Médicos avaliam pesquisa de insatisfação com o SUS
Um levantamento sobre o sistema de saúde no Brasil, encomendado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) ao Ibope, constatou que 61% dos 2.002 entrevistados em 141 municípios do país, entre 16 e 20 de setembro de 2011, consideram a rede pública péssima ou ruim. Somente 10% avaliaram a qualidade como boa ou ótima. Para médicos, pesquisa reflete realidade, que só será alterada com mais investimentos no setor, além de medidas como a reforma tributária.
Publicado 12/01/2012 13:19
Ainda com relação à situação da Saúde pública no Brasil, 54% dos entrevistados consideram o
serviço público de saúde de sua cidade “péssimo” ou “ruim” e 85% não perceberam avanços no sistema público de saúde do País nos últimos três anos. As informações são da pesquisa Retratos da Sociedade Brasileira: Saúde Pública, divulgada hoje (12), em Brasília.
Para o presidente do Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp), Renato Azevedo Júnior, a situação atual é resultado da falta de recursos para o financiamento de toda a rede. Ele lembrou que o país gasta o equivalente a 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em Saúde Pública, enquanto que o investimento na rede privada chega a 4,5% do PIB. Porém, o mínimo necessário estimado é de pelo menos 5%.
“A pesquisa reflete uma realidade encontrada pelos brasileiros nas salas de espera e consultórios do Sistema Único de Saúde (SUS). E isso só será resolvido a hora que aumentar o financiamento do sistema público. Nenhum país gasta tão pouco na área como nós. Somos inferiores à Argentina e o Chile, que são mais pobres”, afirmou Azevedo Júnior.
O presidente do Cremesp também questiona a falta de uma política que priorize a área social. Em 2011, estima-se que o governo gastou R$ 65 bilhões no SUS. Já para pagamento de juros da dívida foram pagos R$ 200 bilhões. Outra questão apontada por ele que contribuiria para reduzir a desigualdade no setor do país, onde menos de um quarto da população brasileira têm condições de pagar um plano de saúde (24% segundo a pesquisa), é a reforma tributária. Renato Azevedo Júnior aposta, ainda, na mobilização dos brasileiros que sofrem nas filas.
“Antes de criar um novo imposto, é preciso arrumar o que está mau feito. A reforma tributária é algo esperado há muito tempo. Acredito que somente a sociedade mobilizada vai conseguir alterar o quadro atual. Temos que nos mobilizar para exigir mudanças”, afirmou.
Dos entrevistados, 96% são contra a criação de mais um imposto para a área da saúde e 82% aposta no fim da corrupção para obter mais recursos para a saúde. Outra solução, apontada por 53% das pessoas, é a redução de desperdícios. Dezoito por cento da população acreditam que seja necessário transferir recursos de outras áreas para o setor.
O vereador Jamil Murad (PCdoB), médico há 44 anos, alerta que toda vez que se questiona muito o sistema público, há um aumento nas vendas de planos de saúde da rede privada. “A população está descontente, é evidente. Ainda há uma deficiência. Mas o sistema ainda está em construção e existe há pouco tempo, desde 1988. É preciso ficar atendo a quem serve essas pesquisas. Sempre que se fala muito mal do SUS constata-se o aumento na venda dos planos de saúde”,
afirmou Jamil Murad.
Tanto Renato Azevedo, quanto o vereador ressaltaram que a rede possui pontos positivos, apesar das enormes deficiências como o atendimento especializado em tratamento de câncer, a distribuição de medicamentos e os transplantes de órgãos. O Brasil está entre os primeiros do mundo em transplante, que só é feito pela rede pública.
Nordeste tem pior avaliação
Segundo o estudo, o Nordeste ficou com a pior avaliação: 62% qualificaram como ruim ou péssima. A região Sul foi a que avaliou de maneira mais positiva, chegando a 30% dos entrevistados classificando a qualidade do sistema de saúde de sua cidade como ótimo ou bom.
As campanhas de vacinação são a iniciativa mais visível, para o público, do sistema de saúde com média 8,8 em uma escala de 0 a 10. Com relação ao acesso aos serviços, enquanto 24% têm planos de saúde, 68% têm a rede pública como único ou principal fornecedor de serviços. Dos que têm planos de saúde, apenas 1% utilizam somente ou principalmente o serviço público. Nos últimos 12 meses, 61% dos entrevistados utilizaram algum serviço de saúde.
De São Paulo
Deborah Moreira
atualizada às 20h30