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Zona do Euro: "Espanha, a próxima Grécia"

Nos muros, a predominante palavra de ordem "a reforma trabalhista conduz à escravidão". Os sindicatos convocaram greve geral, advertindo o governo de que "não pretendemos parar, o combate começa agora". E alguns jovens em Valência dançavam na rua cantando com grande ironia "Rajoy, Rajoy, somos tão felizes", enquanto, em todos os jornais da Europa aumentam os comentários com título "Espanha, a próxima Grécia".

Por Maria Segre, no Monitor Mercantil

Não passou sequer meio ano desde novembro do ano passado, quando os eleitores da Espanha depositaram sua confiança ao direitista Mariano Rajoy para tirá-los da crise, com as "armas" da frugalidade e das reformas. E sequer três meses não passaram desde que Bruxelas (União Europeia, Comissão Europeia) congratulava, efusivamente, o novo governo espanhol "pela seriedade e decisão com que enfrenta a crise e o povo espanhol pelo seu amadurecimento".

Entretanto, ao que tudo indica, os espanhóis chegaram ao seu limite. Atenderam, em massa, à convocação dos sindicatos para greve geral e inundaram as ruas das cidades espanholas protestando contra as reformas no mercado de trabalho. A Espanha vive agora tudo aquilo que a Grécia viveu nos últimos dois anos, mas, de forma mais concentrada. O governo Rajoy avança com mais rapidez e decisão nas reformas trabalhistas em relação ao grego, enquanto os sindicatos espanhóis respondem mais maciçamente e com mais organização em relação aos sindicatos gregos. A greve geral registrou participação da ordem de 77%.

Obviamente, a Espanha não assinou nenhum mnemônico, porque não solicitou sua integração ao Mecanismo Europeu de Apoio. O governo Rajoy acredita que enfrentará a crise sem ajuda direta. Mas, o Banco Central Europeu (BCE) continua adquirindo debêntures estatais da Espanha e cada vez mais analistas internacionais avaliam que a Espanha não evitará, finalmente, o caminho da Irlanda, da Grécia e de Portugal.

Com ou sem mnemônico

Mesmo sem mnemônico, o gerenciamento da crise pelo governo Rajoy é minimamente diferente da receita da Grécia, Portugal ou Irlanda. Adequação fiscal, frugalidade e, entre outros, "liberalização" do mercado de trabalho em um país onde o desemprego supera o da Grécia, com 23% dos trabalhadores procurando emprego em vão, enquanto, 50% dos jovens não encontram sequer um emprego de ocupação parcial.

O país não pode sair da queda, a qual neste ano estima-se que superará 1,7% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto, apesar das medidas de frugalidade (totalizando 35 bilhões de euros), não pode reduzir o déficit público ao percentual comprometido de 4,4%. Na melhor das hipóteses o governo espanhol compromete-se reduzi-lo neste ano em 5,3% do PIB, mas não existe nenhuma garantia de que conseguirá.

"Chave", demissões

O governo Rajoy considera que, a "chave" para enfrentar a crise é a facilitação das demissões, para facilitação das contratações! Supõe-se que o que impede aos empregadores novas contratações são os prazos obrigatórios (de avisos prévios) e as indenizações em caso de demissão. Por isso, o governo determinou redução, tanto do tempo de avisos prévios quanto do total das indenizações em 1/3.

A verdadeira "bomba"

Se, por um lado, a Espanha não pode ser acusada de mau gerenciamento de suas finanças públicas, por outro está evoluindo em "verdadeira bomba da Zona do Euro". Até certo ponto, a Espanha paga por seu desleixo em modernizar a economia durante os anos de seu crescimento.

Nos últimos anos, a maior parcela de investimentos foi canalizada ao mercado de imóveis. A Espanha tornou-se um gigantesco campo de obras, os jovens encontravam emprego facilmente na construção civil, os preços dos imóveis aumentavam seguidamente, assim como as margens de lucro, enquanto a produção dos bens de consumo despencava, resultando em incessante aumento das importações.

Assim, enquanto o custo de endividamento era baixo, crescia o mercado de imóveis até que a bolha estourou. Os bancos da Espanha parece que não tinham exposição nas debêntures tóxicas norte-americanas dos empréstimos hipotecados e não sofreram com a "falência" do Lehman Brothers. Mas eram extremamente expostos no mercado doméstico de imóveis e estouraram junto com a bolha.

Foi quando o déficit público espanhol foi lançado às alturas para tapar os "buracos negros" dos bancos e quando os investidores internacionais começaram a temer as evoluções na Zona do Euro, voltaram sua atenção à Espanha. Atrás desta frase inocente dissimula-se a alta dos spreads das debêntures espanholas (de seus desempenhos em relação com as alemãs, isto é, também, o aumento do custo de endividamento).

Círculo vicioso

O governo Rajoy, em seu esforço para reduzir o déficit e reconquistar a confiança dos mercados, insere a Espanha no mesmo círculo vicioso em que foram inseridos Grécia e Portugal dos mnemônicos: Queda, desemprego, fracasso das metas fiscais. Só que a Espanha – ou melhor, seus parceiros – não desfruta o luxo de uma reestruturação de dívida. A duras custas poderão resistir os mecanismos de apoio a um programa para a Espanha. E se este fracassar, a "bomba" explodirá.

Quem será atingido pelos estilhaços? A resposta está lista dos credores da Espanha: Bônus: US$ 51 bilhões em poder dos bancos britânicos, US$ 187 bilhões dos bancos norte-americanos, US$ 224 bilhões dos bancos franceses e US$ 244 bilhões dos bancos alemães. Mas o risco agora é que o primeiro-ministro italiano, Mario Monti, começou a vociferar que "a Itália não é Espanha"!