Nassif: a prescrição Veja para remédios antiaids

Não é de hoje que a revista Veja monta matérias no mínimo suspeitas sobre medicamentos.

Por Luiz Nassif

Quando preparava a série sobre a Veja, deparei-me com uma matéria estranha, de um remédio antiaids da Pfizer que a revista – sem o respaldo de uma fonte científica sequer – sugeria para compor o coquetel antiaids do Ministério da Saúde.

Era uma reportagem comum, não um artigo científico, assinada por uma repórter sem formação médica (http://veja.abril.com.br/150807/p_101.shtml).

Falava das maravilhas de um novo princípio ativo da Pfizer, que traria avanços consideráveis no combate à aids, o Maraviroc.

Nos EUA, o FDA acabara de aprovar a droga. No Brasil, a Anvisa atuou de forma surpreendentemente rápida, aprovando-a no mesmo ano.

E aí, uma repórter sem nenhuma especialização na área médica, sem pesquisar sites especializados no assunto, sem recorrer a uma fonte médica sequer, sugere que o remédio passe a integrar o coquetel antiaids do Ministério da Saúde.

A matéria fecha com isso:

"É muito provável, de acordo com os médicos, que as duas novas classes de drogas antiaids logo venham a fazer parte desse cardápio farmacêutico (o coquetel antiaids do Ministério da Saúde, sonho de todo laboratório que produz antivirais)".

A fonte da revista são "os médicos".

O que estava por trás desse soluço científico da revista?

A medicação só é eficaz para pacientes que possuam um determinado co-receptor. Na época, nem o Ministério da Saúde nem a Sociedade Brasileira de Infectologia concordavam com a inclusão do novo princípio ativo, justamente devido ao fato de se exigir o teste prévio do paciente, oferecido por apenas um laboratório norte-americano associado à Pfizer.

Havia um conflito latente, discussões técnicas no Ministério da Saúde e em organismos científicos. Aí a empresa monta essa estratégia de se valer de uma revista sem nenhuma base científica, para "sugerir" ao Ministério a adoção do remédio.

Fonte: Blog do Nassif