Evo Morales: É preciso democratizar para aprofundar mudanças
Na semana passada o presidente Evo Morales participou da abertura do “Primeiro Encontro Plurinacional para Aprofundar a Mudança” que está transformando a sociedade boliviana. O que a imprensa denominou como “Cúpula Social” reuniu mais de mil delegados de diversos movimentos sociais de todas as regiões do país, que atenderam a um chamado cuja primeira fase durou três dias e nos quais dez comissões de trabalho examinaram outros temas e desafios cruciais no momento atual.
Por Atílio Boron
Publicado 19/12/2011 12:41
O vice-presidente Álvaro García Linera assim como ministros e altos funcionários do governo nacional estiveram presentes nessas comissões, acrescentando informação e sobretudo escutando as demandas e muito especialmente os argumentos e propostas que deram a conhecer os movimentos. Estas primeiras conclusões serão apresentadas e novamente discutidas em uma série de reuniões que deverão acontecer em diversas províncias da Bolívia, em preparação para um segundo e definitivo período de sessões entre 10 e 12 de janeiro e nas quais serão fixadas as principais diretivas da agenda de transformações para os anos seguintes.
Em seu discurso de abertura, Evo ressaltou a importância de uma discussão democrática e plural para consolidar o processo de mudanças inaugurado desde a sua chegada ao Palácio Quemado em 2006. Diferentemente da maioria das intervenções de outros presidentes e chefes de Estado em qualquer parte do mundo, Evo começou a sua ressaltando o que o ele mesmo qualificou como os erros cometidos por seu governo. Não começou falando de seus acertos, mas da insegurança, dos problemas de emprego, da corrupção presente em certos elementos dos escalões inferiores da burocracia, da necessidade de melhorar o desempenho econômico.
Apenas depois se dedicou enumerar as muitas conquistas de sua gestão, com dados contundentes: quase 2 milhões de crianças beneficiadas pelo bônus Juancito Pinto; 800 mil idosos recebendo uma importante ajuda monetária; o avanço nos programas de saúde e educação públicas; o fortalecimento das finanças do Estado graças ao cumprimento do mandato popular que exigia a nacionalização dos hidrocarburetos; a duplicação do salário mínimo e a rápida transformação que fez com que a Bolívia deixasse de ser um “Estado colonial mendigo” (em suas palavras), que vivia de empréstimos para pagar seus funcionários públicos, para converter-se em um Estado Plurinacional que pela primeira vez na história acumula reservas no valor de 12 bilhões de dólares, um dado impactante se se tem em conta o tamanho da economia boliviana.
Claro que também falou de política: disse em uma passagem de seu discurso que antes havia grupos e organizações que se mobilizavam para que os governos fizessem obras; agora há minorias muito estridentes que “se mobilizam para que o governo não as faça. Mas devemos fazê-las, respeitando a Mãe Terra: do contrário, como poderíamos viver sem indústrias, sem petróleo, sem gás, sem a mineração?” Em uma época em que um organismo como o Banco Central Europeu tira e coloca governantes na Grécia, na Itália e em Portugal, Evo enfrenta os desafios de seu governo aprofundando a democracia, facilitando o diálogo horizontal entre governantes e governados e tornando verdade a máxima zapatista “mandar obedecendo”.
Esta sadia inclinação de fundir-se com seu povo, fortalecer-se escutando suas críticas a suas propostas é uma das razões fundamentais de sua popularidade. A direita não é uma opção do governo e sua única chance é o golpe de Estado; a esquerda hiper-radicalizada, por sua vez, mostra uma suspeita desproporção entre o eco que suas ferozes críticas a Evo encontram nos meios hegemônicos e seu escasso sustento de massas. Pelo visto até agora Evo segue sendo imbatível no terreno eleitoral, e se aprofundar sua agenda de mudanças o será ainda mais.
Fonte: La Rebelión