Coalizão em Israel não sinaliza mudança para Palestina

O líder da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, pediu nesta terça (8) ao novo governo israelense de coalizão, formado pela entrada do partido Kadima, que "aproveite a oportunidade" para firmar um acordo de paz.

Em declarações à agência oficial "Wafa", o porta-voz de Abbas, Nabil Abu Rudeina, pediu que a nova coalizão seja "de paz" e "não de guerra" porque esta é "a única via possível para enfrentar os grandes perigos que a região do Oriente Médio encara". Ele reiterou a demanda palestina de que Israel paralise a construção de assentamentos judaicos nos territórios ocupados de Jerusalém Oriental e Cisjordânia.

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 Em declarações à Agência Efe, o porta-voz do governo palestino, Ghassan al Khatib, diminuiu a importância da decisão, que implica no cancelamento das eleições antecipadas. "O que vemos agora é só a expansão dos assentamentos. Israel não quer entrar em nenhum processo de paz por si mesma. Por isso, não levaremos a sério nenhuma declaração de Netanyahu ou de Mofaz", disse Khatib.

Ao anunciar que o Kadima integraria o governo, o líder do partido, Mofaz, disse que iria apresentar “novas ideias” ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. No passado, o líder do Kadima sugeriu a busca por um acordo provisório com os palestinos sobre questões relativas à segurança e à fronteira, enquanto um acordo final continua sendo negociado.

No Brasil, o fundador do Comitê Nacional Palestina Já, Emir Mourad, avalia que a unidade entre os partidos de Israel vem para atender a questões internas. Ao Vermelho, ele afirmou que também não enxerga um impacto de curto prazo na política israelense para a Palestina.

"O que aconteceu foi uma articulação da política interna, uma jogada política do governo israelense que deu certo", disse Mourad. Segundo ele, há um mês, quando substituiu a ex-chanceler Tzipi Livni como chefe do Kadima, Shaul Mofaz havia dito que de maneira nenhuma faria alianças para integrar o governo. Mas, diante de pesquisas que mostravam uma redução do número de cadeiras do partido, caso houvesse eleição antecipada em setembro, ele mudou de ideia.

"As pesquisas apontavam que, se o governo convocasse eleições antecipadas em setembro, o Kadima, que possui 28 cadeiras, passaria a ter apenas 15. Então a adesão ao governo foi uma manobra para salvar um partido. E, por hora, não tem interesse especial para os palestinos. Vejo mais como uma jogada da política interna que como a possibilidade de alavancar um processo de paz", disse Mourad.

De acordo com ele, os palestinos continuam querendo negociar, mas, para isso, Israel precisa parar de construir assentamentos, mostrando disposição para o diálogo.

"Vamos ver o que eles vão propor de fato. Não vejo muita perspectiva de curto prazo. O que se vê é Israel construindo mais e mais assentamentos", afirmou Mourad, que questionou a seriedade de Mofaz, uma vez que ele voltou atrás em relação à aliança com o governo. "Por enquanto, são apenas palavras. Por hora, é uma situação que, para os palestinos, é como Pepsi e Coca-cola, não muda muito. O histórico israelense leva a crer que não haverá mudança. Não estou otimista", opinou.

Indagado se poderia, ao contrário, haver uma radicalização da política israelense para a Palestina, Mourad defendeu que é difícil ficar pior do que como está, mas não descartou nenhum cenário. Ele lembrou que a mudança no governo de Israel ocorre em um contexto pré-eleitoral nos Estados Unidos. Segundo o ativista pró-Palestina, pode ocorrer um aumento da pressão do lobby sionista em favor de uma posição de Barack Obama ainda pior em relação à Palestina.

Com agências,
Joana Rozowykwiat