Sem categoria

Brasil perde espaço para China na America Latina

O cenário econômico incerto nos Estados Unidos e na Europa, devido à crise mundial, deve impulsionar ainda mais os esforços da China para os mercados da América Latina em 2012.

Por Gabriel Bonni

A relação da potência asiática com a região, intensificada nos últimos anos, já reduz a participação dos países mais influentes, como Brasil e Argentina, no comércio com os vizinhos latino-americanos.

Especialistas ouvidos pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) apontam que o Brasil deixou de exportar 2,5 bilhões de dólares para países da América Latina entre 2005 e 2009 devido à concorrência chinesa.

A Argentina foi o segundo local mais atingido, com 730 milhões de dólares de exportação a menos no mesmo período. Ambos perderam mercado no setor de químicos, informática, telecomunicações e máquinas e equipamentos.

A China replica no continente, em menor escala, a estratégia utilizada na Ásia e no Pacífico com base em acordos de livre comércio bilaterais para impulsionar sua relação com os países. Com isso, segundo o semanário britânico The Economist, a América Latina hoje é o segundo destino mais importante de investimentos para negócios chineses, com mais de 30 bilhões de dólares por ano, ou 12,5% de todo o aporte da nação asiática fora de seu território.

Luciana Acioly, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e especialista em China, revela que a participação brasileira na corrente de comércio da América do Sul está estagnada há mais de uma década em 11%. “Em 2000, os chineses detinham 2,5% de participação. Em 2010, esse número saltou para 12,5%.”

Só com o Peru, que faz fronteira com a região norte brasileira, a expectativa de comércio com a China para 2012 é de 15 bilhões de dólares – enquanto, no último ano, o Brasil exportou apenas 2,2 bilhões de dólares para o mesmo país vizinho.

Para reverter esse cenário, a analista defende que o País trabalhe para estreitar os laços com as nações vizinhas a fim de fortalecer a região como um todo. “O crescimento do Brasil não tem sido acompanhado pela melhora no relacionamento com os outros Estados da América do Sul”, diz. “Precisamos fazer mais acordos para conquistar uma complementação industrial e exportar mais produtos manufaturados e com valor agregado.”

Esse aprimoramento nas relações deve focar principalmente a Argentina, destaca Soraya Rosar, gerente-executiva de negociações internacionais da CNI. Segundo ela, o empresariado brasileiro se queixa das restrições da nação vizinha à exportação nacional sob a alegação de estimular a recuperação de sua indústria. “Mas a fatia do mercado que a Argentina diz proteger está sendo ocupada por produtos chineses.”

Algo evidenciado nos primeiros dez meses de 2011, quando o comércio sino-argentino registrou 14,6 bilhões de dólares. Além disso, a China é o segundo maior parceiro econômico do país – atrás do Brasil – e possuí investimentos na Argentina nos setores de energia, petroquímico, transporte e agronegócio, aponta a Economist.

De acordo com o Ministério de Comercio Chinês, China e América Latina realizaram transações de mais de 183 bilhões de dólares em 2010, um aumento de 28,4% em relação ao ano anterior. Enquanto isso, as exportações brasileiras para América Latina e Caribe somaram 57,1 bilhões de dólares em 2011.

Para reconquistar a força no mercado latino-americano, Rosar aponta que o Brasil precisa realizar uma reforma tributária e investir na melhoria da infraestrutura para baixar custos. “A falta de competitividade do País está densamente relacionada com problemas internos.”

Planejamento

O avanço chinês na América Latina, diz Acioly, deve-se à agilidade do país em fazer negócios e colocar em prática o plano de operação para alcançar as metas planejadas de forma rápida. Por outro lado, o Brasil tem procedimentos institucionais excessivamente burocráticos que impedem a conclusão ágil de empreendimentos comerciais. “Falta essa estratégia para o Brasil. Nossas políticas estão fragmentadas e é preciso integração na América Latina.”

A pesquisadora do Ipea destaca que o bloco é estratégico para o Brasil tanto no comércio, pela proximidade regional, quanto para investimentos. “Devemos começar a pensar em perder um pouco no saldo comercial e importar mais desses países, procurando outro sistema de compensação, como financiar a importação de produtos brasileiros, para aproximar as nossas relações.”

Outra saída para ajudar os manufaturados brasileiros a reconquistar mercado, aponta Rosar, é investir em serviços que a China tem dificuldades de fornecer. “Falamos uma língua próxima, nossos produtos atendem diretamente ao nível de exigência destes mercados e sempre nos garantimos por uma boa assistência técnica”, diz. “Isso poderia ser muito mais explorado.”

Fonte: Carta Capital