Juliano Roso: “Não sou obcecado por cargos políticos"

Após a decisão do PT e PDT em concorrer com nomes para prefeito e vice-prefeito nas eleições municipais deste ano – como lideres da atual base do governo municipal, partidos como o PCdoB devem se reunir até o final deste mês para definir qual o melhor caminho a seguir neste momento. 

Juliano Roso - Divulgação

Em entrevista ao Diário da Manhã o vereador e pré-candidato pelo PCdoB às majoritárias, Juliano Roso, falou sobre as definições do diretório do partido em relação à manutenção ou não da aliança com a base, o momento político que a esquerda vive no Brasil, o crescimento do PCdoB, e ainda as novas caras do movimento juvenil e como as redes sociais podem servir de ferramentas para ajudar na mobilização social. Confira.

Diário da Manhã (DM) – O PT já definiu que quer o PDT como vice-prefeito na chapa com Rene Cecconello (PT). Como candidato pelo PCdoB e também integrante da base do governo, qual a tua avaliação sobre essa decisão?

Juliano Roso (JR) – Participamos de uma reunião com os partidos da base e nos foi comunicado pelo PDT que eles abriam mão de ter candidato a prefeito pela legenda, mas gostariam de estar como vice-prefeito com o nome do secretário de Finanças Cesar Bilibio. Nessa mesma reunião o PT mais uma vez apresentou a sua candidatura como prefeito, e houve ali uma situação em que o PDT e PT fecharam em torno da candidatura de Rene Cecconello com o Bilibio. O PCdoB ainda não tem uma opinião sobre isso, vamos reunir o nosso diretório até o final deste mês para decidir. Já que esses dois partidos estão sinalizando que vão fazer essa dobradinha, vamos nos reunir para ver se nos interessa apoiar e nos manter na base do governo, ou se o melhor caminho é à saída da base e a construção da nossa candidatura própria. Vamos reunir o diretório ainda antes do dia 31 de janeiro e vamos definir o que fazer, tem três opções: a manutenção com a base, a nossa saída para construir uma chapa própria, ou então a busca por um terceiro caminho que pode surgir pela frente.

DM – Qual seria esse terceiro caminho? Uma possível coligação com outros partidos?
JR – O quadro político está muito indefinido ainda. Fala-se em várias candidaturas e de concreto só há essa dobrada do PT com PDT e a candidatura do Osvaldo Gomes pelo PMDB. Tem uma série de outros caminhos que estão aí e que poderão ser construídos ou não. É muito cedo ainda para avaliar esse terceiro caminho.

DM – Na pesquisa interna da base você foi o candidato com maior aceitação e menor rejeição. Você tinha ideia do tamanho da sua aceitação aqui em Passo Fundo?
JR – Fiquei muito feliz com a recepção do meu nome junto ao povo. Ao mesmo tempo, sei que tenho muito ainda para construir para que realmente a população conheça ainda mais o meu trabalho. Esse resultado deu a consciência que a população me respeita, mas que eu preciso trabalhar ainda mais para que meu trabalho chegue até população mais carente.

DM – Sobre os planos futuros, você tem interesse em ser prefeito de Passo Fundo ou de voltar a concorrer a deputado?
JR – Meu plano é continuar fazendo política no PCdoB. Se isso será como candidato a prefeito, vice-prefeito, vereador, deputado, ou não concorrendo a nada, mas apenas como dirigente do partido, isso apenas o futuro vai dizer. Não sou obcecado por cargos políticos, faço política independente de estar ocupando uma função ou não. Tenho a felicidade de o povo de Passo Fundo ter me eleito por três mandatos consecutivos na Câmara de Vereadores, e tento retribuir isso com trabalho. Mas não posso fazer da política uma profissão. A política é um momento em que a gente se doa para a comunidade, é uma vocação, faço isso porque gosto, não como uma profissão. Por isso procuro não traçar planos, não ser obcecado por isso, é o povo que decide aonde vamos nos posicionar. Completo neste ano 20 anos de filiação no PCdoB, e vejo que hoje no Brasil as pessoas não valorizam os partidos políticos, trocam muito e mal conhecem o partido que estão. Tive uma experiência política antes do PCdoB, quando era filiado ao PT, que foi muito importante, mas me encontrei mesmo no PCdoB. Já o meu futuro político será decidido junto com o partido e com o que a população nos proporcionar em termos de apoio.

DM – Como vereador você já apresentou diversos projetos em relação à gratuidade no transporte coletivo urbano. O último foi do passe livre para pessoas com mais de 60 anos, que você acabou retirando por causa de emendas aditivas apresentadas por outros vereadores. Esse ano você pretende reapresentar esses projetos?
JR – Já apresentei diversos projetos nessa área, que é uma das áreas que tenho mais felicidade de legislar porque interessa diretamente a massa urbana. Fiz um movimento aqui na Câmara em 2001 para adaptar os ônibus aos deficientes físicos, enquadrando as empresas de ônibus a uma lei federal que não era cumprida. Fiz uma lei para que os estudantes pudessem comprar passagens com desconto mesmo no períodos de férias, entre várias outras. Estou sempre procurando pensar e formular projetos nessa área, então certamente vou tratar desse tema do transporte coletivo urbano neste ano, pensando maneiras de melhorar esse serviço para a população.

DM – Como você avalia o crescimento do PCdoB nos últimos anos em todo o país?
JR – O PCdoB é um dos partidos que mais cresceu nos últimos 10 anos e isso é reconhecido pelas outras forças políticas também. Tem partidos que decaíram, outros estagnaram e partidos que cresceram. O PCdoB faz parte desse conjunto de partidos que cresceram. É importante salientar que os partidos que cresceram são os de esquerda, e que isso faz parte de uma onda de esquerda que está acontecendo no Brasil. Os partidos que fazem oposição ao nosso campo, os mais conservadores, principalmente o PSDB e o DEM decaíram de tamanho, já o PPS que é um partido de centro, mas que acabou se posicionando mais a direita, também acabou perdendo muito espaço. Entre os partidos que mais cresceram, além do PCdoB, está o PT e o PSB. Isso faz parte de uma conjuntura e de um momento que o país vive, e o PCdoB cresce em todo o país, esse ano vamos ter candidatos a prefeito em muitas capitais, vários deles com chances reais de vitória, como o Netinho em São Paulo, a Manuela em Porto Alegre. O partido cresce não apenas eleitoralmente, mas cresce na militância também.

DM – Não apenas como vereador, mas também como professor de história, você concorda com a opinião de alguns cientistas políticos que afirmam que hoje não existem mais ideologias de esquerda e de direita no Brasil?
JR – Não concordo com essa opinião. Aliás, geralmente quem tem essa opinião de que não existe mais direita e esquerda, é quem tem uma posição política muito bem definida. Acho que os grandes debates que temos hoje no Brasil, especialmente nos últimos embates eleitorais com Lula e Collor, Lula e Fernando Henrique Cardoso, Alckmin e Serra contra Lula e Dilma, são embates da esquerda e da direita, e isso tem se dado em toda a América Latina. Essa crise do capitalismo em escala mundial, e as alternativas que tem se buscado a ela, mais do que nunca mostra e coloca a disputa entre esquerda e direita no mundo.

DM – O PCdoB conta muito com a força dos movimentos juvenis, nesse sentido você acredita que a juventude de hoje é tão apática assim a política?
JR – Tive uma militância muito forte no movimento juvenil, desde os meus 15 até os 27 anos. Essa militância acontece ainda no Brasil em vários lugares, e é muito forte. O movimento juvenil ainda existe e tem força, está enraizado, e o PCdoB não é o único partido que atua junto à juventude, embora tenha grande influência. Acho que juventude hoje continua atuando politicamente, mas ela é muito marcada pelo processo dos anos neoliberais que o Brasil passou. Isso criou na juventude brasileira um sentimento e uma marca muito forte do individualismo. Não é que o jovem de hoje seja apático, mas os anos neoliberais é que levaram essa juventude muitas vezes a criar esse sentimento de individualismo, de resolver as coisas por sua conta própria. Tem muito problema geracional também. Temos que entender que são momentos diferentes, não ficar sempre com essa opinião romântica que o movimento estudantil bom foi o de 68, de 84, de 92… Precisamos entender que cada momento é um momento diferente.

DM – Você acredita na mobilização social através da rede?
JR – Vejo isso como muito positivo, eu mesmo tenho ocupado as redes sociais para demonstrar minhas ideias, minhas opiniões e meus projetos. Mas não acredito em mobilização nas redes sociais sem uma mobilização real, que de sequencia a isso. Por exemplo, é necessário tornar isso uma pauta real e concreta e ir cobrar dos órgãos públicos, para não ficar apenas nas redes sociais. Isso já aconteceu aqui em Passo Fundo, como foi o caso dos hipermercados. É um instrumento de muito valor para a mobilização social.

Fonte: Diário da Manhã