governo federal arrecada com o Imposto de Renda e o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), o fundo é distribuído conforme o tamanho do município. “A grande maioria das cidades brasileiras não tem renda própria. Mas esses valores do FPM cresceram em patamar inferior ao pagamento dos benefícios previdenciários”, conta o auditor. No Rio de Janeiro e no Espírito Santo, por exemplo, apenas um município em cada estado recebe cota do FPM superior ao benefício previdenciário.

Linha da pobreza

Segundo o auditor, alguns fatores explicam essa diferença entre o Fundo de Participação dos Municípios e os recursos previdenciários: a estabilização da moeda, o crescimento da renda e do número de trabalhadores com carteira assinada, além da política de valorização do salário mínimo nos últimos anos. “Sem os benefícios previdenciários, haveria mais 23 milhões de brasileiros vivendo abaixo da linha da pobreza, ou seja, com renda familiar per capita de R$ 232,5”, diz Álvaro, fazendo referência a um estudo do Ministério da Previdência.

O auditor ressalta que os idosos e as mulheres têm sido cada vez mais protegidos pela Previdência no Brasil. Em 1992, por exemplo, 74% dos idosos recebiam benefícios previdenciários. Quase duas décadas depois, esse índice chega a 81%, algo em torno de 17 milhões de pessoas com mais de 60 anos. Inserção ainda maior tiveram as mulheres. Atualmente 77,8% delas são alcançadas pelo sistema. Há 19 anos, esse índice era de 66,3%. “Essa expansão se deve ao ingresso cada vez maior da mulher no mercado de trabalho. É uma conquista importante”, observa o presidente da Anfip.

Transferência de recursos

Outra vantagem apontada por Álvaro em seu livro é a capacidade dos municípios mais ricos de socorrer os mais pobres. Em 4.589 cidades brasileiras, o pagamento dos benefícios supera o valor arrecadado. Em outras palavras, não fosse a repartição do bolo, o sistema seria inviável em quase todo o país. Para pagar um ano de benefícios, os moradores de Santa Cruz (RN), por exemplo, precisariam de 183 anos. Em Curralinho, no Pará, seriam necessários 141 anos. “Há um efeito de redistribuição de renda, inibindo as desigualdades regionais. Há uma clara transferência de recursos dos municípios mais estabelecidos para os mais pobres. Um socorre o outro”, avalia.

Para o presidente da Anfip, esses indicadores mostram o papel fundamental que a Previdência Social exerce na economia do país, redistribuindo renda e movimentando o comércio local. Ele também rebateu o falso conceito de déficit previdenciário, utilizado pelas forças conservadoras para desmoralizar e enfraquecer o sistema previdenciário público. “Não existe déficit nem no sistema público urbano e nem no rural, porque a Previdência Social está inserida no conjunto da Seguridade Social [a Constituição Cidadã de 1988 criou as fontes de financiamento, entre elas Confins, PIS e CSLL]. Em 2010, a Seguridade Social foi superavitária em mais de R$ 58 bilhões”, afirma.

Tese falsa

A direita insiste na falsa tese do déficit, ignorando deliberadamente as fontes criadas pela Constituição para financiar a seguridade social (que inclui a Previdência), com o objetivo de justificar retrocessos como o fator previdenciário e outras “reformas” que reduzem o valor das aposentadorias e pensões, aumentam a idade mínima para a obtenção do benefício e abrem caminho à privatização.

Alega-se, ainda, que a população brasileira está envelhecendo e a perspectiva de vida aumentando para atacar os direitos previdenciários. Mas a verdade, geralmente omitida, é que a única e verdadeira causa do desequilíbrio entre receita e despesa do setor público, refletido no chamado déficit nominal, é a ciranda financeira com a dívida interna, ou seja, o pagamento dos juros. A realização de superávit primário mostra que o resultado entre arrecadação e gastos públicos é positivo.

A sexta edição de A Previdência Social e a Economia dos Municípios, que cumpre importante papel no desmascaramento do pensamento neoliberal sobre o tema, foi lançada nesta terça-feira, às 18h, no Café do Salão Verde da Câmara dos Deputados. O livro tem prefácio do ministro da Previdência, Garibaldi Alves Filho. A primeira versão foi publicada ainda em 1999; e a última, em 2004. A publicação traz dados por estados e regiões, de arrecadação, benefícios emitidos e FPM.

Com informações do Congresso em Foco