"Operador do trem evitou o pior", afirmam metroviários de SP

O grave acidente que aconteceu na manhã desta quarta-feira (16) na linha 3-Vermelha do Metrô de São Paulo foi causado por uma falha mecânica na sinalização da velocidade da via. Esse é mais um sinal de que algo vai mal no metrô da capital paulista. "Só não foi pior porque havia um operador no trem. E se fosse na linha amarela que não tem operador?", indaga o dirigente da Federação Nacional dos metroviários (Fenametro), Wagner Fajardo.

O fato é atribuído à falta de investimento na melhoria da manutenção. Essa será uma das pautas da assembleia que acontece hoje, às 18h30. A expectativa é que a categoria aprove o indicativo de greve para a próxima semana.

O acidente de hoje envolveu dois trens do Metrô na Linha 3 Vermelha, que liga a estação Palmeiras- Barra Funda, zona oeste, à Corinthians-Itaquera, na zona leste e deixou 33 pessoas feridas. Poderia ter sido pior se o operador de um dos trens não tivesse interefido. A colisão foi por volta das 9h50, entre as estações Tatuapé e Carrão.

Os usuários tiveram que sair imediatamente dos trens, inclusive pelas janelas, segundo a assessoria do Metrô. Já os passageiros que se acidentaram, foram socorridos por agentes de segurança do Metrô, corpo de bombeiros e Samu.A situação, segundo a empresa, já foi normalizada. Mas, "em razão dessa ocorrência, os trens das linhas 1-Azul e 2-Verde operam com velocidade reduzida. A Linha 5-Lilás funciona normalmente.", afirma em sua página na internet.

"Foi uma falha na sinalização da velocidade. Os trens operam no sistema automático de velocidade. A sorte é que o operador do trem viu o outro trem na frente dele e assumiu o sistema de emergência, conseguindo reduzir a velocidade, mas não impedindo a batida", declarou ao Vermelho Alexandre Roldan, diretor do Sindicato dos Metroviários de SP. Ele lembrou que em torno das 8h, uma falha mecânica já havia sido notificada pelo operador.

"Isso é um reflexo da política atual do governo, que precisa investir mais em manutenção e não faz", completou o dirigente do sindicato. (leia campanha da federação, abaixo)

Noventa e nove panes no metrô e 124 na CPTM

As causas do acidente ainda serão apuradas. Mas este não foi o único a ocorrer nos últimos anos. Segundo um levantamento da assessoria da bancada do PT no Assembléia Legislativa, até a manhã de hoje foram registrados 99 panes graves nas linhas do metrô e 124 nas linhas ferroviárias da Companhia Paulista de Transporte Metropolitano (CPTM) – computados a partir de dezembro de 2007.

"O PSDB está há 20 anos no comando e tem desmantelado o plano da cidade que era de priorizar o transporte de massa, com metrô. Estão fazendo escolhas erradas desde o início da administração. Agora, querem substituir o metrô pelo VLT (Veículo Leve sobr eTrilhos). O VLT que ligará a Vila prudente à Cidade Tiradentes já nasce deficiente, não dará conta da demanda", alerta o dirigente da Fenametro, que também é da base dos metroviários.

Em 2011, dos R$ 4,5 bilhões previstos para a expansão do metrô, Alckmin executou somente R$ 1,2 bilhão. Já na CPTM houve redução de investimentos na compra de trens de R$ 684 milhões, em 2010, para R$ 260 milhões, em 2011 (corte de 56%).

Greve

Os trabalhadores do metrô em São Paulo devem votar hoje se vão entrar em estado de greve, período que antecede a paralisação.

"A nossa expectativa é que hoje seja votado o indicativo de greve para a próxima semana. Ainda não temos a data acertada. Fecharemos isso na assembleia", adiantou ao Vermelho o diretor do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, Alexandre Roldan.

Os trabalhadores reivindicam 5,13% de reajuste, aumento real de 14,99%. Também consta na pauta plano de carreira para aposentados, incluindo plano de saúde; concurso interno; reajuste de 23,44% no vale-refeição, entre outros pontos. Também reivindicam melhoria no plano de saúde dos ativos.

O Metrô-SP foi procurado e não retornou o contato até o fechamento desta. A contraproposta do patronal, segundo o sindicato, foi de 4,65%, sendo 4,15% de reajuste e 0,50% de produtividade.

Atualmente, os metroviários estão de braços cruzados em cinco grandes capitais. (Belo Horizonte, Maceió, João Pessoa, Natal e Recife). Todos os metrôs em greve são ligados a Companhia Brasileira de Transportes Urbanos (CBTU), que está submetida ao governo federal. A CBTU afirma que o governo federal não autorizou conceder reajustes salariais neste ano para o funcionalismo. O Ministério das Cidades foi procurado mas não retornou.

"Os governos, federal, estadual e municipal, não têm feito nada para melhorar a situação. Pelo contrário, o governo federal têm estimulado as PPPs (parcerias público privadas) e, por conta disso, há uma piora no sistema público. Os trabalhadores estão indignados porque reajuste zero não dá", explica Fajardo.

Outras assembleias da categoria estão previstas para acontecer durante o dia de hoje.

2% do PIB para o metrô

"Dois por cento do PIB (Produto Interno Bruto) para garantir metrô e trem estatais, de qualidade para todos, com tarifa reduzida (social)". Essa é a bandeira da Fenametro para a campanha salarial deste ano, que atribui o aumento das tarifas à privatização em alguns trechos.

"Cabe à federação denunciar e cobrar dos governos mais investimentos. Os sistemas estão superlotados e cobrando passagens muito caras. O que resolve o problema estrutural nas grandes cidades é investimento maciço em transportes de massa, no metrô. O que vem sendo feito é insuficiente. Essa é uma luta nossa", declara Wagner Fajardo, da Fenametro, que também denuncia o "sufoco pelo qual a população passa, diariamente, nos transportes, com superlotação, demora e falhas".

Os metroviários e ferroviários do país estão se mobilizando por mais investimento no setor metroferroviário para sanar as deficiências.

Deborah Moreira
Da redação do Vermelho S. Paulo, com informações do Blog do Miro