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Seminário discute questão nacional e luta pelo socialismo

“O PCdoB tem aprimorado a sua concepção para a necessidade de aprofundar e sistematizar – a partir da sua experiência – os desafios da luta política transformadora e revolucionária”. É a partir desse pensamento que Renato Rabelo, presidente nacional do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), resumiu as atividades realizadas durante do Seminário Internacional “A questão Nacional e a luta pelo Socialismo na atualidade”, que aconteceu nos dias 23 e 24, no Rio de Janeiro.

Do Rio de Janeiro, Joanne Mota

O evento, que foi promovido pela Secretaria de Relações Internacionais do Partido, compõe o conjunto das festividades pelos 90 anos de fundação do PCdoB.

A oportunidade, que reuniu mais de 20 partidos e organizações comunistas, revolucionárias, progressistas e anti-imperialistas, problematizou sobre o atual momento histórico e versou sobre a simbiose entre a questão nacional e de classe.

Renato Rabelo disse ao Vermelho que a motivação para a realização do seminário centrou-se nas mudanças estruturais em curso no mundo. Segundo ele, as atuais condições colocadas pela crise do capitalismo revelam a atualidade das análises propostas por teóricos como Marx, Engels e Lênin, sobre a natureza e os limites históricos do capitalismo e as tendências por eles propostas.

O presidente do PCdoB ressaltou as diversas facetas da investida imperialista no mundo e lembrou que “os países imperialistas buscam garantir o controle das fontes de matérias-primas para seus monopólios. E nessa nova corrida imperialista por estes ativos estratégicos, zonas abundantes nestes bens correm risco. Um exemplo é o que aconteceu no Oriente Médio, na África e na América Latina”.

Para Ricardo Abreu, secretário nacional de Relações Internacionais, "o seminário se converteu em uma importante ocasião no aprofundamento do intercâmbio de opiniões sobre temas do socialismo e da atualidade, como a questão nacional".

Ele acrescentou que "durante o seminário foi possível conhecer realidades distantes, debatê-las e traçar estratégias contra-hegemônicas em relação às mudanças estruturais em curso”. Segundo ele, “outra questão enriquecedora foi a abordagem de temas como a teoria leninista do imperialismo, assim como a crise do capitalismo, a nova ofensiva imperialista e o mundo em transição”.

"Outros pontos aprofundados durante o encontro foram a questão da luta anti-imperialista, a luta pela soberania nacional e o papel do socialismo na atualidade, assim como a questão da unidade dos comunistas e revolucionários e a ampla frente anti-imperialista", disse ao Vermelho o secretário.

Imperialismo e as desigualdades sociais

Com um debate diverso e reflexivo, diversos partidos e movimentos apresentaram sua realidade frente à temática do seminário.

O Partido Comunista da África do Sul (PCAS), que estava representado por Chris Mathlahko, membro do birô político e responsável pelas relações internacionais, ressaltou a importância do debate e lembrou que a realidade do país africano não dista da realidade brasileira.

Mathalahko disse ao Vermelho que a luta do país africano contra o colonialismo, o imperialismo e as desigualdades sociais sempre esteve baseada nos princípios do marxismo-leninismo. Além disso, frisou o caráter global do imperialismo e a importância primordial da luta nacional.

O senador francês Michel Bilout, representante do Partido Comunista Francês, destacou os progressos democráticos e as conquistas sociais no século 20 para fazer o contraste com o que está ocorrendo no mundo e na França nos últimos 30 anos: uma contraofensiva do capital, contra os direitos sociais. “Nunca a relação entre capital e trabalho foi tão desfavorável ao trabalho”, denuncia o senador. Ele acrescenta que “os direitos sociais estão ameaçados. Desse modo, é preciso uma clara opção à esquerda, uma via alternativa, anticapitalista”.

Giorgios Marinos, representante do Partido Comunista da Grécia, durante sua intervenção no debate resgatou o pensamento de Lênin e convidou a refletir sobre as peculiaridades nacionais. “Só o conhecimento das características básicas da época pode servir de base para conhecer as peculiaridades nacionais, dizia Lênin”. Desse modo, ele acrescenta que a “condição prévia para abolir a exploração do homem pelo homem é a conquista do poder”.

Khaled Maassem, representante do Partido Comunista Libanês, refletiu sobre “a luta contra a política religiosa e a religiosidade política”. Segundo o dirigente, o PCL luta “contra os príncipes da guerra, contra o imperialismo estadunidense e seus aliados, e o câncer que foi instalado na região, Israel. Lutamos contra a ocupação da Palestina, aplicamos uma derrota ao exército inimigo considerado invencível em 2006. Reafirmamos nosso compromisso de luta até a vitória final, por um Líbano soberano e com justiça social”, externou o dirigente.

O Partido Comunista Português, representado por Alexandre Araújo, parabenizou o PCdoB pela atividade e afirmou que o debate possibilitou trocas que ajudarão a organizar a militância.
Ele lembra que a independência econômica deve ser acompanhada pela política, e a questão nacional e a defesa da soberania formam uma plataforma sólida e de expressão na luta de classes. Araújo explica que “as amplas e profundas transformações democráticas e sociais só são possíveis porque se alicerçam na livre e soberana vontade do povo e no exercício da independência nacional”.

O embaixador do Vietnã no Brasil, Duong Nguye Tuong, que representou o Partido Comunista do Vietnã, disse ao Vermelho que o fortalecimeto dos partidos está diretamente ligado ao respeito aos princípios e ideologias que formam a base de cada organização. Segundo ele, a partir da base marxista-leninista, o partido vietinamita tem conseguido ampliar as ideias socialistas no país e galgar mudanças fundamentais na região.

O embaixador também falou sobre as reformas realizadas no Vietnã. Segundo ele, “esse assunto é demasiado complexo, mas o partido tem adaptado e refletido de forma intensa sobre o processo de reforma em curso no país. Estamos refletindo e construindo um socialismo com a cara do Vietnã”, afirmou ao Vermelho Tuong.

“Força, soberania e integração”. Estas foram as palavras de ordem do presidente da Síria, Bashar Assad, transmitidas pelo embaixador da Síria, Mohammed Ali Khaddour, durante o seminário.

O embaixador, que representou o Partido Baath da Síria, salientou que os princípios e objetivos do partido, ao defender a independência nacional, não distam dos do PCdoB e que a integração entre as nações oprimidas é uma forte resposta à investida imperialista no mundo. Ele também destacou a luta dos trabalhadores em favor de uma nova estrutura, na qual as opressões sejam vencidas e a sociedade menos desigual.

Integração pela soberania nacional

Andrés Guzman, do Movimento ao Socialismo (MAS) da Bolívia, leu uma carta da direção nacional saudando o 90º aniversário do PCdoB, destacando que o PCdoB foi fundado na nova era da revolução proletária. O representante boliviano falou sobre as mudanças progressistas que estão ocorrendo no país andino, ressaltando a defesa da soberania e o apoio à Alternativa Bolivariana paras as Américas (Alba) que foi criada contra a Alca.

O representante do Partido Comunista da Argentina (PCA), Carlos Churlakian, referiu-se ao momento de crise mundial, crise do capitalismo, que é simultaneamente econômica, financeira, política, alimentar, ambiental, militar, etc. “Uma crise sem solução”, afirmou ele.

Sobre a investida imperialista no mundo, Churlakian lembrou a agressão à Síria e ao Irã. E afirmou apoiar as reivindicações nacionais e territoriais da Síria, e que Golã está para a Síria assim como as Malvinas para a Argentina.

O PCA defende o aprofundamento das políticas de integração regional. Para ele, se essas políticas não permanecerem, o preço que se pagará por isso será o retorno ao neoliberalismo. Denunciou as políticas de Barack Obama, que levaram ao recrudescimento do militarismo na América Latina, destacadamente pela existência da 4ª Frota e 47 bases militares imperialistas na América Latina e Caribe.

“A esquerda latino-americana e os comunistas têm amadurecido”. Foi o que ponderou o representante do Partido Comunista do Peru Pátria Roja, Eliezer Briceño, no inicio de sua intervenção. Segundo ele, o partido luta pelo caminho socialista e defende a base teórica marxista. “Para a América Latina, bem como para o Peru, isto significa defender o socialismo, lutar contra as opressões e preservar a soberania.”

Durante sua apresentação, o embaixador Carlos Rafael Zamora, representante do Partido Comunista Cubano, salientou o papel estratégico do seminário e lembrou que “a solidariedade e a luta conjunta com os partidos comunistas e amigos, em especial o PCdoB, devem compor as ações estratégicas de cada nação”. O dirigente ainda lembrou criminoso bloqueio norte-americano a Cuba e salientou que “o destino de Cuba está ligado ao da América, de Nuestra América”.