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Acumular forças no plano político, social e da luta de ideias

Devemos concluir apreciação já iniciada em setembro, atualizar a visão sobre a realidade partidária e as tarefas que se apresentam. São enormes as necessidades ainda para acumular forças, no plano politico, social e da luta de ideias. Mas vamos caminhando, com êxitos importantes, e nosso debate consolida a avaliação.

Por Walter Sorrentino*

Nossa linha político-organizativa é consistente: vamos persistir nela, essa é nossa principal conclusão, com base no Programa Socialista e nos compromissos firmados no 7º Encontro Nacional sobre Questões de Partido.

Em setembro, no CC, afirmamos: “É muito gratificante a atividade partidária, impressiona. Uma ultrapassagem de limiar”. Atribuí o movimento positivo das conferências à onda de choque político promovida pelo Programa do 12º Congresso, ao esforço de integrar mais política e construção organizativa – a partir da liderança do CC, à luz das diretivas do 7º encontro Nacional – e registrei o insuficiente avanço da PQ em sua efetiva dimensão. Quer dizer, quanto a este último ponto: somos um partido relativamente grande e cada vez mais complexo; sem a política de quadros a pleno vapor não vamos progredir em cuidar estrategicamente dessa estrutura.

O ano foi excepcional também por outra razão: a tentativa de nos impor uma derrota política que atravanque o ulterior desenvolvimento do PCdoB no país. Em setembro dizia: “o PCdoB é alvo de pressões e da luta política contra o governo. Em certos círculos da chamada ‘opinião pública’ a pressão é por um ‘partido como os outros’: uma luta política e ideológica desmoralizadora que envolve a mídia, a oposição e círculos sectários da esquerda”.

Palavras premonitórias. Foi o ano em que “vivemos em perigo”. De fato, deixa um rastro de contaminação sobre a imagem do PCdoB que demandará atenção e algum tempo para ser enfrentado. Não deve ser subestimado. Foi um ataque “estrutural” e se transformará em agiornamento persistente da luta contra o partido. Uma pesquisa de imagem precisa aferir isso, em 2012, e em relação com o projeto eleitoral.

Não é demais repetir: a razão do ataque é devida ao crescimento e influência do PCdoB. Aliás, no Chile e Uruguai também houve atentados contra os partidos comunistas. Mas, contraditoriamente, foi uma prova de fogo para o Partido, um grande teste inesperado no qual se demonstrou uma integral coesão das fileiras e estruturas partidárias. Ninguém “vazou”, a reação de revolta e indignação foi instantânea e firme. Considere-se isso uma demonstração a mais de que ter uma estrutura de quadros confiantes na orientação, bem informados e articulados em torno da direção central mostra-se o capital decisivo para as vitórias do partido. Mais um ponto a favor da centralidade da política de quadros para a construção partidária.

Quais as indicações que sustentam o diagnóstico de setembro?

Em primeiro lugar, a construção do projeto político de 2012, centro das conferências estaduais. Já foi apresentado o quadro. Ter candidatos fortes ou expressivos (política e eleitoralmente) em 8 a 10 capitais não é para muitos partidos! Nossa dinâmica de acumulação eleitoral, sabe-se, recolhe o que plantamos e isso foi prioritariamente pelas grandes cidades e grandes lideranças, não tanto pela base municipal extensiva. Em 2012 podemos dar grande passo também em importantes cidades médias que estão no projeto nacional ou estaduais.

Falo também da luta de ideias. A partir do Programa Socialista é notável a elevação de nosso papel, seja junto a setores mais amplos das forças políticas e sociais, seja no interior da vida partidária. A ideia de atualizar o marxismo e por um novo projeto nacional de desenvolvimento como caminho para o socialismo gerarão ainda muitos dividendos na construção partidária. Jamais devemos perder isso de vista: o Programa é o vértice de nossa ação e formação política e ideológica. O Partido existe e quer ser forte para cumprir seu programa político, nunca como hoje consentâneo com os desafios do país.

Na ação de massas, nos termos em que ocorre hoje no país, segue o esforço de ligar isso à perspectiva do projeto político, politizar os movimentos na grande luta por novo projeto nacional. Mas também no concernente à construção partidária, a ideia de Fórum dos Movimentos Sociais foi um aprimoramento de experiência que ainda deve gerar muitos frutos para o fortalecimento dos laços do partido com o povo mobilizado. Ainda haverá a Conferência de mulheres e, na luta sindical, a CTB vai sendo posta no radar da luta política do país. Tudo isso é fundamento de nossa luta; não obstante, segue necessário ampliar a capacidade de falar a todo o povo trabalhador, inclusive o componente inorgânico.

Quanto à construção organizativa, própria de ano de Conferências, os resultados são acentuadamente positivos.

O número de mobilizados cresceu 34% em dois anos, igual que o número de filiados, o que é inédito e sinal de saúde militante.

O número de municípios em conferência cresceu 15% em dois anos, mas há outros 800 municípios onde há núcleos de partido sem terem realizado conferência.

O número de bases se estendeu para cerca de 2500 nas maiores cidades, fruto do 7º Encontro. O crescimento registrado é de mais de 200%.

Novos filiados acorreram ao partido em grande escala (34% em dois anos), particularmente nestes meses últimos. Entre eles, há lideranças expressivas, sociais e políticas, que aumentarão nossa força eleitoral. Tem sido valorosa a capacidade de abarcá-los na vida partidária, e assim vamos continuar a proceder. Lamentavelmente, até o momento não temos computado o número final de vereadores, contra os 608 eleitos em 2008. Mas deve ter crescido em boa medida.

Temos 1400 integrantes de Comitês Estaduais, alvo central da PQ. Mudaram este ano 5 presidentes estaduais e 15 secretários de organização estaduais.

O partido se amoldou mais em sua vida interna normativa. Há três “vazamentos”, porém. O número de integrantes dos comitês por vezes ultrapassa o limite estatutário. Será preciso alargar esses limites no 13o. Congresso, porque o partido cresce. Enquanto isso, algum cuidado com o registro é necessário, porque contrariar o Estatuto pode vulnerabilizar a situação em algum caso de conflitividade (talvez o melhor fosse registrar apenas o número legal sem afetar o direito integral dos demais membros eleitos em conferência. O outro é o número de mulheres nas CPEs: alguns Estados importantes não alcançam 30%. É necessário identificar os modos como superaremos isso, um bom debate para a Conferência Nacional de 2012. Finalmente, o vazamento da política do Sincom e CNM. A organização não controla isso diretamente, pelo que os dados são apresentados pela Secretaria de Finanças. Mas são negativos. Quer dizer, na estruturação partidária aperta-se um parafuso, afrouxa-se outro. Expressa em última instância baixo compromisso, inaceitável por parte dos quadros dirigentes. Vamos retomar essa luta, imediatamente.

Por tudo isso, saudamos a todas as direções estaduais, as cessantes e as novas, que levaram o partido nos Estados a superar patamares de construção partidária.

Quanto à direção nacional, neste final de ano, metade do mandato, acrescentamos ao balanço de 2012. Os órgãos de direção funcionaram satisfatoriamente. Na CPN, as pautas combinaram assuntos políticos e assuntos de partido, em igual dimensão; as ausências se relacionam ormente com funções institucionais (Flávio Dino, Renildo Calheiros, Aldo Rebelo…). Situação especial foi vivenciada por Flávio Dino este ano. No CC, as pautas também abarcaram o plano político, partidário e de ação de massas. As ausências se estabilizaram, cerca de 10-12% a cada reunião, fora as de tempo parcial, em geral justificadas devido ao acúmulo de responsabilidades públicas de seus membros. Tudo isso segue para a comissão de Controle, para acumular até o 13º Congresso.

Enfim, o partido vivo é isso: teoria, política, ação, militância. O Partido não é um plasma, mas uma força material e cuidar de sua construção é o problema permanente. Toda energia que dedicarmos a isso, nas várias dimensões, é definitivamente estratégica.

Que fazer?

De modo simples e direto: que indicações ou diretivas dar para o período próximo? Não devemos inventar novas orientações a cada momento, até porque em matéria de construção organizativa se leva tempo; e não se deve repeti-las indefinidamente. Deve-se captar a cada momento o “estado da arte” e as singularidades em que decorrem o cumprimento das orientações traçadas.

É preciso persistir na última palavra que foi o 7º Encontro. Ele está vivo em nossa mente. A partir de todas as lideranças do CC, sustentar o discurso de alcançar maior espírito e estabilidade militante no partido, por meio de uma política de quadros consentânea com isso e com novo modo de direção organizativa. Será sempre necessário falar de “velhas coisas” para novos militantes – que no caso do PCdoB a cada biênio tem sido 30% mais –, mas com formas e meios renovados. Não vamos perder as bandeiras do 7º Encontro. Em especial, reitere-se: intensificar nossa capacidade de falar aos dirigentes intermediários e de base, diretamente para sustentar o discurso de alcançar maior espírito e estabilidade militante no partido, por meio de uma política de quadros consentânea com isso e o novo modo de direção organizativa que torne vigorosa a vida militante.

Depois, extrair lições do ataque de que fomos alvo. Fomos alvo porque estamos na grande luta política nacional, não estamos à margem, nos acostamentos da larga estrada para o novo projeto nacional de desenvolvimento. Estamos postos em outro nível de luta política, participando de governo que pode construir uma hegemonia mais prolongada das atuais forças políticas, e nisso cresce e se afirma outra legenda de esquerda, consequente como é o PCdoB.

Não desconheceremos as condições em que se trava essa luta, muito desigual ainda para os comunistas, inclusive e particularmente para viabilizar vitórias eleitorais. Não seremos fariseus: não se crescerá nem alcançaremos o projeto a que nos propomos sem passar por esse tipo de experiência. A luta foi política e política será. Dar-se-á nesse ambiente político, no curso da vida real, com o PCdoB realçando sua política ampla, hábil, de união de forças. Mais a fundo, com a luta pela regulamentação da mídia e o direito à informação, a modificação do sistema eleitoral e de financiamento das eleições etc. Nisso, naturalmente, entra o balanço da gestão administrativa realizada pelo PCdoB nos órgãos de governo.

Assim o faremos. Mas, essencialmente, a questão é ter autoconsciência maior daquilo a que já chegamos, o quanto “incomodamos” e, consequentemente, se precaver mais em termos políticos. Numa palavra: não nos subestimarmos e termos mais vigilância, mais combate ao pragmatismo de pernas curtas, mais cuidado com a vida partidária. Não há atalhos para acumular forças em tempos como os que vivemos, que não é tempo de situações revolucionárias. Essa a lição a reter. Faz parte do que chamei, em setembro, de fortalecer mais os contrapontos político-ideológicos e organizativos da vida partidária.

Há uma questão ligada à anterior, muito importante nestes anos de crescimento. Trata-se da identidade do partido. Há dois sentidos diversos para a questão da identidade. Uma é a de conteúdo. Falamos de um partido comunista, que luta pelo socialismo, mantém seus princípios, seu símbolo e história. É um grande dado nesse sentido tudo o que produzimos nestas duas décadas após a queda do Muro de Berlim, mais ainda pela capacidade de renovar a estratégia, o programa, a própria teoria. Mais ainda, é um dado importante que concorremos eleitoralmente com nossa legenda, símbolo e número, sob a consigna de partido do socialismo. E crescemos assim. Isso é para poucos ainda no mundo.

A outra dimensão da imagem-identidade é o de inserção social. É de se reiterar com enorme ênfase: temos de ser de fato, e não só de palavras, o partido dos trabalhadores, da juventude e das mulheres brasileiros. Reitero assim um desafio: é preciso fazer o partido refletir sempre mais a realidade do trabalho e dos trabalhadores. Para o presente e futuro do PCdoB isso é o mais estratégico. Não vamos nos diluir em meio a uma sociedade fragmentada em suas identidades; vamos, nós enquanto partido e consciência avançada, dar sentido de pertencimento aos trabalhadores de todos os tipos como classe. Afinal, é nossa missão histórica, mas também uma necessidade da luta política imediata.

Mas ambas representam nossa decisão política em como nos apresentarmos à sociedade. Outra questão é o da imagem do partido nessa mesma sociedade, como somos vistos. Claramente, a campanha movida contra o PCdoB afeta-a duramente, e será preciso uma luta persistente para repôr a verdade, recuperar o patrimônio moral da legenda. Entre muitos movimentos que isso exige, o da campanha eleitoral de 2012 será o mais central, porque ligado à disputa política.

Por último, para não alongar demasiado: é preciso examinar mais a fundo a questão da política de quadros como essência da construção partidária, a sua parte mais difícil, delicada e produtiva. Radicalizar, dizia em setembro, “tornar vigorosa a ‘propriedade emergente’ do novo estágio de formulação da política organizativa, o novo modo de direção organizativa. Faço uma metáfora: desde que temos a tomografia computadorizada ou a ressonância magnético nuclear para auxiliar nos diagnósticos, o simples raio X do passado cai em desuso relativo. A Política de Quadros do 12º Congresso é esse instrumental avançado: ou o utilizamos a plena carga ou nos atrasamos. Daí o desafio principal é o de as secretarias de organização estaduais compreenderem essa centralidade. Algo não está engatando nessa engrenagem, ainda. A mim me parece que a compreensão e adesão à diretiva é formal, quando não burocrática. A mim me parece central que os próprios Secretários de Organização precisam ser o pivô da compreensão e ação na política de quadros, e não terceirizá-la para algum membro da equipe. É a luta até o 13º Congresso.

Os movimentos de 2011 foram consistentes com essas indicações e lhe são suporte. Além do 7º Encontro, foi instituído o DNQJA, com caráter interdisciplinar de várias secretarias. Há o Portal da Organização que eleva nossa capacidade de difundir orientações organizativas para a base partidária. Há o sistema de Gestão Integrada de direção, que democratiza, sistematiza e acumula informações partidárias para a direção nacional efetiva. E há Estudos Estratégicos, recém inaugurado, menina dos olhos da questão central da política de quadros que é formar nova geração dirigente para os próximos 10-15 anos. EE significa que há um movimento sem volta: cada vez mais a luta de ideias, pelo conhecimento a partir do próprio esforço, será um componente central da construção partidária, inclusive critério para ser bom dirigente da nossa corrente de pensamento e ação. Não só combatividade e capacitação política, mas também capacidade de formular ideias avançadas, essa a mãe de todas as batalhas dos comunistas. Por isso, EE é mais instrumento destacado da política de quadros, no seu aspecto nevrálgico: formar a futura geração dirigente do PCdoB dos próximos 10-15 anos, formá-la do ponto de vista teórico. Com uma formação, decerto, avançada e empenhada nas questões teórico-políticas envolvidas no Programa Socialista, cujo conteúdo vale para o mais destacado de nossos dirigentes, como o mais recente membro de nosso CC. Vamos mostrar às forças políticas o quê e como estudam os comunistas, para além da simplificação e ativismo em torno dos temas estratégicos ao nosso país.

* Walter Sorrentino é secretário nacional de Organização do PCdoB

Texto apresentado durante a 9ª Reunião do Comitê Central do PCdoB, realizada entre os dias 10 e 11 de dezembro de 2011