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África e temas sociais conquistam Berlim

A escolha de uma adolescente africana, negra, congolesa, como melhor atriz pelo júri do 62° Festival Internacional de Cinema de Berlim é um fato novo e mostra que a África vai se tornando um tema importante para o mundo do cinema. A presença e a homenagem à atriz Meryl Streep foi também motivo para revalorizar Out of Africa, o filme de Sydney Pollack filmado, em 1985, no Quênia.

Mais que isso, o júri deste ano, presidido pelo realizador inglês Mike Leigh, demonstrou nítida sensibilidade pelos temas sociais, dando o Grande Prêmio ao filme Just the Wind, que denuncia o racismo praticado na Hungria, com atos de assassinatos de famílias consumados à noite, semelhantes a pogroms, contra as comunidades ciganas, com a complacência e mesmo participação de policiais.

Outro filme, que mereceu duas premiações, melhor roteiro e melhor ator, foi A Royal Affair, sobre as reformas feitas na Dinamarca, nos meados do século XVIII, por um médico ateu, leitor de Rousseau e Voltaire, próximo dos Iluministas, que entrou na Corte do rei Christian VII e chegou a presidir o Conselho de Ministros.

As transformações feitas pelo revolucionário Johann Friedrich Struensee, que favoreciam o povo, vivendo até ali numa situação ainda de Idade Média semelhante à escravidão aos senhores das terras, desagradaram o clero e os nobres. Essas reformas incluíam redução do tempo de trabalho, assistência médica, diminuição dos impostos para o povo e fim das regalias para os nobres latifundiários e proibição da utilização da tortura pela polícia.

Enfim, o interesse do júri pelos filmes com temas sociais também se manifestou na entrega de um Prêmio Especial para o filme da suíça Ursula Meier, L´enfant d´en Haut, sobre mãe e filho vivendo no limite da pobreza, num país rico, com comportamentos de marginais, na linha direta dos filmes belgas dos Irmãos Dardenne, embora sem o mesmo brilho.

O retorno da importância africana

A prova do ressurgimento do interesse pela África é que o Festival de Locarno, quarto no ranking mundial dos festivais de cinema, já programou um Open Doors de incentivo ao cinema africano, em agosto deste ano, com financiamento para os melhores projetos de filmes.

É verdade que, em 2009, o cineasta Gaston Kadoré, de Burkina Faso, conhecida por seu Festival panafricano em Ouagadouguou, participou do júri do Festival de Berlim, porém, a atual crise econômica diminuiu a produção de filmes africanos. Assim, não se tem visto filmes do senegalês Djibril Mambety Diop.

Ainda que por via indireta, a África retorna e o continente africano teve seu lugar na competição internacional com três filmes importantes. O primeiro é o filme Aujourd´hui (Hoje), dirigido por um filho da imigração senegalesa na França, nascido em Paris, Alain Gomis, detentor da binacionalidade francosenegalesa. Seu filme, que prima pela autenticidade, foi todo rodado em Dakar, capital do Senegal.

O segundo filme voltado para a África é do realizador português Miguel Gomes, Tabu, no qual mais da metade das cenas foram filmadas em Moçambique da época da colonização portuguesa. O filme inicia justamente com a imagem clássica do colonizador europeu na África, à maneira do inglês Livingstone, com seu uniforme, espingarda e capacete de conquistador.

Os moçambicanos não são o tema e nem os atores principais, embora estejam na própria terra, porém fazem pano de fundo para um drama passional vivido pelos colonizadores portugueses.

O terceiro filme, Rebelde, se passa no ex-Congo belga hoje República Democrática do Congo, e mostra o sequestro de crianças pelas milícias armadas rebeldes para reforçarem com elas seu contingente de homens armados, são os meninos soldados. O filme é feito por um canadense filho de vietnamitas, Kim Nguyen, que viveu, durante as filmagens no Burundi e arredores.

Foi ali que encontrou a adolescente Rachel Mwanza, recém-alfabetizada depois de ter passado uma parte de sua vida como menina de rua, pois abandonada pela mãe e pai, já não podia mais viver com a avó desprovidade de recursos para alimentar seus seis netos.

Fonte: Direto da Redação