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Assad Frangieh: Flor por flor, petróleo por petróleo

Há meses atrás, no auge do entusiasmo otomano em elevar o tom das ameaças a seu vizinho do Sul, o ministro das Relações Exteriores da Síria respondeu que a "cada flor jogada para a Síria, a mesma retornaria com outra". O tempo vem mostrando que a intervenção militar na Síria pela porta turca não é algo fácil de se realizar e que geralmente as estradas não são de mão única.

Por Assad Frangieh, no El-Marada

Dias atrás, os conselhos do governo turco ao vizinho iraquiano foram duramente rebatidos como intervenção em assuntos internos, acusando Ancara, de treinar oficiais iraquianos para um golpe militar, incentivar conflitos religiosos e tentar interceptar uma ordem jurídica de Bagdá que acusa o vice-presidente Tarek Al-Hashimi de terrorismo e tentativa de assassinato de Nouri Al-Maliki. "Se a Turquia tentar intervir em assuntos internos do Iraque, faremos igual. O que não falta é terreno fértil para tal." Foi a declaração da base do governo do Iraque, largamente divulgada na imprensa.

A União Européia, representando os interesses dos Estados Unidos e Israel, decidiu criar sanções de importação do petróleo iraniano, porém, sem data para o início de sua aplicação. A diplomacia americana sempre prefere colocar seus aliados na frente do confronto, literalmente para deixar uma alternativa de conciliação. A resposta de Teerã foi rápida. As manobras no Estreito de Ormuz foram claras. Se não houver petróleo iraniano na Europa, não haverá petróleo para exportar do Golfo Pérsico. "Petróleo para todos ou para ninguém." Nenhum navio passará pelo estreito e nenhum suprimento maior será possível pela Arábia Saudita. Ali Al-Nahimi, ministro do petróleo saudita, tinha prometido a seu colega iraniano Rustum Kassimi que não haveria aumento de produção em qualquer tentativa de pressão econômica sobre o Irã. Parece que cumprir promessa não é o forte de alguns governos. Num conflito armado, os mísseis não vão mirar apenas a frota e bases americanas. Os aliados no Golfo não serão poupados.

Pela reação da diplomacia norte-americana, estamos no pós "Petróleo por Petróleo." O assassinato do físico iraniano tomou dimensões amplas. Há indícios do nome do físico ter sido entregue por um observador da Agência Internacional de Energia Atômica e sua execução por um grupo radical sunita financiado por agentes israelenses disfarçados em agentes da inteligência americana. Imediatamente, os Estados Unidos negou sua participação no ato enviando uma carta para Teerã por três vias: o canal iraquiano de sua confiança, a embaixada suiça que representa seus interesses no país e o escritório do Irã nas Nações Unidas. Um sinal de seu interesse em manter a diplomacia das negociações e não da guerra. Isso desmascarou a armadilha israelense de envolver seus aliados em Washington num confronto com Teerã. A resposta iraniana já tem seu alvo. É Tel Aviv.

Para se perpetuar, é preciso mais do que manuais de administração e inteligência. É preciso História e Cultura e isso, não falta no Oriente, de Gaza a Pequim.