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Ana e Camila: das sombras e da multidão para a luz!

Na semana passada, duas jovens latino-americanas foram destaque na imprensa mundial, ambas estudantes e reconhecidamente aguerridas. As duas também têm em comum a militância na juventude comunista em seus países: Camila Vallejo é chilena e tem 23 anos, Ana Teresa Diego é argentina e desapareceu aos 22.

Por Christiane Marcondes

Ana Teresa Diego

Camila, integrante do Comitê Central da Juventude Comunista do Chile, liderou as manifestações estudantis que lotaram as ruas do país em 2011, reivindicando educação pública, gratuita e de qualidade. Chamou a atenção tanto por sua beleza como por seu comprometimento e desenvoltura política, demonstrados na firmeza de sua postura e profundidade de argumentos.

A chilena está no ranking das personalidades mais influentes do ano, divulgado na semana passada pela revista norte-americana “Time”. O britânico “The Guardian” fez uma enquete com o mesmo tema e seus leitores votaram também em Camila como personalidade do ano.

A outra estudante de destaque na mídia, Ana Teresa, cursava a Faculdade de Ciências astronômicas e Geofísicas da Universidade de La Plata, na Argentina, em 1976. Militava na Federação Juvenil Comunista Argentina. Era inteligente, alegre e solidária. Há 35 anos, quando deixou a faculdade foi sequestrada por um grupo de encapuçados, supostamente militares a serviço da ditadura. Seu corpo nunca foi encontrado.

Mas, desde dezembro, um asteróide descoberto por um astrônomo argentino, Mario Cesco, leva o seu nome. O corpo celeste foi batizado de ”Anadiego” por decisão unânime da União Astronômica Internacional (UAI). Encontra-se entre Marte e Júpiter, no principal cinturão de asteróides, onde há milhões deles que emitem pouca luz, um reflexo do Sol.

O professor uruguaio Julio Angel Fernández, membro do Comitê de Denominação de Astros Menores do UAI, expressou: “É a primeira vez que o nome de um desaparecido das ditaduras do Cone Sul nomeia um corpo do sistema solar. Hoje, das entranhas da Terra, Ana Teresa renasce para ocupar eternamente um lugar no sistema estelar, como símbolo e memória da barbárie humana e como alerta para que tal fato não se repita na história”.

“Um dos astros que a Ana sonhou um dia estudar levará desde agora e para sempre o seu nome, de modo que todos os que o descobrirem no brilho do céu estrelado possam recordar seu amor e luta”, declarou Adrian Brunini, decano da faculdade onde a jovem estudou. Com relação ao vergonhoso genocídio cometido pelas “bestas infames” das ditaduras, esse receberá da história a mais absoluta obscuridade, acrescentou Adrian.

Rúben Blades, na sua canção “Os desaparecidos”, se pergunta “e quando eles voltarão?”, imediatamente responde: “cada vez que vierem ao nosso pensamento”.

Agora, quando nos fizermos a mesma pergunta, poderemos sorrir e dizer: “Cada vez que mirarmos o firmamento”.