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Flávio Aguiar: A França em números

No primeiro turno (22 de abril), todos os institutos de pesquisa apontam uma pequena vantagem para Sarkozy, em torno de 1 ou 1,5%. Ele comparece hora com 28%, ora com 29%, até 29,5%. Hollande varia de 27% a 28%. As previsões para o segundo turno (06 de maio) dão uma maioria confortável para Hollande: de 53,5% a 55%, contra 45% a 46,5% de Sarkozy. Mas isso está longe de representar uma vitória segura: de 32% a 33% dos eleitores dizem que ainda poderão mudar seu voto.

Por Flávio Aguiar*

No domingo de Páscoa saiu a público uma nova série de pesquisas sobre a eleição francesa – cuja campanha, oficialmente, começou na terça-feira depois da Pascoela (o feriado da segunda). Vamos aos números.

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Eles estão estáveis, tanto para o primeiro quanto para o provável segundo turno. E as previsões permanecem incertas – exceto que haverá um segundo turno, e ele será disputado entre o atual presidente, Nicolas Sarkozy e o candidato socialista, François Hollande. Somente um terremoto político anularia essas certezas. Mas elas param por aí.
 
No primeiro turno (22 de abril), todos os institutos de pesquisa – e eles são muitos – apontam uma pequena vantagem para Sarkozy, em torno de 1 ou 1,5%. Ele comparece hora com 28%, ora com 29%, até 29,5%.

Hollande varia de 27% a 28%, mas a vantagem de Sarkozy nunca passa de 1,5%.

Em terceiro lugar aparece invariavelmente a candidata de extrema direita, Marine Le Pen, com 17%. Depois, o candidato da esquerda, Jean-Luc Mélenchon, oscilando de 13,5% a 15%. Em quinto lugar o candidato do Movimento Democrático, descrito como de centro-direita, François Bayron, com 10%. Outros candidatos, da esquerda à direita, 4,5%.

As previsões para o segundo turno (06 de maio) dão uma maioria confortável para Hollande: de 53,5% a 55%, contra 45% a 46,5% de Sarkozy. Mas isso está longe de representar uma vitória segura: de 32% a 33% dos eleitores dizem que ainda poderão mudar seu voto.

Verificando-se o destino no segundo turno dos votos do primeiro, a incerteza aumenta para todos os lados. 85% dos eleitores de Mélenchon dizem que votarão em Hollande; 11% não sabem ou não declaram o voto, e 4% dizem que votarão em Sarkozy (!). Com os eleitores de Bayrou, a divisão é grande: 42 % dizem que votarão em Hollande, enquanto 39% declaram o voto em Sarkozy. Entre os eleitores de Le Pen também há surpresas: 53% dizem que votarão em Sarkozy, mas 14% dizem que votarão em Hollande (!).

Esses números mostram que a rejeição a Sarkozy é muito grande. Por outro lado, sua tarefa é mais simples, e sua campanha, que se volta mais e mais para a direita tem demonstrado isso: ele tem que atrair votos nesse campo, sejam os de Le Pen, sejam os de Bayrou. Já Hollande está numa situação de cisalhamento (entre forças opostas): confirmar a atração dos eleitores de Mélenchon e ao mesmo tempo continuar atraindo, através da rejeição a Sarkozy, os eleitores de Bayrou.

Oitenta e um porcento dos eleitores dizem que vao comparecer às urnas. Isso é importante, porque uma das práticas comuns na Europa é a deserção dos candidatos se seus eleitores tradicionais estão insatisfeitos com eles. Ou seja, se sempre voto nos socialistas, por exemplo, mas estou decepcionado com eles (como aconteceu na Grécia, na Espanha e em Portugal), isso não significa que votarei em outro partido, mas simpesmente que não irei votar.

Um dado preocupante: Le Pen lidera entre os jovens de 18 a 24 anos. É o futuro que está a perigo.

* Flávio Aguiar é correspondente internacional da Carta Maior em Berlim.