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Momento de crise requer luta e reforço do Partido Comunista

Reveste-se de grande importância o debate que estamos realizando no Comitê Central sobre as conjunturas internacional e nacional, assim como sobre as questões de Partido.

Por José Reinaldo Carvalho*

A evolução da situação internacional revela as ameaças presentes na ofensiva militarista e belicista do imperialismo norte-americano e seus aliados da União Europeia, que através da Otan, do aumento das despesas militares e da presença de mais de 800 bases militares por todo o mundo, agridem os povos e nações, num grave atentado às soberanias nacionais, à paz mundial e à segurança internacional.

A ofensiva imperialista aumenta e agrava os focos de tensão, principalmente no Oriente Médio, mas não só. A estratégia imperialista volta-se para a Eurásia, Extremo Oriente, Ásia Central, Oceania e a própria América Latina.

Contradições insanáveis

Esta ofensiva política e militar de caráter intervencionista acentua as graves contradições e crises geopolíticas de nossa época, mormente porque se entrelaça com a aguda, profunda e sistêmica crise do capitalismo, a partir principalmente dos Estados Unidos e agora a Europa. A crise revela a intensificação das contradições insanáveis do capitalismo. É um cenário que dissipa ilusões, atesta a falência das políticas neoliberais da direita e as falsetas oportunistas da social-democracia.

Trata-se de uma combinação de várias crises: da produção, do investimento, do emprego, do consumo, da dívida, do orçamento, do comércio exterior, todas entrelaçadas com as crises energética, alimentar e ambiental.

Aumentam as tendências protecionistas, revela-se por inteiro o caráter do capitalismo monopolista estatal – na acepção leninista do conceito –, dominado pela plutocracia e a burguesia monopolista-financeira, crescem os conflitos entre as grandes economias, numa verdadeira guerra comercial e monetária, cujos desdobramentos são imponderáveis nos planos diplomático, político e militar.

Sucedem-se as declarações catastrofistas dos chefes de Estado das grandes potências. Há quatro anos, Bush admitia o risco do desastre sistêmico, hoje o anão político que governa a França, Nicolás Sarkozy, prenuncia a explosão da Europa, caso seu receituário antipopular não seja aplicado.

Fez bem o nosso partido ao não subestimar a crise do capitalismo e vislumbrar o seu potencial destrutivo, quando alguns caíam no canto de sereia da recuperação da hegemomia econômica dos Estados Unidos e nas potencialidades de regeneração do sistema capitalista.

Para o PCdoB, um partido de classe e identidade comunista, que tem por objetivo estratégico a destruição do capitalismo e a construção do socialismo, a crise não é só um objeto de análise, porquanto tem imenso potencial deletério para a soberania nacional de países como o nosso e para os direitos dos trabalhadores. É porque somos patriotas e revolucionários e um partido dos trabalhadores e comunista, que encaramos a crise com a gravidade que ela tem. A crise é um monstro, gerado no ventre infecto do sistema capitalista. Com ela não se brinca, sob pena de prejudicar irreparavelmente, por desleixo ou dolo, a nação e o povo trabalhador.

Chamado à luta

Encaramos a gravidade da crise com a seriedade que o assunto exige também porque para nós essa constatação deve necessariamente transformar-se num chamado à luta dos trabalhadores e dos povos. A nossa saudação aos trabalhadores em luta que têm realizado greves e manifestações em diversos países capitalistas. Não será nos salões atapetados do FMI, G-20, OMC, Banco Mundial, nas chancelarias ou nos gabinetes dos governos conservadores e neoliberais que a crise encontrará solução, mas nas ruas.

Igualmente, na medida em que a crise está entrelaçada com as políticas das classes dominantes retrógradas e do imperialismo, a postura que adotamos em face do grave momento que vive a humanidade é de intensificar a luta anti-imperialista. Nesse quadro, saudamos a constituição da Celac, expressão do novo momento progressista que estamos vivendo na América Latina.

Como força que luta por transformações sociais e políticas profundas e estruturais, com significativas responsabilidades nacionais, que assumimos com honra, devemos insistir na necessidade de aproveitar as boas condições políticas de nosso país, governado por forças progressistas, para deter a ofensiva neoliberal, pois num momento de turbulências internacionais, a nossa estabilidade, o nosso crescimento, o bem-estar de nosso povo, o avanço da democracia e o fortalecimento de nossa soberania não estão automaticamente assegurados. É ilusão pensar que vivemos num oásis.

Sem nos afastarmos um só milímetro de nossa posição patriótica, ampla, realista, unitária, frentista, devemos acentuar os postulados da esquerda consequente, lutar pela realização das reformas estruturais, defender os direitos do povo e a soberania nacional ameaçados pela ofensiva neoliberal. Nesse sentido, é justa a proposta de criar meios e modos de lutar contra os obstáculos que se nos interpõem no momento e avançar na luta por uma nova política macroeconômica e pela democratização e regulamentação da mídia, bandeiras imediatas com capacidade de mobilização de amplas forças políticas e sociais.

É alvissareira a informação de que o partido está sistematizando sua experiência e formulando propostas inovadoras para o movimento de massas. A luta das massas populares, dos trabalhadores, dos democratas e patriotas, da juventude, das mulheres e dos intelectuais progressistas é e sempre será para os comunistas a força motriz dos processos de transformações políticas e sociais, e a base sobre a qual poderá construir-se uma ampla aliança de forças progressistas.

Essa construção precisa ser iniciada com o fortalecimento do núcleo de esquerda do governo e por um amplo entendimento entre essas forças e os movimentos sociais, através de suas principais organizações, o MST, a UNE-Ubes, as centrais sindicais, etc.

Isto ganha maior relevo diante da constatação de que as classes dominantes retrógradas pretendem impor a sua agenda política. É ronceiro, rotineiro, mofado o ambiente político no país. Aqui “uns dias chove, outros dias bate sol”, como diz uma música popular. Falta pensamento estratégico, uma agenda que mobilize as energias criadoras do povo e traga à tona a sua vontade encoberta.

Reforçar o Partido Comunista

O reforço do Partido aparece nesse quadro como a nossa tarefa essencial. Reforço que passa pela conquista de uma vitória expresiva nas urnas em 2012, com nossas candidaturas majoritárias, chapas próprias proporcionais e – onde ainda for necessário –, de nossas candidaturas em coligações. Ademais, o ano eleitoral é um bom momento para fomentar o debate político qualificado sobre as questões específicas que estarão em jogo no pleito municipal e também sobre os grandes temas nacionais.

Eleições, do ponto de vista dos comunistas, devem sempre ser encaradas como embates políticos, em que se sintetizam num determinado momento as lutas de classes e populares. Isto nada tem a ver com eleitoralismo, nem pragmatismo, nem a prevalência de interesses pessoais. Eleição não é show nem concurso de brilhantismo pessoal, mas batalha política acirrada.

O contentamento com o crescimento quantitativo das filiações de novos membros ao Partido impõe-nos grandes, sérios e graves desafios: os de superar debilidades políticas, ideológicas e orgânicas, que nunca devem ser ignoradas nem observadas perfunctoriamente.

Sempre com a política no posto de comando, não podemos perder de vista que a ação institucional, eleitoral e de massas do partido só será eficaz se a militância e os quadros estiverem organizados a partir de instâncias de base.
 
Os tempos modernos conferem maior dificuldade ao trabalho de construção partidária e exigem mais sofisticação e flexibilidade. Não queremos, por certo, construir um partido baseado em modelos. Por suposto que o partido comunista do século 21 não é o mesmo da organização modelada por Lênin. Os fundamentos, porém, permanecem: um partido de trabalhadores, da luta política pelo poder, da luta de classes, do ideal comunista, da luta para construir o socialismo concebido como longa transição histórica através de um processo também prolongado de acumulação revolucionária de forças.

É indispensável renovar a linguagem, os métodos e estilos, a linha política – o que fizemos com êxito ao aprovar o Programa Socialista no 12º congresso –, promover inovações teóricas e ideológicas, porque devemos estar sempre em linha com as tendências da época, marchar com o tempo que vivemos, abrindo sempre a mente. Tudo isso não é contraditório com as referências teóricas e históricas de princípios, que devem estar solidamente enraizadas nas consciências dos nossos militantes e quadros. Um partido comunista não se constrói sobre interesses pragmáticos, mas os interesses coletivos de uma classe e um povo. E visando ao longo prazo, à perspectiva revolucionária, à luta pelo poder, num quadro de prolongada acumulação de forças.

A atuação do partido, nas novas condições da época, requer ciência, convicções profundas, fundadas nos princípios, numa elevada compreensão política, numa concepção diferente do senso comum burguês do que seja a política, em meio a uma batalha permanente para afirmar nossa identidade comunista, batalha que é ilusório pensar que esteja ganha, o que exige mais e não menos ideologia. Não só para os indivíduos, mas para toda a instituição partidária, também nos dias de hoje, ser comunista é uma opção cotidiana.

O Partido celebrará, em 25 de março de 2012, 90 anos de existência. Para os comunistas os tempos mudam, mas não as nossas vontades e convicções. A comemoração do 90º aniversário do Partido é momento propício à reflexão que oriente a ação dos comunistas nas batalhas de curto, médio e longo prazos.

*Secretário Nacional de Comunicação do PCdoB. Este texto é o resumo da sua intervenção na 9ª reunião do Comitê Central, realizada nos dias 10 e 11 de dezembro.